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Mudança de comportamento como chave para a busca da saúde integral – corpo, mente e alma

Mudança de comportamento como chave para a busca da saúde integral – corpo, mente e alma

Mudança de comportamento como chave para a busca da saúde integral – corpo, mente e alma

“A maior batalha que travará com a sua saúde não será contra o corpo; será contra a mente” – (Dr Suhas Kshirsagar)

Para a compreensão do conceito de saúde integral, devemos lembrar que nós somos um sistema complexo que para funcionar precisa estar em harmonia com todas as pequenas partes, órgãos, funções e emoções. Esta engrenagem de corpo – alma – mente precisa estar em equilíbrio para a saúde se instalar no nosso corpo, seja no campo físico ou mental. 

Tanto na visão da Psicossomática quanto no Ayurveda (entre tantas outras terapias que compartilham a visão da saúde integral) corpo e mente não são aspectos que se separam quando falamos sobre saúde nem sobre o processo de adoecimento. Se temos a formação de sintomas, temos um desequilíbrio neste nosso sistema integral, não importando o local primário da manifestação dos primeiros sinais. Jung aborda a ligação da saúde do corpo e psíquica em suas obras completas:

“Um funcionamento inadequado da psique pode causar tremendos prejuízos ao corpo, da mesma forma que, inversamente, um sofrimento corporal pode afetar a psique; pois a psique e o corpo não estão separados, mas são animados por uma mesma vida. Assim sendo, é rara a doença corporal que não revele complicações psíquicas, mesmo quando não seja psiquicamente causada” (Jung, 2012, §194)

Desta forma, “há uma tendência para se considerar todas as doenças como sendo psicossomáticas, na medida em que elas envolvem a inter-relação contínua entre corpo e mente na sua origem, desenvolvimento e cura” (Ramos, 1994, p36). E é esta visão integral que nos faz entender como que a nossa rotina agitada e estressante proporciona uma desconexão com o nosso próprio corpo. Não percebemos mais quando estamos chegando ao nosso limite, quando precisamos descansar, quando algo não nos está fazendo bem e por isso, temos um prato cheio de sintomas aparecendo diariamente no nosso consultório ou mesmo nos encontros com amigos. 

Não se tem mais idade limite nem pré-disposição genética para somatizar algo. Sintomas que são comuns nos dias de hoje – ansiedade, depressão, sobrepeso, alergias etc. – estão sendo encarados como algo normal. Só esquecemos que nem tudo que é comum é normal. Não é normal o corpo não ter energia para executar as tarefas do dia a dia, não é normal o corpo não conseguir descansar depois de um dia intenso de trabalho, não é normal sentir dores, não é normal se sentir angustiada a cada nova tarefa do dia. Não é normal viver em processo de adoecimento. Mas está muito comum.

Nosso corpo é um sistema complexo e inteligente que consegue por si só se autorregular para manter o estado normal de saúde e bem-estar. Mas sabemos também que nossa vida naturalmente irá nos desequilibrar pois nossas demandas diárias propõem também uma desordem a esta ordem. Logo, podemos entender que no exercício natural de saúde não devemos nos blindar diante da vida, mas deveríamos naturalmente voltar ao nosso equilíbrio saudável, funcionando dentro de cada realidade e possibilidades. Impossível achar que vamos ficar imunes a tudo o que acontece à nossa volta, mas devemos sempre voltar para o que seria o nosso estado natural saudável. 

“Doença e saúde são conceitos singulares, pois se referem a um estado das pessoas, e não, como se costuma dizer hoje com frequência, a órgãos ou partes do corpo. O corpo nunca está só doente ou só saudável, visto que nele se expressam realmente as informações da consciência”. (Dethlefsen, 2007, p14)

Para ficar mais claro o meu raciocínio, vou dar alguns exemplos. Nem sempre vamos conseguir comer apenas alimentos orgânicos, frescos, preparados na hora com pouca gordura; nem sempre vamos conseguir estar em meio a natureza purificando nossos pulmões e acalmando nosso olhar; nem sempre será possível trabalhar numa carga horária que dê para desligar tudo e se preparar para relaxar junto com o pôr do sol; nem sempre conseguiremos dormir cedo para levantar dispostos e descansados cedinho na manhã; por isso precisamos ter consciência do nosso corpo e do que é saudável para conseguir auto regular essas condições, conseguindo fazer limpezas físicas e mentais, tanto externas quanto a nível celular. Você já deve ter lido inúmeras reportagens falando que para sermos saudáveis nós precisamos dormir no mínimo 8 horas diárias, certo? E se eu te disser que esta não é uma regra pois mais do que horas cronológicas, devemos nos certificar sobre a qualidade dessas horas – para a saúde, a qualidade tem que prevalecer em relação a quantidade de horas dormidas. Tem gente que precisa de 7 horas bem dormidas para se sentir disposto no dia seguinte, outras precisam de um pouco mais. Quantos adolescentes que dormem de 10 horas para mais acordam sem pique, desmotivados, sem fome…e dormiram mais do que as 8 horas mínimas recomendadas? 

