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O Hiperconsumismo e a busca de sentido na vida contemporânea

O hiperconsumismo emerge como um desafio preponderante nas sociedades contemporâneas, onde a cultura de consumo exacerba a busca por satisfação emocional e de identidade. Este comportamento impulsivo é frequentemente uma resposta psicológica ao tédio existencial e à falta de significado, conforme observado nas análises de Jung, Von Franz, Bauman e outros teóricos, que relacionam a desconexão do inconsciente à crescente insatisfação da vida moderna. Nesse contexto, a ênfase na aquisição de bens torna-se um mecanismo ilusório de preenchimento emocional, ressaltando a urgência de um processo de individuação que permita ao indivíduo reconhecer sua responsabilidade na construção de uma vida com propósito. A reformulação da relação com o consumo se apresenta, portanto, não apenas como uma necessidade crítica, mas como uma estratégia vital para a realização de uma existência integrada e significativa que considere tanto aspectos racionais quanto os conteúdos simbólicos da psique.

O hiperconsumismo emerge como um desafio preponderante nas sociedades contemporâneas, onde a cultura de consumo exacerba a busca por satisfação emocional e de identidade. Este comportamento impulsivo é frequentemente uma resposta psicológica ao tédio existencial e à falta de significado, conforme observado nas análises de Jung, Von Franz, Bauman e outros teóricos, que relacionam a desconexão do inconsciente à crescente insatisfação da vida moderna. Nesse contexto, a ênfase na aquisição de bens torna-se um mecanismo ilusório de preenchimento emocional, ressaltando a urgência de um processo de individuação que permita ao indivíduo reconhecer sua responsabilidade na construção de uma vida com propósito. A reformulação da relação com o consumo se apresenta, portanto, não apenas como uma necessidade crítica, mas como uma estratégia vital para a realização de uma existência integrada e significativa que considere tanto aspectos racionais quanto os conteúdos simbólicos da psique.

Resumo: O hiperconsumismo emerge como um desafio preponderante nas sociedades contemporâneas, onde a cultura de consumo exacerba a busca por satisfação emocional e de identidade. Este comportamento impulsivo é frequentemente uma resposta psicológica ao tédio existencial e à falta de significado, conforme observado nas análises de Jung, Von Franz, Bauman e outros teóricos, que relacionam a desconexão do inconsciente à crescente insatisfação da vida moderna. Nesse contexto, a ênfase na aquisição de bens torna-se um mecanismo ilusório de preenchimento emocional, ressaltando a urgência de um processo de individuação que permita ao indivíduo reconhecer sua responsabilidade na construção de uma vida com propósito. A reformulação da relação com o consumo se apresenta, portanto, não apenas como uma necessidade crítica, mas como uma estratégia vital para a realização de uma existência integrada e significativa que considere tanto aspectos racionais quanto os conteúdos simbólicos da psique.

Ainda no século XX, o chamado “American way of life” foi exportado para todo o mundo, tendo como principal pilar o consumo exacerbado.

Na contemporaneidade, passadas décadas desde o sonho americano, o consumismo se faz presente nas mais diversas sociedades, representando um dos principais problemas vividos pelos brasileiros. Fatores de ordem social, bem como econômica, caracterizam o dilema do hábito de compras no país.

É importante pontuar, de início, a influência do modo de vida contemporâneo no consumo excessivo dos cidadãos. Pontuado pelo sociólogo Zygmunt Bauman (1999), a modernidade é marcada pela liquidez das relações e por suas aceleradas transformações. Nesse sentido, os indivíduos, imersos em um mundo cada vez mais rápido e estressante, encontram nas compras uma forma de refúgio e recompensa aos desgastes do cotidiano. Tal fator é ratificado por pesquisas recentes do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), em que 35% dos entrevistados admitiram o consumo como seu tipo de lazer favorito.

O que é consumismo?

O consumismo é o hábito de adquirir produtos e serviços sem precisar deles. É a compra pelo desejo, e não pela necessidade.

Geralmente, é marcado pelas compras por impulso e estimuladas pela ansiedade. Em casos mais graves, pode vir a se tornar uma compulsão.

