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Leonardo da Vinci

Neste artigo vamos abordar Leonardo da Vinci e sua genialidade pelo viés junguiano com dinâmicas de luz e sombra tendo com base a Obra de Walter Isaacson e as anotações de Da Vinci nos seus caderninhos, além das próprias observações de C. G. Jung sobre esse personagem tão peculiar que foi Leonardo di Ser Piero da Vinci.

Neste artigo vamos abordar Leonardo da Vinci e sua genialidade pelo viés junguiano com dinâmicas de luz e sombra tendo com base a Obra de Walter Isaacson e as anotações de Da Vinci nos seus caderninhos, além das próprias observações de C. G. Jung sobre esse personagem tão peculiar que foi Leonardo di Ser Piero da Vinci.

Resumo: Neste artigo vamos abordar Leonardo da Vinci e sua genialidade pelo viés junguiano com dinâmicas de luz e sombra tendo com base a Obra de Walter Isaacson e as anotações de Da Vinci nos seus caderninhos, além das próprias observações de C. G. Jung sobre esse personagem tão peculiar que foi Leonardo di Ser Piero da Vinci.

O título desse artigo pode ter chamado a sua atenção só pelo nome do nosso personagem, mas a minha expectativa é trazer o que está para além da genialidade de Da Vinci.

Leonardo, talvez seja um homem em si mais interessante do que as suas obras em si. Ao me deparar com o livro “Leonardo da Vinci” do autor Walter Isaacson, pude adentrar em um lugar que não pensei ser possível mesmo estudando sobre a arte de Leonardo da Vinci ao longo de tantos anos. E isso, pelo viés da psicologia analítica se tornou ainda mais profundo para mim, e quis compartilhar com vocês.

Talvez seja um “artigo” um tanto informal, algo mais solto, menos preso ao tipo de retórica que costumo ter, mas peço paciência, e que vocês tentem me acompanhar nesse fluxo de pensamentos, ideias e percepções que a psicologia de C. G. Jung pode nos trazer ao ler sobre algo que gostamos e achávamos já “conhecer”. Sempre podemos nos deparar com o “RE – conhecimento” de algo fora ou dentro de nós. E estudar sobre Da Vinci me proporcionou isso.

As historiografias de Leonardo da Vinci têm perspectivas diferentes quando vamos ver qual espectro ela está sendo abordada.

Na arte, que talvez seja o principal (ou mais comum), vemos muito as 12 obras completas sendo consideradas verdadeiras obras-primas. Suas técnicas de chiaroscuro e sfumato sendo enaltecidas como criações que mudaram a História da Arte ou seus esboços de anatomia que até pouquíssimo tempo eram utilizados em livros médicos de anatomia dada sua perícia e competência técnica na reprodução daquilo que ele havia estudado secretamente nos idos 1480 (ISAACSON, 2017).

Mas da Vinci se apresentava como engenheiro de tudo o que fosse preciso numa “carta ao governador de Milão listando os motivos pelos quais deveria lhe dar um emprego […] só no décimo primeiro parágrafo ele mencionou que também era artista” (ISAACSON, p.19, 2017). O curioso dessa apresentação é pensar se ele realmente se via como tudo isso e – também – pintor como algo extra, ou se ele sabia se vender a época dadas as necessidades daquele tempo.

A genialidade de Leonardo da Vinci veio ao logo da história trazendo questões e impressões de grandes nomes.

O próprio Freud se ocupou em escrever sobre o artista no seu livro Uma Recordação De Infância De Leonardo Da Vinci, e no prefácio de seu livro os psicanalistas Kon e Majolo falam da “provável identificação” de Freud com Da Vinci não só pela genialidade mas pela capacidade de fazer perguntas sem respostas – o que encontramos em demasia nos seus cadernos, como se ele pensasse e anotasse para não esquecer suas perguntas, assim como uma criança curiosa. Mas Sigmund Freud, segue sua reflexão no contorno da infância com “duas mães” de Leonardo Da Vinci, e isso é pontuado por Jung (algumas vezes) ao longo de Obras Completas.

