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Arteterapia: o fazer artístico como linguagem da alma

Arteterapia, o fazer artístico como linguagem da alma

Arteterapia, o fazer artístico como linguagem da alma

Nos tempos contemporâneos cada vez mais se discute a importância do autoconhecimento para o bem-estar e a qualidade de vida. Nesse sentido, a arteterapia tem se destacado como uma técnica valiosa para auxiliar nessa jornada de desenvolvimento pessoal, promovendo o autoconhecimento a partir do fazer artístico.

O desenvolvimento do autoconhecimento geralmente é doloroso, fato que pode dificultar o processo terapêutico. Assim, o uso do aspecto lúdico oferecido pela arteterapia facilita a interação entre consciente e inconsciente, bem como entre cliente e arteterapeuta ao oferecer forma, cor e expressão as emoções.

Por meio do fazer artístico o arteterapeuta convida o cliente a explorar a sua imaginação e criatividade. Com isso, torna possível trazer à tona questões inconscientes que precisam ser trabalhadas a fim de obter uma vida com harmonia e leveza.

Para Jung, a arte é a linguagem da alma, podendo funcionar como um veículo eficiente de comunicação não verbal que possibilita a sua compreensão.

Uma das definições de arte encontrada nos dicionários da língua portuguesa é: “Obra humana, de funções práticas ou mágicas, e posteriormente considerada bela, sugestiva.” (HOUAISS,2001, p. 306). Apesar de que muitas expressões artísticas surgem para questionar o padrão dominante da beleza, gerando incômodos como toda criação criativa.

Essa é uma forma interessante de compreender a arte e associá-la a arteterapia, principalmente pelas suas funções mágicas e seu caráter sugestivo que permitem sua utilização como instrumento terapêutico. Segundo Arcuri e Dibo:

“arteterapia envolve um processo que se serve da expressão artística espontânea e dos símbolos nela contida para criar uma ponte entre os mundos internos e externos dos indivíduos. Em terapia, a criação artística dá margem à observação, reflexão, interação, diálogo e elaboração, e, assim, proporciona o reconhecimento da dinâmica psíquica.”

ARCURI, DIBO, 2010, p.18

A arte como linguagem simbólica encerra em si o potencial de tornar visível o que é invisível. Talvez seja por isso que o processo arteterapêutico tenha capacidade de revelar a riqueza inconsciente de cada pessoa.

A arteterapia, por meio do ato de criar, pode utilizar recursos como a música, a dança, o teatro bem como as representações plásticas (pintura, modelagem, desenhos, colagem, mandalas, dentre outros) como ferramentas que permitem canalizar a energia psíquica e criar símbolos que colaboram para a emersão e compreensão de  conteúdos conflitivos inconscientes, tornando-os visíveis a consciência para que sejam confrontados, elaborados e reorganizados, favorecendo, assim, a estruturação e desenvolvimento da personalidade.

Para Jung, a meta do ser humano é torna-se aquilo que potencialmente veio para ser, processo que denominou individuação.

Durante esse processo é necessário um mergulho em nós mesmos a fim de reconhecer e nos despir das falsas roupagens da persona que adquirimos para sermos aceitos no mundo; confrontar e acolher a sombra que constitui aspectos nossos que foram reprimidos ou ignorados, mesmo sendo repletos de energia criativa. E por fim, caminhar ao encontro do si mesmo, ou self, arquétipo central e fonte de energia preexistente em nossa psique.

Existe dentro de nós um movimento para que sejamos nós mesmos, para que obtenhamos o máximo possível da nossa força vital e para que vivamos a nossa inteireza.

Mas afinal, o que nos impede de sermos nós mesmos?

Na visão da psicologia junguiana, esta dificuldade ocorre devido a desconexão com o nosso centro, com o self. Uma vida sem centro é uma vida sem sentido.

O processo de autoconhecimento nos auxilia a acessar nossa “bússola interna” e encontrar o nosso próprio caminho. O self, é a bussola que regula e orienta a psique através dos símbolos.

Os símbolos são os portadores das mensagens do self e agentes de cura. São guias que nos auxiliam a encontrar o nosso caminho.