Além disso, o consumismo está ligado à noção de que comprar mais vai trazer sensações de felicidade e prazer momentâneo.

É também resultado da influência de propagandas abusivas, que insistem em relacionar o consumo à felicidade e, muitas vezes, criam uma imposição de necessidades, mostrando como certos produtos ou serviços são capazes de tornar a vida das pessoas melhor.

O maior problema surge quando o consumismo fica tão intenso que evolui para um comportamento compulsivo.

O ser humano civilizado moderno acredita que querer é poder. A sociedade de consumo tem como principal estímulo o ato de consumir e na satisfação antecipada de desejos que caracterizam o consumidor atual não só hedonista, mas também narcisista. O consumo e o ato de consumir são essenciais para a condição digna do ser humano e para a sua necessidade de sobrevivência. Mas a configuração que tem vindo a adquirir nas suas diversas formas de hiperconsumismo leva a centralizar a satisfação dos desejos no ato e na aquisição de bens que são “dados” pela lei da oferta e estratégias de marketing cada vez mais “agressivas”, num mercado concorrencial muito competitivo.

Bauman (2008) ressalta isso quando diz que é a suposta satisfação das necessidades que faz surgir novas necessidades, já que “o desejo não deseja satisfação, ao contrário, deseja o desejo.” (Bauman, 1999, p. 90)

Numa sociedade de consumo como a nossa, o consumidor é um acumulador de sensações: “Para os bons consumidores não é a satisfação das necessidades que atormenta a pessoa, mas os tormentos dos desejos ainda não percebidos nem suspeitados que fazem a promessa ser tão tentadora” (Bauman, 1999, p. 90).

No entendimento de Bauman (2001), outro fator determinante, que motiva o sujeito a consumir, é a inconsistência de todas ou quase todas as identidades; é o que faz o indivíduo ir às compras, como se pudesse também, pelos produtos e serviços ofertados, selecionar a própria identidade. Esse ato de poder escolher a identidade de forma legítima ou quase legítima é que se torna o caminho para a realização das fantasias de identidade. Até que ponto o consumidor é livre para fazer escolhas no que diz respeito à auto identificação pelo uso dos objetos de consumo, de forma autêntica, não é definido.

Essa liberdade não é possível sem os objetos que o mercado oferece. Com base nisso, podemos dizer, novamente, que o ser humano tem buscado cada vez mais o ser pelo ter. Definimos quem somos pelo que possuímos: a nossa casa, nossas roupas de grife e nosso carro do ano falam mais sobre nós do que nós mesmos.

Mas o que pode estar por trás dessa compulsão?

Franz (2016) observa que um número crescente de pessoas experimenta um sentimento de vazio. “Algumas vezes tudo parece bem externamente, mas no seu íntimo a pessoa está sofrendo de um tédio mortal que torna tudo vazio e sem sentido.” (FRANZ, 2016, p. 219).

A queixa de falta de sentido na vida foi observada por Jung (2013b) em sua prática clínica da psicoterapia. De acordo com o psicoterapeuta suíço, um terço dos pacientes que o procurava não apresentava uma neurose bem definida, todavia estavam adoecidos devido a uma falta de sentido ou conteúdo nas suas vidas. Geralmente eram pessoas maduras, bem sucedidas, inteligentes, adaptadassocialmente e que se queixavam que suas vidas estavam estagnadas. Elas já tinham passado por tratamentos psicoterápicos anteriores baseados em métodos racionais, mas agora se encontravam resistentes a eles, obtendo resultados parciais ou até mesmo negativos (JUNG, 2013b).

Franz (2018) corrobora ao afirmar que em muitos dos seus analisandos não foram encontrados sintomas psiquiátricos ou psicopatológicos, porém, a queixa principal era de uma vida sem sentido e vazia. Para a autora, “[…] a pior neurose não são os sintomas, mesmo que sejam muito desagradáveis, mas a pior neurose é ter o sentimento de que minha vida não tem sentido” (FRANZ, 2018, p. 23).

