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“Sonhos não lembrados: O papel da Super Aceleração e da Hiper Produtividade atual na perda da Alma”

A influência da super aceleração e hiperprodutividade nos adoecimentos psíquicos e a consequente não lembrança dos sonhos são abordados neste artigo. A influência da aceleração da vida moderna e o modo de vida competitivo são apontados como responsáveis por essa dificuldade. A falta de espaço para a vida interior compromete a qualidade do sono e a conexão com os sonhos, afetando o processo de individuação. É crucial repensar nossa relação com a tecnologia e reavaliar nossos limites produtivos para dormirmos melhor e valorizarmos o processo terapêutico dos sonhos.

No contexto contemporâneo, marcado pela hiperconexão e a hiperprodutividade, observa-se uma perda crescente da conexão com o mundo dos sonhos. Este artigo examina, sob a ótica da psicologia analítica de Carl Gustav Jung, como esses fenômenos impactam a lembrança dos sonhos e, consequentemente, o trabalho de conteúdos inconscientes, memórias e processos criativos. 

Hiperconexão e Hiperprodutividade

Segundo dados da Associação Brasileira do Sono (ABS), pesquisa realizada em 2019, 73 milhões dos brasileiros (ou seja, ⅓ da população) sofrem de insônia, e a venda do Zolpidem, um dos fármacos hipnóticos mais conhecidos da atualidade, cresceu cerca de 676% entre 2012 e 2021 (*CMED, acesso em 02, Maio/2023).

Em grandes cidades como São Paulo, em que o ritmo de vida é muito agitado, os índices são significativamente mais altos que a média. Uma pesquisa do Instituto do Sono (EPISONO), realizada com 1000 voluntários entre 2018 e 2019 revelou que 45% da população paulistana queixa-se de insônia ou dificuldade para dormir, sendo que 35% toma medicação para estimular o sono, mesmo sem prescrição médica. (EPISONO, 2023)

A insônia pode se dar por vários motivos. Um deles é o fato aparentemente simples: uma resistência a dormir por acúmulo de ansiedade.

Isto vai influenciar na dificuldade de lembrar dos sonhos, mesmo considerando que todos sonhamos todas as noites cerca de cinco sonhos, já que estes são um fenômeno neurológico, necessário para o equilíbrio psico afetivo e mental do ser humano.

Um dos possíveis fatores que contribuíram para o cenário descrito até aqui é de cunho sócio-cultural e econômico. A hiperprodutividade dos indivíduos na sociedade neoliberal também tem influência significativa na não-lembrança dos sonhos. Em seu livro “A alma precisa de tempo”, a analista junguiana Verena Kast (2016) fala sobre o quanto a aceleração atual exige não só uma eficácia cada vez maior no mundo externo mas também no mundo interno, fazendo com que tenhamos que fazer cada vez mais em menos tempo, constrangidos a cumprir mais compromissos ou sentir-nos culpados se perdemos um prazo.

Do mesmo modo, há pressão para resolvermos um distúrbio psicológico rapidamente; e a perda da tranquilidade e do aconchego igualmente leva a uma marginalização da alma. Se permitirmos isso, a vida será mais fria, os relacionamentos serão dominados pela funcionalidade. Muitos temem ou já vivenciam isso. Por seu turno, o sociólogo Byung-Chul Han (2017, p.34) diz que a sociedade atual tem uma tolerância bem pequena ao tédio e não admite experimentá-lo ao nível profundo, algo importante para todos os processos criativos, incluindo o sonho. Assim, perdeu-se a capacidade de se aquietar e contemplar.

Han cita Walter Benjamin: “A pura inquietação não gera nada de novo, reproduz e acelera o já existente. Não se tece mais e não se fia”. (2017, p. 34)

O termo alétheia significa verdade e, ao mesmo tempo, realidade, no sentido de desvelamento, ou seja, de descobrir o que estava encoberto, oculto (a= negação, lethe = esquecimento). Martin Heidegger (apud Macieira, 2023) retomou o termo para definir a tentativa de compreensão da verdade. Para esse escritor, a alétheia é distinta do conceito leigo de “verdade” – esta considerada um estado descritivo objetivo.

Assim sendo, alétheia traz consigo a revelação imediata da realidade, no sentido de onisciência e de memória, significando o equivalente a mnemosÿne (memória). A única potência que se opõe à alétheia, mas que, todavia a complementa, é lethe (em grego = esquecimento). Tecendo um paralelo com a condição moderna da nossa existência, faltam condições para se viver a experiência da Alétheia e os sonhos ficam perdidos nos rios de Lethe, uma vez que os indivíduos tendem a desvalorizar a escuta interna e dar prioridade aos estímulos do mundo exterior.

