Site icon Blog IJEP

E aí, os homens também fazem terapia???

E aí, os homens também fazem terapia???

E aí, os homens também fazem terapia???

Para ter mais certezas tenho que me saber de imperfeições.

                                                                                                            (Manoel de Barros)

             Recebi de uma paciente o convite para dar uma entrevista sobre a procura dos homens pela psicoterapia. Ela é jornalista e estava fazendo uma matéria sobre homens que são subjugados por mulheres, que vivem relacionamentos abusivos e que conseguiram se libertar destas relações. Esses entrevistados em dado momento citam a psicoterapia como importante instrumento de transformação nas suas vidas.

             Este convite me deixou com muito entusiasmo pelo fato de trazer um lado pouco conhecido e apresentado pela mídia. O que acaba sendo muito mais comum e evidenciado, são as mulheres vítimas de seus companheiros e mesmo mulheres enredadas em relacionamentos abusivos. Os homens aprisionados nestas relações e vítimas de sentimentos e relacionamentos tóxicos não têm expressão na nossa sociedade. Aliás há em torno do mundo emocional dos homens um silêncio. Guy Corneau, analista junguiano afirma categoricamente:

Todos os homens vivem mais ou menos em um silêncio hereditário que se transmite de uma geração à outra e que nega o desejo de cada adolescente de ser reconhecido, ou até confirmado pelo pai. Como se nossos pais tivessem sido condenados por uma espécie de lei do silêncio, segundo a qual aquele que fala arrisca a sua vida por ter traído um segredo (CORNEAU, 2015, p.03-04). 

 Autor do livro Pai Ausente, Filho Carente, inicia seu livro com o capítulo intitulado O Silêncio do Pai, onde denuncia as consequências nefastas desse silêncio para o desenvolvimento do menino que cresce sentindo-se incriminado, errado e inadequado e/ou não cresce, não se desenvolve, pois corre o risco de ficar fascinado por essa economia de afetos e interpretá-la como segurança. Estabelecendo assim como que um padrão de funcionamento para os homens, que sem saber porque, apenas silenciam e passam isso para os seus. 

Desta forma, fiquei empolgado com o convite e vi aqui uma oportunidade de colaborar na quebra deste silêncio. E ao mesmo tempo isso escancarou na minha cara a minha própria “colaboração” neste pacto de silêncio. Em dado momento sou surpreendido pela pergunta de quantos pacientes homens atendo no meu consultório. Nunca tinha parado fazer este levantamento. Pelo que fui surpreendido com a porcentagem de 83%. Sim 83% da minha clínica é composta por homens na faixa de 25 e 70 anos. Atendo todos os dias, o dia todo, sendo assim tenho uma clínica de número expressivo de pacientes. Também eu não tinha tomado consciência da quantidade de homens que estavam querendo de alguma forma quebrar esse pacto de silêncio, mesmo que seja protegido pelo contrato de confidencialidade que envolve a ética da relação terapêutica.

Resido em um estado do centro-oeste brasileiro, dominado pelo agronegócio. Conhecido tradicionalmente pela cultura machista e conservadora. Atuo como psicoterapeuta há quase 25 anos. No início da minha carreira meu consultório era dominado pelas mulheres. “Os homens não tinham tempo para psicoterapia, estavam sempre nas fazendas”. Nem mesmo nas sessões de devolutiva dos filhos era comum que os pais estivessem presentes: “desculpe, meu marido está na fazenda e não pode estar presente”. Eu tinha uma clínica eminentemente do sexo feminino. Os poucos representantes masculinos eram adolescentes. Por muitos anos foi assim.

A atividade econômica do estado continua a mesma, o machismo e seus mecanismos continuam atuando, politicamente o estado se posiciona como de direita e extrema direita, seus ideais são divulgados a plenos pulmões, mas na surdina, lenta e silenciosamente uma transformação vem acontecendo. Sim, esta parece ser uma voz otimista em um momento tão carregado por ideologias extremadas e reacionárias. Uma mudança silenciosa vem acontecendo! Isso me deu otimismo e me entusiasmou quando recebi o convite da jornalista. Uma matéria que propõe trazer à luz a dor masculina, gritar em alto e bom som que os homens também têm dores emocionais e que sofrem por amor e isso tudo dito por homens sem medo de mostrar sua cara merece uma atenção de quem se dedica a ouvir as dores do outro o dia todo. Fizemos a entrevista ela foi ao ar, mas é claro que este evento não se encerrou alí, provocou em mim reflexões e tomadas de consciência importantes.

