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A natureza psíquica e física e seus desafios: como harmonizar a rotina estressante e o sentido da vida?

Uma reflexão sobre a relação entre corpo e mente, a busca do sentido da vida e a importância da harmonia com a natureza e o autoconhecimento.

Uma reflexão sobre a relação entre corpo e mente, a busca do sentido da vida e a importância da harmonia com a natureza e o autoconhecimento.

As rotinas entrelaçadas com atividades estressantes nos convidam para um diálogo interno. Geralmente em momentos de quietude, solidão ou solitude, podemos estabelecer uma conexão entre a natureza interna, compreendida como psique – alma, espírito, mente – traduzida por sentimentos, pensamentos e percepções e a natureza externa – o corpo físico – que permite interação e adaptação ao meio ambiente em contato com a água, o ar, a energia, o solo, a fauna, a flora e a cultura humana. Neste sentido, psique e corpo são vistos por alguns estudiosos como aspectos antagônicos, porém com as ampliações que seguem pretende-se evidenciá-los como complementaridade integrativa possibilitando a busca e o encontro do sentido de vida. 

No período que antecede ou mesmo durante as festas do final de ano o clima é favorável para fazer uma retrospectiva do ano que está encerrando e organizar promessas de melhorias e adaptações necessárias, principalmente ao ouvir e cantar a música Fim de Ano, mais conhecida como Adeus Ano Velho, Feliz Ano Novo, composição de David Nasser e Francisco Alves, originalmente cantada por João Dias no ano de 1951: “Adeus ano velho, feliz ano novo. Que tudo se realize no ano que vai nascer {…}.”

A música inspira dias melhores em todos os sentidos, convida para um olhar diferenciado, que de acordo com Jung envolve o autoconhecimento:

“Minha experiência ensinou-me o quanto é salutar, do ponto de vista terapêutico tornar conscientes as imagens que residem por detrás das emoções.” (JUNG, 1987, p. 158).

Ao mesmo tempo que a letra da música e o pensar de Jung contemplam aspectos da psique, da mesma forma podem alargar o repensar de atitudes coletivas, influenciando o ambiente físico em que vivemos.

No calendário gregoriano o ano inicia em 1º de janeiro. Na  astrologia o começo do ano é marcado pelo ingresso do Sol no signo de Áries, o que geralmente ocorre em 20 de março. Independente das diferentes concepções, o verão passou, é tempo de outono e muitas promessas de mudanças ainda não fazem parte da rotina. Como cantam Sandy & Júnior (2001) com As Quatro Estações, “No outono é sempre igual, as folhas caem no quintal {…}.”

Analogicamente, as folhas podem representar vários aspectos do psiquismo humano.  Antes de caírem, as folhas têm a função acolhedora de serem sombra e de melhorarem o ar do entorno relacional, depois cumprem outro papel, transformam-se em adubo para beneficiarem outros ciclos de vida. Muito parecido com os indivíduos que encontram e cumprem seu sentido de vida. Em contrapartida, outros passam seus dias, semanas, meses, anos, permanecem numa rotina estressante e não priorizam a essência da vida.

Ao falarmos de natureza psíquica, vale lembrar o pensar de Jung:

“Todas as expressões possíveis e imagináveis, quaisquer que sejam, são produtos da psique” (JUNG, 1987, p. 302).

As rotinas estressantes revelam o excesso de energia em determinada área, em detrimento de outras.  No plano psicológico, o excesso pode se manifestar em forma de ansiedade e depressão, diminuindo a qualidade de vida. Muitos sintomas se estabelecem pelo excesso de trabalho, pela má alimentação, pelo sedentarismo, pela alteração do ciclo de sono, entre outros. Em termos gerais, a qualidade de vida envolve o bem estar físico, mental, espiritual, psicológico e emocional. É a forma que o indivíduo escolhe para viver bem consigo, com o entorno relacional e depende de muitos fatores: saúde, da renda, da segurança, da habitação, da educação, da convivência, do lazer, etc. Ou seja, é um ser individual e plural, que necessita também da sensação de significado e de sentido.

E nesta busca é comum colocar em primeiro plano as metas e aquisições necessárias para o alcance de padrões desejáveis que a sociedade impõe. Ao mesmo tempo, busca-se a felicidade a qualquer custo. Na ilusão de encontrá-la na saciedade alimentar, no prazer sexual, no controle e outras satisfações momentâneas, que podem ser entendidas como emoção de alegria, diferente de felicidade que é construída e envolve a missão do ser humano. Surgem questões: Além das obrigações e escolhas diárias, o que dá sentido para a vida? De que forma o sentido da vida está interligado com o ambiente em que vivemos?

Investimentos na saúde ambiental são necessários e envolvem aspectos da saúde humana, voltados aos fatores físicos, químicos, biológicos, sociais e psicológicos.