Diante da estagnação insuportável de uma vida sem sentido, que Jung concorda em chamar de neurose contemporânea generalizada, a consciência do indivíduo já teria esgotado todas as formas possíveis de encontrar uma saída viável. De modo geral, são pessoas que se dedicaram em demasia ao pensamento racional, ou seja, unilateralmente à parte consciente de sua psique (JUNG, 2013b).

Esses indivíduos estão isolados de seus instintos e suas vidas se tornam maçantes e cerceadas pelas muralhas da razão.

Impedido de viver satisfatoriamente os seus dias, essa “[…] limitação gera no indivíduo o sentimento de que é uma criatura aleatória e sem sentido, e esta sensação nos impede de viver a vida com aquela intensidade que ela exige para poder ser vivida em plenitude” (JUNG, 2013a, p. 338). O que se aponta é que o distanciamento do inconsciente “[…] produz uma agitação neurótica cujos exemplos abundam em nossos dias. Esta agitação, por sua vez, gera a falta de sentido da existência, falta esta que é uma enfermidade psíquica […]” (JUNG, 2013a, p. 372).

Para Jung (2016), o ser humano contemporâneo se considera independente das tradições que, para ele, são ultrapassadas.

Não há espaço mais para rituais no seu dia a dia e muitos dispensaram a oração diária em busca de suporte divino. Entretanto, nesse processo ele também ficou desorientado, sem aqueles símbolos que, através de suas crenças, o conectavam às suas raízes intrapsíquicas deixando-o, assim, sem suas bases morais. À medida que foi se desconectando dos fenômenos inconscientes, compreendendo-os como vestígios de um mundo retrógrado e anacrônico, o ser humano contemporâneo foi supervalorizando e desenvolvendo a racionalidade e uma consciência unilateral. Aprendeu a transformar suas ideias em ações, a executar seu trabalho de forma eficiente, e o seu lema passou a ser querer é poder (JUNG, 2016).

Conforme exposto, a maioria dos indivíduos contemporâneos sentiu, psicologicamente, a perda das tradições e dos referenciais mitológicos, isto é, os guias que antigamente auxiliavam os povos originários a mapear suas jornadas (HOLLIS, 2004). Então, a responsabilidade de encontrar as próprias verdades, ou o próprio mito “[…] caiu sobre o indivíduo. Ou criamos nossos mitos, nossas ficções […], ou seremos escravizados pelos mitos e ficções de outrem” (HOLLIS, 2004, p. 104). Contudo, talvez exista a possibilidade de resgatar o local de onde essas imagens mitológicas surgiram, que para a psicologia junguiana seria a psique.

“A descoberta do inconsciente, no entanto, compensa a perda dessas ilusões tão queridas, abrindo-nos um enorme e inexplorado campo de realizações […]” (FRANZ, 2016, p. 306).

Ao introduzir essas imagens inconscientes na vida consciente, aos poucos o self pode ir se revelando e o ego experimentando um impulso interior que contém oportunidades e potencialidades de transformação e renovação da personalidade (FRANZ, 2016).

O trabalho pelo qual o ser humano atual é chamado a fazer, não é somente aquele emprego pelo qual ele é pago. O trabalho fundamental, opus, “[…] é a busca pelos deuses, a busca pela nossa vocação, o rastreamento do invisível. É o trabalho de crescimento pessoal e encontro pessoal” (HOLLIS, 2004, p. 148). Buscar um deus para servir, não significa a procura literal de uma entidade metafísica, mas de personificar, nomear e honrar aquela energia psíquica poderosa que tem o poder autônomo de encarnar nos indivíduos e assumir o controle de suas vidas. Honrar esse deus é estar consciente, ao invés de escravizado (HOLLIS, 2004).

“Quando podemos usar tais ficções de maneira consciente, então podemos permanecer despertos em nossa jornada […]. Uma ficção que vale a pena leva-nos a uma vida que vale a pena” (HOLLIS, 2004, p. 106).