Claro que este movimento masculino de busca pela psicoterapia não se circunscreve a este lugar geográfico. É um movimento maior impulsionado principalmente pelo movimento feminista que desbancou a ordem oficial das coisas. Gerando um profundo questionamento no que é ser homem, ser mulher e como desempenhar estes papéis nestes novos tempos ainda tão confusos. Mas então por que isso me chama atenção apenas agora? Por que não fui percebendo esta transformação antes? Por que precisei ser de uma certa forma também chacoalhado pelo convite da paciente/jornalista para me dar conta de quantos homens estão presentes em minha clínica pedindo para ser ouvidos?  

Sem dúvida também eu fui passando por um processo de transformação ao longo destes anos todos. Aprendendo a escutar as minhas dores de ser homem, me questionando e sofrendo os revezes deste processo. Tudo isso vem apurando e refinando a escuta deste psicoterapeuta e ampliando a capacidade de acolhimento das dores destes homens. “Não é possível tornar-se consciente sem passar por sofrimentos” (OC 17, § 331 p. 205).

Em meados de 2015, após um evento sincrônico – a saber do significado apenas tempos mais tarde conhecendo a teoria junguiana – fui conduzido ao mundo junguiano. Este encontro com a teoria, o mergulho na análise pessoal e a supervisão iniciaram um significativo movimento de mudanças interno e externo, o que com certeza deflagrou uma mudança radical na clínica e vem oportunizando que estes homens se arrisquem a escutar o convite/intimação do seu Self e iniciar um processo de psicoterapia. Evidenciando aqui aquilo que Jung insiste tanto que é a necessidade do trabalho pessoal do psicoterapeuta:

“É perfeitamente compreensível, e provocado por uma experiência cem vezes repetida, que o que o médico não vê em si mesmo, também não percebe no seu paciente, ou então percebe, mas de maneira exagerada; e que estimula no paciente aquilo que se identifica com suas próprias tendências incontroladas, e condena aquilo que desaprova em si mesmo” (OC 16/1, § 237, p. 131).

 Sua capacidade de aprofundamento e de entrega é que dá sustentação ao trabalho analítico. Neste sentido nos lembra MAGALDI FILHO:

Todo curador deve estar em contato com a sua ferida para ter condições de ativar o curador ferido de quem lhe pede ajuda. Nunca somos nós, os profissionais de ajuda e feridos, que curamos as doenças, pois sempre são elas é que vão nos curar verdadeiramente. Por isso, devemos ir ao encontro das doenças para alcançarmos a verdadeira cura e o caminho que nos dará significado” (MAGALDI FILHO, 2022, p. 392). 

Um outro pilar importante para uma eficaz escuta analítica é sem dúvida o conhecimento teórico e a experiência compartilhadas pelos mestres que antes de nós fizeram este caminho. A partir então da tomada de consciência de uma clínica eminentemente masculina busquei estudar autores que pudessem elucidar o tema.  Um grande encontro interior e que balizou a escuta desses homens na minha clínica foi o livro Sob a Sombra de Saturno: a ferida e a cura dos homens de James Hollis. Esta obra foi tão impactante para mim que fiz uma resenha crítica sobre a mesma como um trabalho para uma pós-graduação e que passo a compartilhar a quem possa interessar, com o objetivo maior de evidenciar o que autor já deixa claro no início do seu trabalho: os homens também sofrem e tem dores emocionais assim como as mulheres, ou seja os homens também são humanos.

Publicado no Brasil em 1997, pela editora Paulus, Sob a Sombra de Saturno: a ferida e a cura dos homens, faz parte da conhecida Coleção Amor e Psique, responsável pela publicação e divulgação do pensamento de Carl Gustav Jung e seus seguidores no Brasil. James Hollis é um destes colaboradores ilustres. Concluiu sua pós-graduação no Instituto C. G. Jung de Zurique, tornando-se um renomado conferencista internacional e autor de várias obras importantes e fundamentais. Exerce a profissão de analista na Filadélfia, em Linwood, no estado de Nova Jersey (EUA).