A psique pode ser considerada um vasto oceano inconsciente de onde emerge pequenas ilhas de consciência. Jung descobriu, através da sua experiência pessoal e das observações clínicas, que a arte funciona como uma forma de expressão do inconsciente.

O inconsciente fala através dos símbolos.

Segundo Jung: “muitas vezes as mãos resolvem um enigma com o qual o intelecto luta em vão.” (JUNG, 2013b, p.140)

As expressões artísticas geram imagens produzidas pelo inconsciente que expressam, de forma simbólica, conteúdos psíquicos desconhecidos ou reprimidos. Vale ressaltar que os símbolos tendem a emergir quando a psique busca resolver um conflito inconsciente.

A arteterapia facilita decifrar o mundo interno. A arte é ferramenta fundamental para o desenvolvimento humano, visto que permite ao individuo expressar de forma não verbal seus conteúdos conflitivos e aspectos inconscientes, escapando assim do domínio da razão.

Promover o diálogo honesto entre consciente e inconsciente favorece o movimento da energia psíquica e, por conseguinte, pode compensar a desordem psíquica e promover o aspecto criativo.

Jung enfatiza que uma situação de embate entre o ego e a sombra só pode ser equacionada por um símbolo, pois este permite a conjugação dos pares de opostos e a integração deste conteúdo a consciência.

Os símbolos nascem da alma.

Os símbolos nascem da alma. É a imagem de um conteúdo inconsciente que intenciona se expressar para resgatar algo que foi ignorado ou não desenvolvido. Segundo Jung, “são fatos complexos e ainda não compreendido pela consciência” (JUNG, 2013a, $ 148).

Desta forma, as expressões criativas permitem materializar uma imagem simbólica da psique do indivíduo em um determinado momento. Um processo terapêutico baseado na produção e ampliação de uma série de expressões criativas permite ao arteterapeuta acompanhar o cliente e auxiliá-lo a compreender e a reorganizar seus processos psíquicos.

É importante salientar que a análise e ampliação dos símbolos que constituem as expressões artísticas durante o processo terapêutico requer muito cuidado para não gerar uma redução simbólica, pois cada símbolo possui significação peculiar para o indivíduo que o produziu. Ou seja, a imagem projetada em um desenho pode ter diversos significados.

Assim, a abordagem adequada diante de um conteúdo simbólico é a ampliação, que consiste em explorar as diversas possibilidades para a imagem produzida.

Simbolizar

Simbolizar significa ressignificar, abrir caminhos, acessar o desconhecido, enxergar possibilidades e promover uma mudança de atitude consciente perante uma determinada situação da vida.

Diante do exposto percebemos que o trabalho com as expressões criativas transforma a arte em um meio facilitador que confere uma manifestação visível ao afeto, facilitando a compreensão do mundo interno através do confronto das imagens simbólicas produzidas, permitindo assim, desenvolver um novo estado de consciência e novas atitudes.

No processo terapêutico a expressão criativa ajuda a revelar a riqueza inconsciente de cada pessoa. Por possuir uma linguagem simbólica, é eficiente para acessar a alma e desenvolver o autoconhecimento, a autoexpressão e autonomia.

O inconsciente se constela através da imagem simbólica. O arteterapeuta ao estimular o seu cliente a desenvolver o pensamento simbólico está auxiliando-o a compreender a linguagem da sua alma e, desta forma, encontrar o seu próprio caminho, pois como bem sinalizou o pintor suíço Paul Klee:

“A arte não existe para reproduzir o visível, mas para tornar visível aquilo que está mais além dos olhos.”

Caroline Costa – Analista em Formação IJEP

Waldemar Magaldi – Analista Didata IJEP

REFERÊNCIAS:

ARCURÍ, Irene Gaeta; Dibo, Monalisa. Arteterapia e mandalas: uma abordagem junguiana. São Paulo: Vetor, 2010.

JUNG, Carl Gustav. A natureza da psique. 10. ed. Petrópolis: Vozes, 2013a.

______ O espírito na arte e na ciência. 8.ed. Petrópolis: Vozes, 2013b.`

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