Cada um de nós tem um corpo que funciona melhor em condições específicas; cada corpo vai precisar se equilibrar ao ambiente, rotina, clima e emoção se quiser ter bem-estar mesmo em momentos em que a nossa rotina ideal não for possível. 

Quando um sintoma se manifesta no corpo, fica mais fácil identificar e ir atrás de uma solução. Muitos tomam medicamentos para excluir aquele incômodo e não percebem que a melhora é pontual e normalmente volta – se não pior – da mesma forma que a última crise. Isso se dá pela cultura de olhar os sintomas e tratar apenas essas consequências. Nós tiramos a dor, nós paramos uma diarreia, nós anestesiamos uma emoção ruim e por aí seguimos até o próximo desconforto. Transformamos eventos agudos e pontuais – que serviriam para nos sinalizar que algo nos fez mal, que perdemos o nosso equilíbrio e, através dos sintomas, nosso corpo busca se auto limpar, autorregular, detoxificar como forma de recuperar a ordem, – em sintomas crônicos, perenes e profundos – demonstrando o agravamento desta desregulagem, passando de uma simples disfunção para uma lesão ou destruição celular. 

Numa visão integral, devemos atuar na consequência (sintomas/ queixa) enquanto também buscamos a sua causa. Duas pessoas podem chegar e relatar os mesmos desconfortos, num quadro muito similar de queixa, porém, com causas totalmente diferentes. Como exemplo, podemos falar sobre a depressão. Nem toda depressão é causada por um desequilíbrio químico emocional, ela também pode ser causada por um desequilíbrio fisiológico no organismo. Além de ser desencadeada por situações psíquicas, já se tem evidencias que também podem ser provocadas pelo uso de alguns medicamentos ou por instabilidades hormonais e nutricionais. Mas, quando vamos pedir ajuda a algum médico ou quando recebemos o paciente em nosso consultório, vamos receber relatos de sintomas muito semelhantes. O trabalho de investigação da causa mudaria todo o tratamento, inclusive, a eficácia da resposta ao tratamento já que atuaríamos exatamente no que provoca e não apenas no que incomoda. 

É certo que, quando acertamos o gatilho de qualquer queixa – seja emocional ou física – tomamos consciência do que estamos fazendo ou do que deixamos de fazer para amenizar ou eliminar o desequilíbrio. Passamos a nos conhecer mais, a compreender o que de fato nos ajuda ou nos agride pedindo ações que provoquem mudanças necessárias para o nosso bem-estar. No entanto, é aqui que se encontra a maior das barreiras num processo de busca pela saúde: a mudança de comportamento. 

Por mais que esteja claro que um determinado tipo de alimento nos traz desconforto, resistimos a tirar ele do nosso cardápio com justificativas infinitas para não ter que mudar. Quando torna-se evidente o quanto uma situação específica enfraquece o emocional e desperta gatilhos que levam à uma ansiedade, por exemplo, não é raro ver uma luta contra si próprio e seus sentimentos na decisão de não fazer escolhas, de não se proteger daquilo que mais o machuca, evitando a exposição ou um clima tenso com o outro, denunciando uma dificuldade em afastar tudo aquilo que fere nessas condições.  

Não basta querer eliminar um sintoma. Não basta decidir que não queremos mais conviver com algum desconforto emocional. É preciso ter consciência do nosso corpo (físico e emocional) e do que ele precisa para que as mudanças sejam de fato efetuadas. Sem este alinhamento, dificilmente conseguiremos mudar um comportamento já instalado. 

“As pessoas supõem que podem recorrer apenas à força de vontade para mudar, que podem usar a mente para forçar o corpo a deixar os maus hábitos. Na verdade, seus hábitos funcionam ao contrário. Seu corpo lhe dá todo tipo de dica sobre do que realmente precisa, mas durante muitos anos você pegou essas dicas e as transformou em emoções subjetivas, sob a forma de anseios e hábitos. Para rompê-los, é preciso se sintonizar com o corpo e sua fonte de dados brutos.” (Kshirsagar, 2020, p46)

A chave de todo processo de cura está numa mudança de comportamento. E, para a gente conseguir mudar nossos hábitos, é preciso vencer as barreiras da mente, dos condicionamentos. Conforme explica o Dr Suhas, “se conseguir equilibrar seus pensamentos e escutar o seu corpo, você estará no quadro mental certo para mudar de vida”. (Kshirsagar, 2020, p45). Quando precisamos olhar para nosso emocional e mudar atitudes que sabemos que atuam nas nossas sombras, achamos difícil demais. Quando precisamos fazer ajustes pragmáticos de situações que influenciam diretamente no nosso organismo, justificamos o porquê de nos manter na situação. Se a mente não entender a importância de mudar e auxiliar esses processos – psíquicos ou físicos – e diariamente, com consciência, fazer escolhas que nos beneficiam, continuaremos a fazer a manutenção das consequências alimentando os padrões que provocam as causas de todo adoecimento. 

