É interessante constatarmos que estas características humanas, quando presentes, podem transformar a vida da pessoa e de seu entorno. Motivação está ligada ao conceito de movimento como emoção, palavras advindas do latim: movere e emovere – mover-se para dentro e para fora simultaneamente. Por isso, quando não existe um alinhamento harmonioso entre o que está dentro, a dimensão instintiva, voltada para a manutenção da vida biológica, e o que está fora, os vínculos relacionais na direção da evolução psicológica, com seu potencial anímico e espiritual, surgem os conflitos neuróticos e a ameaça do fracasso existencial.
Autoestima, por sua vez, envolve confiança e crenças autossignificantes de autoaceitação e amor próprio, somadas à certeza de que está a serviço de algo maior. Com isso, chegamos ao conceito de fé, que proporciona sentido e significado existencial, despertando o altruísmo pela consciência do servir para ser. Neste sentido, acredito que a união da motivação com a autoestima é o entusiasmo, do grego en + theos – em Deus.
A atual condição humana, voltada apenas para a manutenção da vida biológica, dessacralizada, competitiva e egoísta, quase que interdita o surgimento do entusiasmo. A vida biológica, Bios, é finita e destrutível e só se mantém consumindo outra vida biológica. Literalmente, matamos para não morrer, comemos para não sermos comidos, mas sabemos que um dia perderemos essa luta. Esquecemos que a vida psíquica, Zoé, é infinita e indestrutível. Esta situação alienante gera angústia e medo e, infelizmente, o homem contemporâneo, tomado por esta infelicidade comum, ao invés de seguir o caminho da religação ao si mesmo, resgatando sua alma, acabou iludidamente, tomado pelo desejo de poder.
O poder é antagônico ao amor, ele necessita de acúmulo e defesas, para ter a sensação de controle. Onde um está o outro desaparece. Essa condição de necessidade de poder desperta mais angústia e ansiedade, criando o ciclo vicioso que desemboca nas doenças psíquicas, como a depressão, e físicas como o câncer. Atualmente a medicina psicossomática, que constata que todos os sintomas de adoecimento são reflexos das emoções destrutivas, de baixa autoestima e falta de motivação para a vida. Ou seja, a perda do entusiasmo.
O educador, nesta perspectiva, precisa resgatar o entusiasmo para poder despertar este sentimento nos seus educandos. Essa é uma empreitada hercúlea, porque os governos, totalmente engajados na dimensão do poder, desprezam a educação, deixando de valorizar tanto os educadores, quanto a própria educação, no sentido de estimular a crítica reflexiva diante desta realidade materialista. Porque assim o poder continua perpetuado. Daí que surge a necessidade de engajamento dos educadores, como agentes revolucionários, para exigir valor para eles e para a educação. Está é a única possibilidade de revertermos esta situação insustentável de iniquidades e desigualdades.
Quem é o educador? Porque um indivíduo resolve dedicar sua vida para educar as outras pessoas? Será que ele se acha superior, mais conhecedor e capaz frente às demais pessoas e, por isso, se dedica a essa prática? Mas, se é essa a sua razão porque ele se sujeita a tantos maus tratos, desprestígio e baixa remuneração? O educador escolheu ou foi escolhido para exercer a sua profissão? Do que adianta pensarmos em construir um mundo melhor se não deixarmos herdeiros melhores para esse mundo? Ensinamos para que o aluno se sirva do aprendizado ou passe a servir melhor graças ao que aprendeu?
Diante destas perguntas acredito que todo educador vocacionado sabe que sua profissão é missionária, ou seja, ele está sob uma missão maior que é a de ser um agente de transformação. Porém, como a neuropsicologia nos ensina, toda vez que um ser humano é exposto a algum tipo de mudança ele sai da zona do conforto, ou seja, seu circuito de gratificação e recompensa dá lugar ao circuito de aversão, medo, punição e exclusão. Deve ser essa a razão que justifica a sociedade, com a conivência da maioria silenciosa que somos nós, contribuir ou ficar omissa na transformação do educador missionário, que é vocacionado, em um indivíduo submisso, desqualificado e excluído!
Educar deveria ser o fim ultimo de todo ser humano. Creio que não existe profissão mais nobre e importante. Contribuir para o aprimoramento humano é sagrado. Quem está neste chamado precisa reconhecer seu valor e missão, para poder exigir que seu entorno relacional também reconheça. Ninguém pode dar o que não tem, mas também não receberá o que não deu. Ou seja, só um educador motivado e com boa autoestima poderá despertar a motivação e a autoestima de seus educandos, reestabelecendo o ciclo virtuoso, que valoriza o educador e a educação, colocando-os em primeiro lugar na escala de prioridades para que a humanidade passe a ser mais consequente, amorosa e altruísta.
Mas, para que isso possa acontecer, é necessário, antes de tudo, o investimento maciço no autoconhecimento do educador, para que ele adquira a autoconsciência porque, só quando sofrermos o choque de ver a nós mesmos como realmente somos (e não como gostaríamos ou esperançosamente presumimos ser), é que poderemos dar o primeiro passo em direção à realidade individual. O objetivo desta auto-observação desperta a capacidade de modificar a nós mesmos, tornando-nos agentes da mudança, começando a sacrificar todo tipo de sofrimento! Existe algo mais fácil a sacrificar? Porém, com a atual educação da manutenção da opressão e do oprimido, aprendemos e ficamos condicionados em sacrificam tudo, exceto nossas emoções negativas e as crenças necessárias parra a manutenção desta situação desigual. Não há prazer nem gozo que não estamos pronto a sacrificar por razões fúteis, mas jamais sacrificamos nosso sofrimento. Isso nos dá a ilusão de valor, apesar de aprisionados se sem mobilidade sociocultural.