Entre os eventos que a natureza exalta, comparecem nos últimos tempos as mudanças climáticas, interferindo em diferentes dimensões. Cada vez mais visíveis são as alterações na natureza física, como recentemente a presença do sol e do calor aumentado em algumas regiões e o excesso de chuva e frio em outras. Observam-se evidências e mudanças climáticas significativas a partir das polaridades sol e chuva, calor e frio, que precisam de harmonização. 

Clima é uma palavra bastante utilizada em diferentes contextos e, segundo o minidicionário da língua portuguesa (BUENO, 2000, p. 171), significa um conjunto de condições meteorológicas de uma dada região. Clima bom, clima ruim, clima favorável ou desfavorável, são expressões que indicam condições ambientais e, no conhecimento popular, podem ser compreendidas como conjunto de características favoráveis ou contrárias no ambiente que envolvem atitudes e sentimentos.

Ditados populares expressam se o clima não está bom e as condições não estão favoráveis, como “névoa baixa, sol que racha”, que envolve um fenômeno meteorológico conhecido como cerração, em que ocorrem mudanças bruscas no clima em determinado espaço e geram necessidades, ajustes ou transformações, assim como a vida rotineira requer harmonizações.

O trabalho é uma das dimensões importantes da vida, que envolve grande parte do dia, com possibilidades de realização ou insatisfação.

Um olhar importante é o da psicologia organizacional – uma das abordagens da psicologia – que iniciou em 1930 e gradativamente foi aumentando os estudos no decorrer dos anos sobre o clima organizacional, tendo como missão a compreensão das necessidades, percepções e preocupações dos colaboradores de uma empresa.

Pode-se entender como clima quente neste contexto o desconforto, os sintomas de estresse, a depressão e a ansiedade, assim como a Síndrome de Burnout, um distúrbio psíquico que comparece nas empresas em forma de exaustão física e emocional, dores musculares e outros sintomas mais. O que parece algo pontual, interfere no todo e reflete em todas as áreas da vida, inclusive no plano psicológico.

Vive-se numa contradição: ao mesmo tempo que não se valoriza a natureza com atitudes de preservação, é junto à natureza que ocorre o desligamento da rotina e o relaxamento. Isso pode ser observado nas escolhas e definições que envolvem os finais de semana, os feriados e as férias. Indivíduos refugiam-se em pousadas, clubes, chácaras, lagos, cachoeiras, rios, praias, montanhas e em muitos ambientes naturais que permitem uma conexão com a alma.

O meio ambiente é essencial, no entanto age-se como se os elementos que hoje fazem tão bem fossem eternos.

O tema preservação da natureza não desperta o interesse de todos, por interferir em diversas produções e também em aspectos financeiros, porém é necessário um olhar para o que ocorre no entorno físico e relacional.

Neste sentido, existem inúmeros aspectos para serem contemplados e ampliados, como por exemplo a poluição do ar que causa doenças respiratórias, mentais e cardiovasculares. Chuva e seca em excesso também resultam em doenças transmitidas por mosquitos, insolação, alergias, pneumonia e problemas gastrointestinais. Um exemplo típico é o surto ou a epidemia de dengue nas diferentes regiões do país.

A sociedade culpa o governo e governo culpa a sociedade.

Nestes casos, há uma tendência de achar um “bode expiatório” e continuar na posição de vítima. É um processo antagônico e cômodo, mas que não gera mudanças e apresenta tendências de agravamento.

É interessante observar que, segundo as previsões da Organização Meteorológica Mundial, há tendência de as temperaturas globais ultrapassarem de 1,5 °C de aquecimento nos próximos 5 anos. São alterações silenciosas de muitos anos, cujo resultado envolve atitudes do excesso decorrentes das ações humanas: a derrubada de árvores de forma desenfreada, as produções das indústrias, ocupação urbana desordenada e o excesso de lixos.

Algumas providências foram tomadas como, por exemplo, em 16 de março de 2011 foi instituído o Dia Nacional de Conscientização sobre as mudanças climáticas, decretado pela Lei Nº 12.533, para promover debates, atos, mobilizações e eventos que promovam a proteção dos ecossistemas. É interessante lembrar que as atitudes externas refletem um psiquismo interno.

Desta forma, percebe-se movimento e investimento de energia para contemplar o lixo físico.

E o que é feito com os lixos internos que alteram o ser humano e seu entorno relacional? Todo excesso encobre uma falta! Falta que é suprida com objetos, aquisições materiais, alimentos, sexo, redes sociais, etc. O que de fato está faltando? Há muitos anos Jung escreveu sobre os excessos:

“Qualquer que seja a forma que revele o excesso que nos entregamos, como o álcool, a morfina ou o idealismo, é nociva” (JUNG, 1987, p. 284).

