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Crise da meia idade feminina – rainha ou bruxa?


“Ser jovem e belo é um golpe de sorte genético, ser velho e belo é uma obra de arte, cujo artista é você mesmo.”

Waldemar Magaldi

A mulher, bem diferente dos homens, devido sua estrutura ginecológica e hormonal, é acometida por dois momentos significativos de iniciação, que deveriam remetê-la a vivencia dos antigos rituais de passagens. Aliás, creio que a sociedade contemporânea está, cada vez mais, dessacralizada e distante dos ritmos e ritos que serviam para marcar os momentos de início e, consequentemente, de término de determinadas e importantes fases da vida. O primeiro momento é a crise que estabelece a passagem da menina para a adolescente, que acontece na menarca ou primeira menstruação, que ocorre, em média, dois anos após os primeiros sinais da puberdade. O segundo momento, após a menacme, que é o período onde a mulher permanece fértil, é o da menopausa, caracterizado pela última menstruação, passando pelo período do climatério que pontua a transição do fim da sua fase reprodutiva.

Por volta dos 45 anos de idade, acontecem muitas transformações, transições e crises na vida da maioria das pessoas, principalmente por conta da metanóia, época em que ocorrem transformações fundamentais no pensamento e no caráter dos indivíduos, devido às novas demandas e pela busca de novo sentido e significado existencial. No caso das mulheres, outros aspectos somam-se às mudanças hormonais e corporais, incluindo transformações da estrutura familiar, com a saída dos filhos, e desejos de se sentirem produtivas, pertencentes, entre outras demandas. A consequência desse momento, quando não existe uma atitude consciente e diligente diante desta crise, é o surgimento de uma infinidade de transtornos e queixas físicas, psíquicas e afetivas presentes nos consultórios dos profissionais de saúde, acompanhadas de excessos comportamentais envolvendo temáticas com vários tipos de dependências, abusos ou compulsões, depressões e muitos transtornos ginecológicos.

É importante deixamos claro que toda crise pode ser uma oportunidade. Ou seja, dependendo da maneira que a pessoa enfrentar a mudança surgirá resultados muito distintos, dos mais positivos até os mais negativos, construtivos ou destrutivos, prazerosos ou dolorosos. Enfim, os resultados dependerão do estado de consciência e de autoconhecimento de cada pessoa. É neste sentido que as mulheres, na crise da meia idade, podem escolher conscientemente se irão assumir, em suas novas personalidades, mais aspectos da imagem arquetípica da bruxa ou da rainha. A bruxa tem um perfil de personalidade histriônica, impaciente, ressecada e rígida, com desejos de vingança e poder, devido seus sentimentos de exclusão e de infertilidade. A rainha, por sua vez, exercerá sua autonomia com liberdade e criatividade, pois ela sabe que pode reinar e gerir livremente a sua vida, principalmente agora que se libertou das regras ou dos incômodos menstruais.

Porém, para que a mulher da meia idade assuma sua dimensão rainha, ela não pode ficar identificada exclusivamente com as imagens arquetípicas das deusas Hera, Demeter ou Perséfone, respectivamente representadas pela: esposa, mãe ou filha – atribuições unilaterais ainda impostas pela nossa atual sociedade patriarcal, patrimonialista e machista. Da mesma forma, não pode negar ou contrapor essas funções, indo para o extremo oposto, ficando desfeminilizada, assumindo características mais competitivas, testosteronicas e masculinas. Porém, infelizmente, o que mais notamos é que a maioria das mulheres acaba ficando aprisionada em um conjunto de papeis, empobrecendo suas vidas e sofrendo o ressecamento de toda sua potencialidade integrativa e criativa. Com isso, desenvolvem uma infinidade de sintomas de adoecimento que, para serem curados, necessitam de uma integração de cuidados que vão desde as intervenções, químicas ou cirúrgicas, até um profundo processo de autoconhecimento. Só assim elas poderão, conscientemente, assumirem seus papeis de rainhas, transcendendo evolutivamente a crise da meia idade, reconhecendo que a bruxa, geralmente, é a fada que foi ou se sentiu excluída de algum contexto existencial. Concluo deixando explícito que toda mulher, na sua essência imanente, deseja liberdade e autonomia para estabelecer seus vínculos e até sua maternagem, que pode ser exercida em qualquer situação, independente da filiação biológica ou adotiva, pois o potencial materno e criativo é preponderantemente feminino.

WALDEMAR MAGALDI FILHO é psicólogo, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Homeopatia.  Mestre e doutor em Ciências da Religião. Autor do livro: “Dinheiro, Saúde e Sagrado”.  Fundador e coordenador dos cursos do IJEP – Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa (www.ijep.com.br).

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