O Papel dos Sonhos na Psicologia Analítica de Jung

Na psicologia junguiana, os sonhos são vistos como manifestações vitais do inconsciente, oferecendo compensações para as atitudes unilaterais da consciência. Eles desempenham um papel crucial no processo de autoconhecimento e individuação, agindo como guias para o equilíbrio psíquico.

Jung (2013b, p. 465) define o conceito de individuação como o processo de formação e particularização do ser individual; em especial, o desenvolvimento do indivíduo psicológico como ser distinto do conjunto, da psicologia coletiva. É, portanto, um processo de diferenciação que objetiva o desenvolvimento da personalidade individual. Uma vez que o indivíduo não é um ser único, mas pressupõe também um relacionamento coletivo para sua existência, também o processo de individuação não leva ao isolamento, mas a um relacionamento coletivo mais intenso e mais abrangente.

Os sonhos e o processo de individuação possuem íntima conexão, uma vez que os sonhos são a maneira mais direta e natural de estabelecermos comunicação com nosso inconsciente, o que concorre para o autoconhecimento.

Segundo Jung:

Inicialmente as compensações aparecem como ajustamentos momentâneos de atitudes unilaterais ou o restabelecimento de certos desequilíbrios da situação. Mas um conhecimento e uma experiência mais aprofundados nos mostram que estas ações compensadoras aparentemente isoladas obedecem a uma espécie de plano pré-determinado.

Parecem ligadas umas às outras e subordinadas, em sentido mais profundo, a um fim comum, de modo que uma longa série de sonhos não aparece mais como uma sucessão fortuita de acontecimento desconexos e isolados, mas como um processo de desenvolvimento e de organização que se desdobra segundo um plano bem elaborado. Designei esse fenômeno inconsciente, que se exprime espontaneamente no simbolismo de longas séries de sonho, pelo nome de processo de individuação. (JUNG, 2013a, p. 244)

Jung  (2013b, p. 465) nos ensina que, se nos comprometemos com a análise de longas séries de sonhos, com a competente assistência de um analista, por um longo tempo, é raro que não vejamos nosso horizonte alargar-se e enriquecer-se. Justamente devido a seu comportamento compensador, a análise adequadamente conduzida nos descortina novos pontos de vista e abre novos caminhos que nos ajudam a sair da estagnação.

Ele explica que um conhecimento e uma experiência mais aprofundados nos mostram que essas ações compensadoras aparentemente isoladas obedecem a uma espécie de plano pré-determinado. Parecem ligadas umas às outras e subordinadas, em sentido mais profundo, a um fim comum, de modo que uma longa série de sonhos não aparece mais como uma sucessão aleatória de acontecimentos desconexos e isolados, mas como um processo de desenvolvimento e de organização que se desdobra segundo um plano bem elaborado. A este fenômeno inconsciente, que se exprime espontaneamente no simbolismo de longas séries de sonhos, Jung (2013b, p. 467) também designou como processo de individuação.

E mesmo que muitas vezes os sonhos não sejam compreensíveis, eles agem sobre a nossa psique e nossas vidas.

Se os sonhos produzem compensações tão essenciais, por que então eles não são compreensíveis? Esta questão me tem sido dirigida frequentemente. Devemos responder que o sonho é um acontecimento natural e que a natureza não está de modo algum disposta a oferecer seus frutos de certo modo gratuitamente aos homens, na medida das suas expectativas. Muitas vezes se abjeta que a compensação pode permanecer ineficaz, se não se entende o sentido do sonho, mas isto não é assim tão claro, porque há muitas coisas que atuam sem serem compreendidas. Mas nós podemos, sem dúvida, aumentar consideravelmente sua eficácia pela compreensão, e muitas vezes isto se revela necessário, porque a voz do inconsciente pode também não ser ouvida. (JUNG, 2013a, p. 250)

Porquanto a individuação tenha por objetivo o ser único, exercitando sua singularidade mais íntima, última e incomparável, despojando-o dos invólucros falsos da persona, os sonhos, então, se apresentam como peças-chave para desvelar as compensações entre consciência e inconsciente. Se ampliados simbolicamente de maneira eficaz, seus conteúdos podem ser integrados de forma mais harmoniosa à consciência, fazendo com que o indivíduo revise personas inautênticas e (re)construa com essas instâncias relações mais saudáveis, caminhando em direção ao seu processo de autoconhecimento e autodesenvolvimento egóico, de si-mesmo.