O excesso gera consequências! Muitas vezes o apego é centrado em regras e leis exteriores, ao invés de olhar para os aspectos internos que podem ser abarcados por um processo de análise, tendo em vista a melhoria no autoconhecimento, na autoestima e na autonomia.

Pequenas atitudes diárias de todos podem fazer a diferença.

Nas escolas, desde a educação infantil, ensina-se sobre a importância da natureza, da coleta seletiva, da reciclagem e do cuidado com o meio ambiente. E onde isso se perde? É necessário passar por um calor excessivo e devastações causadas pela água para produzir saídas criativas? A pandemia do Covid-19 não foi suficiente para promover mudanças significativas! A forma de proteção e sobrevivência no período se promoveu pelo afastamento de um mundo acelerado e o recolhimento nos lares.

Afastar-se do excesso e recolher-se, não só pode ser uma saída criativa, como pode promover ressignificações individuais e coletivas. É preciso olhar adiante, para o mundo que será deixado para as próximas gerações. Todos podem contribuir e para isso algumas vezes é necessário abrir mão do conforto, do mais fácil, do mais acessível, do descartável e do imediatismo.

Furacões, ciclones, tempestades, ondas de calor, secas, inundações e enchentes internas prolongadas, o que elas dizem e como lidar com elas? Para responder as questões sobre a natureza física, psíquica e suas transformações, é interessante fazer conexões com a alquimia tão estudada por Jung.

Simbolicamente, o calor faz transmutar elementos que são colocados no cadinho, lugar onde os alquimistas colocavam elementos para serem transformados, que pode ser comparado com a realidade da vida, com elementos angustiantes e destrutivos, possíveis de serem ressignificados.

Para tanto, uma saída criativa é transitar entre Prometeu (introvertido) e Epimeteu (extrovertido), que evidenciam o arquétipo do renascimento, da circularidade e dos ciclos, com possibilidade de integrar os elementos internos e externos:

“Trata-se, antes, neste conflito das duas figuras, a luta entre a linha evolutiva do introvertido e extrovertido num único e mesmo indivíduo, mas que a exposição poética materializou em duas figuras autônomas em seus destinos típicos” (JUNG, 2013, §262).

Não se trata de eliminar sintomas.

É necessário integrar os conteúdos do inconsciente com a consciência. Quanto mais se compreende o funcionamento do psiquismo, mais possibilidades de adaptações e integrações com o meio ambiente, que se reverte em plenitude.

Percorrendo a obra completa de Jung, em Estudos Alquímicos, eletrouxe aspectos relevantes que contribuíram para o entendimento simbólico da alquimia, permeadas de experiências vivas, voltadas ao psiquismo e aos elementos da natureza:

“O elemento terra está relacionado à função sensação e é denominado de operação coagulatio. O elemento água está relacionado à função sentimento e é denominado de operação solutio. O elemento ar relaciona-se com a função pensamento e é chamado de operação sublimatio. Finalmente, o elemento fogo está relacionado com a função intuição e envolve a operação calcionatio” (STRIEDER, 2022, p. 37).

Ele disse:

“O sábio extrai dessas imagens as inspirações mais sublimes, tudo que é pleno de sentido e valor; ele o extrai mediante um processo de destilação” (JUNG 2013, p. 222).

Ele apresentou as visões de Zózimo de Panópolis – alquimista e gnóstico do século III – que contribuíram para esclarecer inquietações sobre o psiquismo, abordando temas como a composição das águas, num movimento de contração e expansão, a subida de sete degraus e observação de sete castigos no salão do sofrimento. Igualmente, o altar divino no quarto degrau, com a visão de alguém vindo do oriente com espada na mão, seguido por outro com uma esfera giratória branca radiante, o meridiano do sol, incentivando-o para o sacrifício. Esses aspectos, simbolicamente em seus diferentes momentos resumem o que envolve um processo de individuação. Não há transformação sem dor!

A experiência anímica de Zózimo vem ao encontro do campo junguiano e de acordo com a fala de Magaldi Filho, em Método Junguiano e a Alquimia, (vídeo no YouTube, 03 janeiro 2004), existem aspectos que envolvem o processo analítico para promover a ampliação da consciência e podem ser compreendidos simbolicamente pela alquimia.  Nele ocorre o que denominamos de rebaixamento do nível mental no vaso alquímico, permeado por um ambiente seguro, um encontro com o inconsciente pela associação de palavras, análise de sonhos e imaginação ativa. Transformar o chumbo em ouro envolve a compreensão do simbolismo, que contribui para a transmutação e evolução. Ou seja, difere de um olhar redutivo causal e vai ao encontro do prospectivo sintético. Além do motivo da nossa angústia (por quê), existe um sentido para a dor estar presente (para quê).