Esta sua presente obra, Sob a Sombra de Saturno: a ferida e a cura dos homens, é fruto de explanações apresentadas no Centro Jung da Filadélfia, em abril de 1992. No momento em que ele escreve e publica seu livro estão eclodindo no Estados Unidos e no mundo, o chamado movimento masculino, onde basicamente homens se juntam em grupo, normalmente ao ar livre com objetivo de resgatar sua masculinidade. Impulsionados pelo movimento feminista que de forma indireta os obrigou olharem para si e se reposicionarem no cenário cultural e social. Esse movimento coletivo do masculino é reconhecido pelo autor, mas também criticado pelo mesmo, para quem esse processo de reposicionamento só será possível e realmente eficaz se e quando, realizado de forma pessoal e individual.  

Baseado na sua prática de consultório e na sua própria experiência pessoal, muitas vezes compartilhada durante seu texto, o autor organiza e expõe de forma didática um percurso fundamental para que os homens possam mergulhar em um caminho de autoconhecimento e para que as mulheres interessadas, possam lançar um olhar mais próximo, apurado e amoroso sobre o drama masculino e seus desafios. Mais que uma grande discussão acadêmica sobre o assunto, o objetivo é apresentar uma obra capaz de ajudar os homens a identificar, entender e lidar com questões complexas que o habitam. Expandindo a consciência de si, através do diálogo consigo mesmo para assim desabrochar para sua própria cura. 

Inicia o livro de forma impactante, revelando ao leitor uma lista de oito segredos que os homens trazem dentro de si de forma silenciosa e muitas vezes inconsciente. Expõe corajosa e verdadeiramente, as dores que o mundo masculino desconhece e/ou esconde de si mesmo. Seguindo o percurso, convida o leitor a identificar o legado saturnino que todos os homens trazem na sua alma e que determina de forma significativa seu comportamento, atitudes e formas de estar no mundo. São os lemas, os papéis e as expectativas que a cultura por séculos depositou e cobrou destes homens, a saber: o trabalho, a guerra e a preocupação. Levando os homens a negar o seu medo e desta forma ter que se isolar para não se envergonhar. 

Indo para uma dimensão mais interior do homem, adentra pelas suas origens deixando clara a influência que tem para compreender a si próprio e o seu lugar no cosmos, a relação deste com a figura da mãe. Discorre sobre a capital importância do Complexo Materno e os seus aspectos positivos e negativos, bem como sua influência na relação com o outro, principalmente, com as mulheres e com o aspecto feminino. Evidencia também, como não poderia deixar de ser, o lugar do pai na formação do masculino. Escancarando a importância desta figura como pilar fundamental desta construção e ao mesmo tempo expondo a ferida deixada pela ausência deste pai na vida dos homens. Também este pai, vítima do legado saturnino, muitas vezes encontra-se indisponível e inacessível para seus filhos, mergulhado em suas feridas e seu isolamento silencioso.  

Embora o ferimento seja doloroso e difícil de ser vivido, ele tem uma fundamental importância para o desenvolvimento do masculino, pois através dele é possível deixar o mundo da Mãe e transcender o complexo materno e ir para o mundo, construir e viver a própria vida. Neste sentido o autor conduz o leitor aos rituais de iniciação e sua função psicológica e social. Faz uma retomada de alguns rituais ao longo da história e identifica a falta destes rituais no mundo moderno, ocasionando um hiato, um vazio no desenvolvimento do masculino, onde o sofrimento e ferimento, carentes de rituais que os abarquem e sustentem e deem sentido, perdem a sua ação transformadora, gerando uma dor vazia e sem função.  

Para oportunizar a saída do complexo materno e a entrada no mundo, o autor discorre sobre a importância fundamental do pai. Em um belíssimo capítulo intitulado A necessidade do pai, diz: 

Quando a experiência do pai é positiva, a criança experimenta força, apoio, energização dos seus recursos e um modelo no mundo exterior. Quando a experiência do pai é negativa, a frágil psique é esmagada (HOLLIS, 1997,  p.111). 

E continua: 

Através da mãe, vivenciará o mundo como lugar carinhoso e protetor. Do pai o poder de entrar no mundo e lutar pela sua vida (HOLLIS, 1997, p.111). 