“Por meio da autoconsciência, a mente pode usar o cérebro para gerar “moléculas de emoção” e agir sobre todo o sistema. Enquanto o uso apropriado da consciência pode tornar um corpo doente mais saudável, o controle inconsciente inapropriado das emoções pode causar muitas doenças (…).” (Lipton, 2007 p156)

O ideal ayurvédico – que pode ser adaptado a diversas outras linhas – de trazer para o cotidiano a análise do estilo de vida em que fomos criados, buscando consciência diária da nossa mente, do nosso corpo e das circunstâncias mutáveis precisa ser ensinado e treinado. Sem esta auto-observação, como vamos mudar padrões de comportamentos que nos levaram ao estado que nos encontramos hoje?

Nós não ficamos doentes da noite para o dia. Por pior que seja uma condição, se ela for pontual, não terá a capacidade de adoecer todo o sistema de forma crônica. A busca pela saúde e bem-estar se dá por tudo aquilo que fazemos diariamente, ao longo do tempo. Pequenas ações contínuas podem melhorar ou piorar um estado de saúde mais do que algo pontual. Podemos presenciar uma cena que nos abala emocionalmente de forma aguda e isso será mais fácil de olhar e trabalhar do que constantes pequenos abusos sofridos por uma pessoa ao longo de anos. Um dia de excessos com comidas e bebidas é mais fácil de manejar e restaurar do que uma vida inteira com hábitos nocivos e destrutivos. Mas só conseguiremos atuar numa melhora contínua se tivermos a mente forte o suficiente para instalar novos hábitos que mudarão o comportamento diário. 

Como podem perceber, tudo influencia a nossa saúde. E para ter saúde, devemos cuidar do nosso corpo, da nossa mente, dos nossos pensamentos, dos nossos hábitos, dos lugares que frequentamos, das pessoas com que convivemos. Se quisermos levar uma vida saudável, devemos cuidar para que todos os pontos de contato sejam também saudáveis, deixando para as variáveis que naturalmente vão nos desorganizar apenas aquilo que não podemos mudar. 

“Na última década, as pesquisas epigenéticas estabeleceram que os padrões de DNA passados por meio dos genes não são definitivos, isto é, os genes não comandam nosso destino! Influências ambientais como nutrição, estresse e emoções podem influenciar os genes ainda que não causem modificações em sua estrutura. Os epigeneticistas já descobriram que essas modificações podem ser passadas para as gerações futuras da mesma maneira que o padrão de DNA é passado pela dupla espiral”. (Lipton, 2007. p82)

Não são os nossos genes, nem as situações que tivemos que viver ao longo das nossas vidas que vão determinar o nosso futuro. Por mais que eles possam influenciar fortemente uma condição, nós podemos mudar e fazer novas escolhas, mudando assim sintomas e complexos que nos adoecem. Gosto muito da frase do Bruce Lipton aponta logo na apresentação do seu livro Biologia da Crença: “assim como cada célula, o destino de nossa vida é determinado não por nossos genes, mas por nossas respostas aos sinais do meio ambiente que impulsionam e controlam todos os tipos de vida”. (p.16)

Se eu não sou o resultado somente daquilo que me acontece, mas principalmente de como eu respondo àquilo que me acontece, posso trabalhar minha mente e meu comportamento para lapidar pouco a pouco a forma como vou responder aos eventos que me acontecem. 

Apenas neste trabalho em conjunto, mente e corpo, meus hábitos cada vez mais conscientes serão a chave para a busca da saúde e do bem-estar, mesmo nos altos e baixos saudáveis da vida. Nosso comportamento será o resultado das nossas escolhas diárias e constantes. Mude seu comportamento e mude seu padrão de saúde. 

Marcella Helena Ferreira – Analista junguiana em formação

Maria Cristina Guarnieri – Analista Didata

Referências:

DETHLEFSEN, Thorwald. A doença como caminho: uma visão nova da cura como ponto de mutação em quem um mal se deixa transformar em bem. – São Paulo: Cultrix, 2007

JUNG, Carl Gustav. Psicologia do Inconsciente. 21 ed.Vol. 7/1 – Petrópolis: Vozes, 2012

KSHIRSAGAR, Suhas. Mude seus horários, mude sua vida – Rio de Janeiro: Sextante, 2020

LIPTON, Bruce H. A biologia da Crença: ciência e espiritualidade na mesma sintonia: o poder da consciência sobre a matéria e os milagres – São Paulo: Butterfly Editora, 2007

RAMOS, Denise Gimenez. A Psique do corpo: uma compreensão simbólica da doença – São Paulo: Summus, 1994

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