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Emagrecimento: uma visão psicológica

Muitas vezes sou procurado para ajudar pessoas que sofrem de transtornos alimentares, com queixas que vão desde o comer em excesso, o famoso “apetite de boi” presente na bulimia, até o “comer de menos” da anorexia. Ressalto que estas questões alimentares e suas conseqüentes manifestações, tanto na aparência corporal quanto na saúde, já tem status de epidemia mundial. Uma outra questão importante que merece análise e reflexão, é o fato de que enquanto quase 40% da população mundial está com excesso de peso, apresentando níveis elevados do índice de massa corporal (IMC), outros 35% sofrem de desnutrição, evidenciando nossa realidade que está desequilibrada, desigual e excludente.

Neste espaço, dirijo-me a você que pretende emagrecer, mas por motivos alheios e contraditórios à sua vontade não consegue. Por que será que uma grande parcela de indivíduos obesos ou com sobrepeso enfrentam tantas dificuldades em perder pesos e medidas? Quase todas as pessoas, muitas vezes sem saberem, repetem um conjunto de práticas comportamentais e emocionais, que por sua vez, provocam dependências, tanto bioquímicas quanto relacionais. Essas são as verdadeiras causas das dificuldades de mudanças, incluindo o sucesso de um desejo ou necessidade de emagrecimento. Isso nos faz concluir que, mesmo sem sabermos, somos viciados em uma infinidade de emoções e comportamentos e das suas conseqüentes bioquímicas.

Sempre digo a quem quer emagrecer e não consegue que devem existir muitas causas ou ganhos secundários, inconscientes ou não, que contribuem para impedir que o peso seja perdido. Dentre eles, temos o medo de enfrentar uma imagem corporal mais atraente, que pode despertar ciúmes e desequilíbrio nas relações afetivas, possibilidades de mudanças indesejadas ou temidas e a perda da compensação prazerosa que o excesso alimentar produz, porque a comida, além de gratificar, nos dá sentimentos de acolhimento.

Além disso, também existe uma enorme sabotagem, igualmente inconscientes ou não, de todas as pessoas envolvidas nos nossos vínculos relacionais, porque toda mudança produz insegurança, medo e tentativa de manutenção das dinâmicas de vida já conhecidas, mesmo quando dolorosas e indesejáveis. Paralelamente, é importante deixar claro que a relação que cada indivíduo tem com o seu corpo é proporcional nas relações com as demais pessoas. Por isso, um corpo pode estar pesado pelas palavras de amor ou de raiva que não puderam ser ditas nas diversas relações, sobrando apenas o acúmulo energético e compensatório dos sentimentos não expressos na forma de gordura, que pode ser uma excelente reserva energética para ser usada na forma de trabalho físico das ações construtivas.

Perder peso implica em reestruturar a nova imagem corporal, reconstruir os vínculos sociais e interpessoais, buscar novos significados para as relações amorosas, reeducar o organismo em uma outra configuração bioquímica e buscar um sentido de prazer e satisfação de vida mais abrangente do que os obtidos pela ingestão de alimentos. Ou seja, em qualquer mudança de vida pretendida várias crises e síndromes de abstinência poderão surgir, provocando dor e sofrimento.

O sucesso vai depender da sua disponibilidade em encarar a mudança de um conjunto de fatores que incluem o corpo, a mente, as relações afetivas, familiares, sociais, profissionais e até espirituais. Só assim uma mudança de vida como uma dieta alimentar ou um programa de exercícios físicos terá sucesso, pois você perceberá que o excesso de peso terá outra razão além de restos de um passado que não mais te influencia. Emagrecer não é tão fácil como se imagina e na maioria das vezes é necessário muita ajuda, principalmente a psicológica, e é um grande desacerto acusar quem não está obtendo sucesso de preguiçoso ou incapaz, porque existem uma infinidade de mecanismos físicos, bioquímicos e psíquicos que entram em estado de alarme e reagem prontamente a qualquer experiência de fome ou sentimento de perda, inevitáveis em qualquer dieta de emagrecimento.

PÍLULAS:

  1. Autoconhecimento é a base para qualquer mudança de vida;
  2. Amor próprio ou auto-estima é o único meio que te deixará em paz com o espelho;
  3. Viver com sentido e significado é o que confere beleza, saúde e relações prazerosas na vida;
  4. Lembre-se: comer para viver e não viver para comer;
  5. Procure ajuda psicológica para superar as dificuldades e evitar as recaídas

Texto publicado na revista IstoÉ Gente em Abril/2007

* WALDEMAR MAGALDI FILHO

Psicólogo, Analista Junguiano, especialista em Psicologia Junguiana, Psicossomática, Arteterapia e Homeopatia. Mestre e doutor em Ciências da Religião. Autor do livro: “Dinheiro, Saúde e Sagrado, coordenador dos cursos de especialização em Psicologia Junguiana, Psicossomática, Arteterapia e Expressões Criativas.

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