Ou seja, o pai, ou o seu equivalente funcional, é de extremo valor para o desenvolvimento saudável do menino e seu futuro enquanto homem capaz de atuar na vida, pela vida e com a vida. No entanto, os pais também são filhos/homens feridos e na maioria das vezes não conseguem ativar o poder do masculino no filho. Trabalho este que terá que ser feito pelo homem no seu interior, extraindo as imagens deste masculino do seu mundo interior, do fundo do seu poço.  

Enfim, apresenta uma discussão sobre a cura e o curador. Ressaltando que é tarefa de cada um, de forma individual, ativar o seu curador dentro si mesmo, indo em busca do que não receberam do mundo exterior. Através de um percurso pessoal, de um trabalho interno, o homem pode resgatar no seu interior a força criativa.

Embora a obra comece e termine com listas e dicas diretas ao leitor, está longe de ser identificada como um manual superficial de autoajuda ou de simplificação do tema. Para além disso, o autor, embora faça uso de uma linguagem acessível, clara e concisa, aborda os temas com tamanha profundidade, fazendo justiça às suas complexidades. O leitor atento e interessado, com certeza será surpreendido, por diversas paradas durante a leitura, em silêncio, sendo levado para um mergulho no seu mundo interior. 

Dentre todos os temas apresentados, o silêncio dos homens e suas consequências para si mesmo, suas relações sociais, amorosas e afetivas. Bem como, a ausência do pai na vida do menino e os desdobramentos desta no homem adulto e futuro pai, constituem o ponto nevrálgico da obra se for levado em conta a realidade pela qual passam nossos homens: aumento do feminicídio, população carcerária esmagadoramente masculina, evasão escolar dos homens e outros.  

Esse silêncio condena o homem ao isolamento, a fuga para um mundo abstrato, desprezando o presente, o cotidiano e o corpo, podendo ocasionar uma desordem da identidade masculina. Hollis, denuncia: 

A frágil psique do homem foi embrutecida e tornada trivial. Historicamente, tem sido condicionado procriar e proteger a família, e a ser definido em função da sua produtividade. Tudo isso diz muito pouco, ou nada, da sua alma, da sua personalidade, da sua individualidade. Nesse mundo, os homens têm sina trágica: não alcançam a tranquilidade, raramente atuam a partir de uma convicção interior e muito poucas vezes saem do jogo mortal. Ainda quando ganham, perdem a alma (HOLLIS, 1997, p.103). 

Essa condição trágica tem um papel fundamental na desestrutura do masculino levando-o ao apelo à violência, ao excesso do uso de drogas, a um autoflagelo do homem, cada vez mais exposto e ao perigo da morte da alma e do corpo. 

No entanto a obra de Hollis também e de forma didática apresenta caminhos de superação e de direção à cura pessoal deste homem ferido e desconhecedor de sua alma. Reforçado por Corneau, aposta na quebra do silêncio dos homens. Admitindo para si mesmo, suas dores e seus medos, é possível buscar no seu interior, no seu ser mais profundo as imagens capazes fortalecer a construção de um novo masculino, saudável, pleno de alma e de sentido. Para este caminho, apresenta sete passos, que também são conceitos que sustentam a possibilidade de cura:

  1. Relembre a perda dos pais.
  2. Conte seus segredos.
  3. Procure mentores e sirva de mentor a terceiros.
  4. Corra o risco de amar os homens.
  5. Cure-se a si mesmo.
  6. Retome a jornada da alma.
  7. Participe da revolução.

Nos dois primeiros passos o autor convoca os homens a um olhar para dentro de si mais apurado, corajoso e honesto. Através da identificação dos ferimentos dos próprios pais, muitas vezes mais machucados que se imaginava, mais sozinhos e sem alternativas e permissão emocional, acabaram por repassar aos filhos suas feridas e dores. Esse reconhecimento das feridas, não é sem dor e sem raiva e que juntamente com o medo acompanham e legitimam todo esse processo corajoso de viver esta verdade, de contar para si próprio a verdade de sua alma.