Fazendo um breve resumo da vida de Da Vinci, ele foi filho ilegítimo e sua mãe, Catarina, sendo uma simples campesina, renunciou a sua criação e o entregou ao seu pai Piero da Vinci que era tabelião e vinha de uma família que tinha alguns bens e ascensão social. Os avós, pais de Ser Piero da Vinci, criaram Leonardo até o casamento do pai com sua primeira madrasta, que nunca teve filhos com seu pai, mas o amava e faleceu quando ele tinha 12 anos no seu primeiro parto de uma criança natimorta. Leonardo só foi ter irmãos quando ele já tinha 24 anos e seu pai estava no terceiro casamento.

Isaacson relata no seu livro que Leonardo nasceu “na época de ouro dos bastardos” (ISAACSON, 2017) pois mesmo sem seu pai ter lhe possibilitado uma educação formal a época, Leonardo foi criado como filho.

O não reconhecimento de registro deu ao artista a liberdade de ser quem se era, o que seria uma impossibilidade se ele fosse tutelado com legitimidade, pois os filhos homens mais velhos herdavam a profissão do pai. Leonardo não só pode trilhar seu caminho como um autodidata multidisciplinar como era incentivado por seu pai.

A questão trabalhada pela psicanalise de Freud e repensada pela psicologia profunda de Jung se da em cima do complexo materno, dessa questão das duas mães e suas representações na arte de da Vinci.

E a obra em questão é A Virgem e o Menino com Santa Ana (1508-1513) uma das muitas obras não finalizadas pelo da Vinci. De qualquer forma, Jung contesta Freud sobre a consciência de Leonardo Da Vinci sobre essa questão da renúncia da mãe e as consequências disso.

Jung acredita que o tema trazido é um tema mítico e vivenciado não só no âmbito pessoal do artista.

“supor que ele mesmo se identificava com o menino Jesus, provavelmente representava a dupla maternidade mítica e de modo alguma sua própria história pessoal. E o que dizer de todos os demais artistas que representaram o mesmo tema? Será que todos eles tinham duas mães?”

JUNG, 2012 §95

Freud foi muito criticado por esse ensaio sobre Leonardo, e bastante contestado por Jung.

Leonardo era livre, ou pelo menos se sentia assim. Os relatos sobre a sua beleza, graça, educação e inteligência estão disponíveis em todos os documentos de contemporâneos da época. Inclusive existem muitos gênios renascentistas da época com quem Leonardo se encontrou e podemos hoje fazer paralelos entre suas personas e obras. Michelangelo foi um que como Leonardo era homoafetivo, mas tinha questões extremamente repressivas sobre sua condição (o que era considerado pecado, na época) mas isso nunca foi “uma questão” para Da Vinci, ele se permitiu viver suas histórias amorosas de forma espontânea e natural. (ISAACSON, 2017)

“Ele já estava ganhando fama como alguém que se vestia de forma muito colorida, apaixonado por gibão de brocado e túnica cor de rosa, e também para ser um artista com talento para montagens teatrais muito imaginativas.” (ISAACSON, 2017, p. 64)

Leonardo era bonito, inteligente, criativo, delicado, tocava, desenhava, escrevia ideias e tentava fundamentá-las, mas seus aspectos sombrios permeavam tudo isso, entramos pouco em contato com a sombra de Da Vinci pois como seres humanos olhamos a superfície com mais clareza, aprofundar é tentar compreender.

Ao mesmo tempo de tantas qualidades positivas, Leonardo era um homem que abandonava seus projetos com muita facilidade no meio. Não se sabe se por um perfeccionismo exacerbado ou se por desinteresse puro por já ter “realizado” na sua mente criativa aquilo que estava porvir.