Jung (2015) também explica que, quanto mais consciente nos tornamos de nós mesmos, tanto mais se reduzirá a camada do inconsciente pessoal que recobre o inconsciente coletivo:

Desta forma, vai emergindo uma consciência livre do mundo mesquinho, suscetível e pessoal do eu, aberta para a livre participação de um mundo mais amplo de interesses objetivos. Essa consciência ampliada não é mais aquele novelo egoísta de desejos, temores, esperanças e ambições de caráter pessoal, que sempre deve ser compensado ou corrigido por contratendências inconscientes; tornar-se-á uma função de relação com o mundo de objetos, colocando o indivíduo numa comunhão incondicional, obrigatória e indissolúvel com o mundo.

As complicações que ocorrem nesse estádio já não são conflitos de desejos egoístas, mas dificuldades que concernem à própria pessoa e aos outros. Neste estádio aparecem problemas gerais que ativaram o inconsciente coletivo; eles exigem uma compensação coletiva e não pessoal. É então que podemos constatar que o inconsciente produz conteúdos válidos, não só para os indivíduos, mas para os outros: para muitos e talvez para todos”. (JUNG, 2015, p. 68)

A Importância do Resgate da Lembrança dos Sonhos: Reaprendendo a sonhar e o retorno ao interior profundo da alma

Aquilo que fazemos antes de dormir será um dos fatores determinantes da qualidade do sono e consequentemente influenciará na sua lembrança. É a chamada “higiene do sono”. A mesma ensina que, por pelo menos 30 minutos antes de dormir, convém evitar o uso de aparelhos celulares, computadores, tablets e televisão.

Narrativas que despertem o mundo imaginal podem ser benéficas. Além disso, o uso de algumas substâncias afeta a fisiologia do sono, portanto é recomendável evitar o uso de álcool, tabaco, café, maconha, pílulas para dormir, etc., estar hidratado e não se alimentar de maneira excessiva; uma postura assim ajudará o indivíduo a dormir melhor.

Exercícios físicos extenuantes também irão atrapalhar. Por sua vez, alguns exercícios meditativos podem ser interessantes, mas é necessário saber exatamente o que se está fazendo. Muitas vezes esse tipo de prática acaba mobilizando as faculdades mentais e produzindo agitação, isso irá atrapalhar mais do que ajudar o sono.

Lembrar dos sonhos pode ser um desafio para muitas pessoas, mas existem algumas técnicas que podem ajudar a aumentar a capacidade de recordação dos sonhos.

Uma dela é a autossugestão, que também pode ser importante: autossugestionar-se, um minuto exatamente antes de dormir: “Vou sonhar, lembrar e relatar”. Segundo Ribeiro: permanecer imóvel na cama ao despertar, para que a prolífica caixa de Pandora se abra (2017, p. 17). O ideal é não pular da cama e tentar buscar e manter na consciência as imagens oníricas durante o despertar. Prestar atenção na transição entre o mundo onírico e o mundo vígil e tentar ficar nesse lugar por algum tempo. Observar a si quando estiver passando para o mundo de cá: corpo, respiração, sentimentos, emoções etc.

Papel e lápis à mão, o sonhador de início se esforçará para lembrar com o que sonhou. A princípio parece impossível, mas rapidamente uma imagem ou uma cena, mesmo que esmaecida, virá à tona. A ela o sonhador deve se agarrar, mobilizando a atenção para aumentar a reverberação da lembrança do sonho. Essa primeira memória, mesmo frágil e fragmentada, servirá como peça inicial do quebra-cabeça, ponta do novelo a ser desenrolado. Através de sua reativação as memórias associadas começarão a se revelar.

Se no primeiro dia esse exercício produz apenas algumas frases desconexas, após uma semana é frequente encher páginas inteiras do sonhário, com vários sonhos independentes coletados depois de um único despertar.

Na realidade, sonhamos durante quase toda a noite, mesmo na vigília, muito embora chamemos isso de imaginação.

O sonho é essencial porque nos permite mergulhar profundamente nos subterrâneos da consciência. Experimentamos no transcorrer desse estado uma colcha de retalhos emocionais. Pequenos desafios, modestas derrotas e vitórias cotidianas geram um panorama onírico que reverbera as coisas mais importantes da vida, mas tende a não fazer sentido globalmente. Quando a existência flui mansa é difícil interpretar a algaravia simbólica da noite” (RIBEIRO, 2021, p. 18)

Descrever os sonhos imediatamente ao despertar é uma prática simples que enriquece enormemente a vida onírica: em poucos dias, quem jamais os recordara começa a preencher páginas e mais páginas de seu diário dos sonhos, ou “sonhário”, recomendado desde a Idade Antiga para estimular a rememoração.