Os passos três e quatro, orbitam em torno da figura do outro, e do seu papel fundamental, seja na figura do mentor, o analista, seja na figura dos outros homens de forma mais generalizada. A ausência de ritos coletivos de passagem obriga que este seja feito de forma individual. Para muitos o espaço da terapia, a possibilidade de se compartilhar reservadamente a sua vida e seus segredos relacionados a tarefa de ser homem é o espaço onde ocorre este rito de passagem e de iniciação no mundo masculino. Também é o lugar onde muitos homens começam seu processo autoconhecimento, descobrindo o homem que se é, libertando-se dos condicionamentos de competição e assim podendo amar os outros homens. E principalmente aprendendo amar a si mesmo, ou seja, aceitando seu fracasso e seu medo e desta maneira, podendo realmente amar os outros homens.

O quinto passo devolve ao homem o seu poder. Entrega nas suas mãos a tarefa e a possibilidade de curar-se a si mesmo. Essa responsabilidade é intransferível. Mas esse poder se distingue e muito, do complexo de poder. Trata-se do poder de “sentir energia e disposição para as tarefas da vida e lutar por alcançar profundidade e significado”. Isto torna-se possível quando sem julgamentos e ressentimentos o homem faz a si mesmo as perguntas que gostaria que seu pai tivesse feito a ele. Agora corre o risco de fazer essas perguntas a si mesmo, tendo a coragem de abandonar as ordens dos complexos materno e paterno e tomar suas próprias decisões. O que os pais não foram capazes de oferecer torna-se tarefa individual. Curar-se a si mesmo é assumir o seu processo de individuação. São ferramentas fundamentais nesta etapa do processo a Imaginação Ativa e da Análise dos Sonhos, possibilitando fazer contato com as figuras do mundo inconsciente, contactando com o pai transmissor interno.

No sexto passo o olhar é direcionado para a jornada da alma. Um olhar mais amplo, ver-se na perspectiva do eterno. Perceber a sua volta, se a vida está ou não relacionada com algo maior, de maior valor, relacionada ao infinito. Intima o leitor a mergulhar nas próprias profundezas, reconhecer o medo, mas viver a jornada, servindo à natureza, aos outros, servindo aos mistérios do qual é experiência. No entanto, individuação não é sinônimo e justificativa para narcisismo. Viver a jornada da alma também é cumprir os compromissos e responsabilidades para com os outros.

O sétimo e último passo é um convite a mudar o mundo, a fazer uma revolução através do indivíduo e da sua ampliação de consciência, de sua coragem para a mudança, reconduzindo a sua própria vida. Fazer a revolução é ser sincero em relação a essa vida, parar de se iludir, reconhecendo seus segredos e se responsabilizando por eles. Fazer a revolução é ainda se curar para se libertar da opressão e não mais agir a partir das suas feridas. Reconhecer a ferida, não é identificar-se com ela. Assim é possível que se manifeste a Justiça, à qual até os deuses mais tiranos têm que se curvar. 

 De forma contemporânea esta obra se faz de capital importância para todos aqueles que se ocupam da compreensão da alma humana. É uma leitura necessária para os psicoterapeutas, que recebem em seus consultórios esses homens violentados pela cultura, castrados e destruídos pelos processos educacionais e escutam ainda, as dores de suas mulheres, filhos adolescentes e crianças, vítimas de seus ferimentos e que desesperado, por vezes só consegue recorrer aos diferentes tipos de violências para se expressar e relacionar. Seu estudo profundo pode de fato auxiliar terapeutas, pacientes e outros indivíduos interessados a fazer uma reflexão sobre o tema, saindo do lugar comum e construindo novas possibilidades de existências e de relações humanas.

Adriano Luiz Pardo – Analista em Formação 

Ajax Salvador – Analista Didata

Referências:

GUY, Corneau Pai Ausente, Filho Carente Barueri, SP : Manole, 2015.

HOLLIS, James Sob a Sombra de Saturno: a ferida e a cura dos homens –            São Paulo: Paulus, 1997. – (Amor e Psique).

JUNG C. G, A Prática da Psicoterapia: contribuições ao problema da psicoterapia e à psicologia da transferência, 16º edição, Petrópolis. Vozes, 2013.

JUNG C. G, O Desenvolvimento da Personalidade, 14º edição, Petrópolis. Vozes, 2013.

Exit mobile version