De acordo com Jung, o movimento que nos leva a buscar sentido, significado e propósito em nossas vidas é arquetípico, ou seja, comum a todos os seres humanos como expressão teleológica e natural da psique. Negar os chamados para iniciar essa jornada que surgem através de sonhos, sincronicidades e expressões criativas leva ao aparecimento de sintomas. Estes, por sua vez, também podem ser olhados de maneira simbólica direcionando o indivíduo para o autoconhecimento ou ignorados tornando a pessoa cada vez mais doente. Por outro lado, dar atenção às mensagens que o self envia para que encontremos nosso caminho de autorrealização nos leva para o que Jung chamou de “processo de individuação”.

É dar espaço à união dos conteúdos conscientes e inconscientes e desta união emergem novas situações ou estados de consciência. Jung designa por isso a “união dos opostos pelo termo de “função transcendente”.

A meta de uma psicoterapia que não se contenta apenas com a cura dos sintomas é a de conduzir a personalidade em direção à totalidade.” (Jung, 2014).

“Saber o que é verdadeiro para nós, sentir o que realmente sentimos, acreditar no que realmente dá sentido à nossa singular jornada – essa é a essência de viver uma vida de integridade […]. Não é fácil, não é comum” (HOLLIS, 2004, p. 95).

Para Franz (2016, p. 299), “[…] encontrar o sentido profundo da vida é mais importante para um indivíduo do que tudo o mais, e é por esse motivo que o processo de individuação deve ter prioridade”. Individuar-se compreende um dos maiores empreendimentos que o ser humano contemporâneo pode realizar e tornar-se si mesmo passaria a ser uma prioridade, visto que, potencialmente, poderia libertá-lo da estagnação e auxiliá-lo na busca do sentido profundo de sua vida (FRANZ, 2016). Esse processo “[…] permite de repente fazer da sua vida, até então desinteressante e apática, uma aventura interior sem fim, repleta de possibilidades criadoras.” (FRANZ, 2016, p. 265).

Para Jung, tanto em sua teoria quanto em sua trajetória, questionar-se sobre o sentido da vida é uma decorrência do viver e um dos seus aspectos mais humanos. Cabe ao indivíduo reconhecer a própria responsabilidade sobre as escolhas que faz e de viver de forma plena, apreciar a vida em todos os momentos e acreditar em sua capacidade de encontrar a força interior nos caminhos percorridos, encontrar a sua essência, a sua integridade de caráter, sua unicidade, seja nos caminhos obscuros e difíceis, ou nos momentos de alegria, para assim acolher o seu próprio vazio interior, conhecer-se a si mesmo e a verdade de sua própria existência.

Quando o sujeito inicia reflexão sobre si próprio em terapia, o processo é similar a um mergulho em áreas desconhecidas do próprio mundo interior, o que representa empreender uma jornada que é de sua responsabilidade, única e subjetiva, capaz de produzir uma verdadeira transformação de si. Encontrar um sentido para a própria vida é antes de tudo um compromisso consigo mesmo.

Maria Helena Soares MarinhoAnalista em formação IJEP

Maria Cristina Guarnieri – Analista Didata IJEP

Referências:

Bauman, Z. (1999). Globalização: As consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.       

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2001.  

Bauman, Z. (2008). Vidas para o consumo. Rio de Janeiro: Jorge Zahar.     

FRANZ, Marie-Louise von. A busca do sentido: entrevistas radiofônicas. São

Paulo: Paulus, 2018.

FRANZ, Marie-Louise von. O processo de individuação. In: JUNG, Carl Gustav. O

homem e seus símbolos. 3.ed.especial. Rio de Janeiro: HarperCollins Brasil, 2016.

HOLLIS, James. Nesta jornada que chamamos vida: vivendo as questões. São

Paulo: Paulus, 2004.

JUNG, Carl Gustav. A natureza da psique. 10.ed. Petrópolis: Vozes, 2013a.

JUNG, Carl Gustav. A prática da psicoterapia 16.ed. Petrópolis: Vozes, 2013b

JUNG, Carl Gustav. O homem e seus símbolos. 3.ed. Rio de Janeiro: HarperCollins Brasil, 2016.

JUNG, Carl Gustav.  Os Arquétipos e o Inconsciente, 2014, Petrópolis: Vozes, 11.ed

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