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Daimon e o Destino

qual é a minha vocação por James Hillman

James Hillman em seu livro O Código do Ser – Teoria do fruto do carvalho, fala da vocação, destino, caráter, e sobre imagem inata. E eu, invocando Jung, diria também, do Mito do Significado de cada um de nós, ou seja, desta singularidade que pede para ser vivida e que já está presente antes de poder ser vivida. Do Daimon; anjo da guarda; alma; gênio; imago; jinn; espírito… É ele o portador do nosso destino. Ideia trazida de Platão através do Mito de Er no livro da República.

Hillman diz que o daimon nos acompanha para que nossa vocação seja vivida, tornando-se um chamado necessário para a realização existencial. Ele, sugere que prestemos atenção na infância, nos primeiros sinais do daimon em ação, com o propósito de entendermos suas ações e não bloqueá-lo. Alerta para a deficiência da pedagogia e psicologia do nosso tempo que tentam moldar a criança para o mundo e não o contrário.

Em um mundo doente qual a vantagem de se ter uma criança adaptada? Em um mundo tão esquizofrênico, tão sem alma, haverá vantagem em criarmos filhos adaptados? Mas se não forem adaptados conseguirão viver sem sofrimento?

A Antroposofia, que tem ramos como a Medicina Antroposófica e a Pedagogia Antroposófica ou Pedagogia Waldorf, também fala da presença do anjo da guarda acompanhando a evolução de cada ser. Ele é o portador do plano ideal e das decisões para esta existência, acompanha o indivíduo guardando e protegendo. Uma porcentagem muito grande de indivíduos acredita em anjos da guarda, no mundo todo, em todos os tempos e em várias religiões, o guardião do ser para o vir a ser. Um daimon.

Nosso ego sempre vive o conflito consciente/inconsciente, onde demandas opostas clamam por existir, essa pressão pode levar a caminhos, muitas vezes, diversos àqueles que planejávamos por longos tempos. Com o tempo acabamos por descobrir que fora a melhor das escolhas, mas quem escolheu em nós? Que sombra atuou? Foi o daimon? Foi o Self?

Jung, 16-11-1959 Cartas :

Quando digo que não preciso crer em Deus porque eu “sei”, quero dizer que sei da existência de imagens de Deus em geral e em particular. Eu sei que é assunto de experiência universal e, como não sou exceção, sei que também tenho tal experiência que eu chamo Deus. É a experiência de minha vontade contra uma outra vontade, muitas vezes mais forte, que cruza meu caminho com resultados aparentemente desastrosos, colocando ideias estranhas em minha cabeça e manobrando meu destino às vezes para uma direção indesejável ou dando-lhe desvios inesperadamente favoráveis, sem meu conhecimento ou intenção. A força estranha contra ou a favor de minhas tendências conscientes me é bem conhecida. E por isso eu digo: “Eu sei”. Mas por que chamar este algo de “Deus”? Eu perguntaria: “Por que não”? Sempre foi chamado “Deus”. Um nome excelente e muito apropriado. Quem poderia dizer em sã consciência que sua vida e destino foram obra exclusiva de seu plano consciente? Temos nós um quadro completo do mundo? Milhões de condições estão na verdade além de nosso controle. Em várias ocasiões nossas vidas poderiam ter tomado um rumo bem diferente. As pessoas que acreditam que dirigem seu destino são em geral escravas dele…Eu sei o que quero, mas tenho dúvidas e incertezas se o Alguma Coisa é da mesma opinião ou não.

Teilhard de Chardim nos aponta para o Ponto Ômega, destino da humanidade, criado por Deus desde sempre. A teoria do Caos traz a ideia de atrator, que os cientistas mais conservadores e céticos, como David Ruelle entendem como atratores estranhos, uma ideia da qual ainda se busca a fórmula matemática, e na visão de outros membros da Ciência Holística nos aponta para um Atrator Cósmico, que desde o princípio nos atrai para nosso destino de plenitude e completude. No plano individual Jung nos aponta para o processo de Individuação, sentido teleológico onde a realização plena do si-mesmo, ou Self, nos atrai para a plenitude da nossa existência e realização que é diferente de individualidade, egocentrada e apartada do social, mas um processo que aponta para o coletivo, buscando compreender os anseios do ser humano e suas projeções sociais, sendo assim como uma ponte entre o Self e o Self cósmico.

A ideia de totalidade, de unidade, permeia todo o Cosmos. Como diziam os pitagóricos o Um é o princípio criador e a multiplicidade numérica é a manifestação expressa na criação. É a “hipótese de Deus” que Teilhard de Chardim relata em relação aos cosmologistas modernos, dentre eles Paul Davies , que diz:

“Não posso acreditar que nossa existência neste universo seja uma mera peculiaridade do destino, um acidente da história, um grito incidental no grande teatro cósmico. Nosso envolvimento é íntimo demais. A espécie Homo pode não importar nada, mas a existência da mente em algum organismo em algum planeta do universo é certamente um fato fundamentalmente significativo. Através dos seres conscientes o universo gerou autoconsciência. Isto não pode ser um detalhe banal, um subproduto menor de forças indiferentes e sem objetivo. Nossa existência é intencional”.

A autoconsciência permite ao homem um novo-olhar que possibilita a compreensão de si mesmo e do universo, porque somos a flecha ascendente da grande síntese biológica. Mesmo assim, a evolução não pára e o próprio Homem torna-se evolução, por meio do Caos e da busca da nova ordem. Por isso, quando a vida der uma grande guinada, entregue-se e confie, faça acontecer o melhor porque não importa o caminho e os percalços, mas o destino. Nosso ego não o conhece, mas nosso Self sim.

Autora: Profa Dra. Ercilia Simone D. Magaldi

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