Como já relatado neste texto, só existem 12 obras acabadas e delegadas a Da Vinci. Muitas obras são inacabadas ou tem especialistas que contestam a veracidade da origem ser dele ou alegam que foram acabadas por outros artistas anônimos pela falta de “alma” em algumas minucias que não seriam permitidas por Leonardo. Ele era relapso, obsessivo, procrastinador, desinteressado, crítico. Sua observação era de certa forma compulsiva a ponto dele conseguir detalhar no seu caderninho como eram o bater de asas de uma libélula. (ISAACSON, 2017, p.205)

Leonardo se relacionou aos 38 anos com um rapaz de 13 chamado Giacomo, apelidado Salai, esse relacionamento foi duradouro, mas trouxe muitas questões pois Salai era iluminação de ideias, mas ao mesmo tempo o próprio Leonardo chamava o rapaz de “diabinho” (ISAACSON, 2017).

De inspiração a imagem do Homem Vitruviano (1490) ele também roubava, mentia e manipulava Leonardo. Leonardo sabia dada algumas anotações nos seus cadernos sobre situações inusitadas as quais era colocado pelo seu “pupilo”. “Ladrão, mentiroso, teimoso, ganancioso.” “Salai, eu quero paz, não guerra. Chega de Guerra, eu desisto.” (ISAACSON, 2017, p.157)

Leonardo podia escrever com a mão esquerda e desenhar com a mão direita ao mesmo tempo. Mas ao envelhecer temos relatos de envelhecimento “precoce”, ele aparentava mais idoso do que realmente era com 60, 65 anos. Walter Isaacson escreve: “Quando chegou aos sessenta anos, seus demônios e tormentos podem ter cobrado o preço” (Ibdem. p.534). E problemas físicos, que poderiam ter sidos causados por um derrame, também foram descritos por Antonio De Beatis, artista contemporâneo de Da Vinci; ele relata uma paralisia na mão direita de Leonardo.

Ao embarcar nos cadernos de Leonardo da Vinci, sendo guiados por Walter Isaacson, temos a oportunidade de construir uma a figura mais honesta de uma personalidade genial com integridade.

A inteireza da luz e da sombra estão presentes nas perguntas irrespondíveis, nos esboços feitos ao jantar com estranhos a convite do próprio Leonardo apenas para saber como aperfeiçoar facetas humanas, suas intenções de criar e passar realidade através de fantasias fantásticas. Ele era a junção de imaginação e execução. Mas acabava se comprometendo quando SE realizava, suas perguntas respondidas eram soluções internas, mas motivadoras de angústia como as dissecações de cadáveres feitas secretamente; tal foi o caso que ele sentiu necessidade de se confessar no leito de morte para dar conta de tamanha inquietude.

Leonardo da Vinci é um dos maiores gênios do Renascentismo, e talvez da humanidade, mas sua história nos mostra um ser humano cheio de perguntas que quis se responder. E esse tipo de atuação no mundo e respeito consigo mesmo, me faz refletir sobre nossos propósitos e a questão que Jung nos põe em toda sua obra que é explicita em Sonhos, Memórias e Reflexões: “Sou eu próprio uma questão colocada ao mundo e devo fornecer minha resposta; caso contrário, estarei reduzido à resposta que o mundo me der.” (JUNG, 2019, p.314)

Bárbara Pessanha – Membro Didata em formação IJEP

Dra. E. Simone Magaldi – Membro Didata IJEP

Referências:

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. ed. Petrópolis: Vozes, 2012. (Obras Completas de C. G. Jung, v. 9/2).

JUNG, Carl Gustav. Sonhos, memórias e reflexões. ed. Especial e Limitada. Coleção Clássicos de Ouro. Nova Fronteira, 2019.

Isaacson, Walter. Leonardo da Vinci. Editora Intrínseca Ltda., capa mole, edição livro brochura em português, 2017.

Equipe Editorial. Leonardo da Vinci: 15 fatos que talvez você não saiba. Disponível em:https://arteref.com/arte-no-mundo/15-fatos-sobre-leonardo-da-vinci-voce-talvez-nao-saiba/, Acesso em: nov.2024.

AIDAR, Laura. Vida e Obra de Leonardo da Vinci. Disponível em:https://www.todamateria.com.br/vida-e-obra-de-leonardo-da-vinci/, Acesso em: nov.2024.

Arte Para Você. Leonardo da Vinci: fatos e curiosidades. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=2u19pPKraVI, Acesso em: nov.2024.

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