Sobre o estudo dos sonhos, Jung (2016) nos ensina que não podemos nos permitir nenhuma ingenuidade:

[…] eles têm sua origem em um espírito que não é bem humano, e sim um sopro da natureza — o espírito de uma deusa bela e generosa, mas também cruel. Se quisermos caracterizar esse espírito, vamos nos aproximar bem melhor dele na esfera das mitologias antigas de nas fábulas primitivas das florestas do que na consciência do homem moderno. (JUNG, 2016, p. 58)

Isso porque o homem primitivo era muito mais governado pelos instintos do que seu descendente, o homem “racional”, que aprendeu a “controlar-se”. Além disso, Jung (2016, p. 59) também julga tolice acreditar em guias pré-fabricados e sistematizados para a interpretação dos sonhos, como se pudéssemos comprar um livro de consultas para nele encontrar a tradução de determinado símbolo.

Nenhum símbolo onírico pode ser separado da pessoa que o sonhou, assim como não existem interpretações definidas e específicas para qualquer sonho.

Considerando os pontos mencionados acima, técnicas expressivas como desenhos livres, pinturas, colagens, mandalas e esculturas são ótimos recursos para expressar os símbolos oníricos, mensageiros indispensáveis da parte instintiva da mente humana para a sua parte racional; a sua interpretação enriquece a pobreza da nossa consciência fazendo-a compreender, novamente, a esquecida linguagem dos instintos. 

Enfim, o tema abordado é bastante complexo e requer mudanças profundas na sociedade atual, em diversas camadas: uma reeducação para lidar com as imagens oníricas, transformações significativas na relação com as tecnologias, e a reavaliação de como a sociedade contemporânea lida com seus próprios limites produtivos. Como foi discutido ao longo do artigo, o indivíduo contemporâneo está mergulhado nas águas do rio de Lethe, esquecido de seus sonhos, e longe de si mesmo, com pouco ou nenhum contato com seu mundo onírico. Contudo, estudos relacionados ao sonho voltaram a tomar espaço nos meios científicos.

O avanço tecnológico possibilitou à neurociência descobrir e publicar dados que corroboram muitas ideias e hipóteses levantadas por Jung e Freud.

A própria ciência, que durante muito tempo deixou os estudos relacionados ao processo onírico de lado, diz agora que é extremamente importante para a nossa saúde e adaptação que sonhemos, e que o material surgido do inconsciente precisa participar das nossas decisões conscientes. Muito tem se falado da importância dos sonhos para as civilizações antigas, do quanto isso se perdeu na atualidade e do quanto é necessário resgatar essa relação basilar.

O presente estudo também nos mostrou a importância dos sonhos no nível individual e coletivo, como função reguladora da psique, instrumento poderoso de autoconhecimento que refere também as relações sociais e interesses da comunidade. Nesse sentido, o sonho não guarda importância somente no âmbito individual, mas aponta para aquilo que está acontecendo na sociedade e no mundo; mostra para onde estamos caminhando enquanto coletividade.

Precisamos voltar a sonhar!

Por final, espero que esse artigo seja um convite a todos aqueles que se encorajem a trabalhar com o inconsciente e a utilizarem mais recursos expressivos com seus pacientes, a fim de incentivá-los a registrarem as viagens ao interior da alma. O mergulho nas múltiplas dimensões do sonho, arte quase completamente esquecida atualmente, pode e deve reativar o hábito ancestral de sonhar e narrar.

Maria Helena Soares Marinho – Analista em Formação IJEP

Cristina Mariante Guarnieri – Analista Didata IJEP

REFERÊNCIAS:

JUNG, Carl Gustav. A Natureza da Psique. 10.ed. Petrópolis: Vozes, 2013a.

______ Tipos Psicológicos. 7.ed. Petrópolis: Vozes, 2013b.

______ O eu e o inconsciente. 27.ed. Petrópolis: Vozes, 2015.

______ O Homem e seus Símbolos. 3.ed. Rio de Janeiro: HarperCollins, 2016.

HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço, 2.ed. Petrópolis: Vozes, 2017.

RIBEIRO, Sidarta. O Oráculo do Sono, 1.ed. São Paulo: Editora Companhia das Letras, 2019.

KAST, Verena. A Alma precisa de tempo. Petrópolis: Vozes, 2016.

MACIEIRA, Rita. https://blog.ijep.com.br/pequena-reflexao-em-tempos-de-aletheia/ / Acesso em 30/Nov/2023

CMED – Câmara de regulação do mercado de medicamentos, enviados pela Anvisa. https://noticias.r7.com/saude/venda-de-zolpidem-remedio-da-moda-para-dormir-cresce-676-em-dez-anos-no-brasil-28112022. Acesso em 02 maio 2023

EPISONO – Instituto do Sono:   https://institutodosono.com/en/episono/ Acesso em 02 maio 2023

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