De modo semelhante, Jung apresentou Paracelso como um fenômeno espiritual e “um pioneiro não só da medicina química, mas também da psicologia empírica e da psicologia médica” (JUNG, 2013, p. 204).

Ele viveu num período em que não havia a cisão entre conhecimento e fé, representando a consciência que se amplia com análise, dissolução, síntese, consolidação e elevação. Ainda, para a compreensão de expressões espontâneas do inconsciente, Jung ampliou o conceito Mercurius da alquimia e tentou mostrar como aspectos diabólicos, neuróticos e perversos podem ser transformados, pelo conto de Grimm O Espírito da Garrafa (CFE. JUNG, 2013, p. 239). O espírito Mercurius nos remete à ambiguidade: “ele é deus, gênio, pessoa, coisa e o que se oculta no mais íntimo do ser humano, tanto psiquicamente como somaticamente. Ele é fonte de todos os opostos” (JUNG, 2013, p. 373). Esses opostos sombrios e numinosos estão em todos os indivíduos e podem ser integrados.

Ainda, no mesmo livro, ao ampliar questões sobre a árvore filosófica da alquimia, Jung reflete sobre o si-mesmo – origem e meta do processo de individuação – e o fenômeno do crescimento, com imagens individuais e relações históricas, que auxiliam na compreensão do uso do desenho de árvore por psicólogos (como parte do teste HTP) na realização do psicodiagnóstico, avaliando a essência e a personalidade de quem a desenhou.

A analogia poética da árvore filosófica permite observar o fenômeno natural do crescimento da psique, peculiar nas plantas, em que a semente ou muda de planta precisa de terreno fértil e cuidados para crescer, florescer e frutificar e cumprir toso os seus ciclos.

Analogicamente, a felicidade da árvore frutífera é dar frutos, mesmo que não se alimente deles. Outros o farão.

De forma idêntica, a psique vai se formando e transformando aos poucos, influenciando os outros, recebendo influências, cumprindo o seu processo cíclico, como os elementos da natureza. É importante observar o quanto o ser humano é influenciado por um vasto campo de informações disponíveis na internet, que atravessam a sua rotina pelas redes sociais. Que bom seria se todos pudessem filtrar essas informações e não se sentissem fora do contexto por não reproduzirem esses conteúdos!

Jung já dizia:

Nós nos contentamos assim de adquirir certos conceitos verbais, mas passamos ao lado do seu verdadeiro conteúdo, que consiste na experiência viva e impressionante do processo feito sobre nós mesmos. (JUNG, 2013, p.374).

Em outras palavras, Jung sugeriu um investimento no processo de individuação, trazendo os conteúdos inconscientes para a consciência, no alcance do si-mesmo (selbst).

A confrontação com o inconsciente tem como meta fazer cessar a dissociação, que geralmente inicia pelo inconsciente pessoal, de acordo com as sombras morais e posteriormente pelo inconsciente coletivo, com as representações arquetípicas. É um processo intenso e às vezes dolorido, que envolve a compreensão intelectual e também a experiência viva, considerada por Jung a verdadeira experiência que permite o encontro com a alma. O processo de desenvolvimento pode desencadear crises e dependendo da intensidade, causar sensações de enlouquecimento. Mas Jung alertou:

“Enlouquecer não é nenhuma arte, mas extrair a sabedoria da loucura, eis a arte. A loucura é a mãe dos sábios, jamais a inteligência” (JUNG, 2013, p. 195).

Transformar a dor é sabedoria!

Jung é um exemplo de quem buscou e encontrou o sentido de sua vida. Durante os anos em que elaborou o Livro Vermelho ele deixou de lado as responsabilidades intelectuais e as responsabilidades éticas. O espírito da época não comportava algumas das suas vivências, pois estava imerso num processo de entrega diante da necessidade, movido por angústias e conexões:

“Senti urgência de tirar conclusões concretas dos acontecimentos que o inconsciente me havia transmitido, e isto se transformou na tarefa e conteúdo da minha vida” (JUNG, 1987, p. 167).

E quantas vezes se sentiu imerso na solidão.

“A solidão não significa a ausência de pessoas em nossa volta, mas sim o fato de não podermos comunicar-lhes as coisas que julgamos importantes, ou mostrar-lhes o valor de pensamentos que lhes parecem improváveis” (JUNG, 1987, p. 307).

Essas reflexões vêm ao encontro do contexto atual e na música de Ana Carolina, As Ruas de Outono, a solidão comparece em forma de abandono e ao mesmo tempo enaltece a esperança de que tudo pode mudar:

Nas ruas de outono os meus passos vão ficar.
E todo abandono que eu sentia vai passar.
As folhas pelo chão que um dia o vento vai levar.
Meus olhos só verão que tudo poderá mudar.
(ANA CAROLINA, 2006)

Vale lembrar que as estações do ano, metaforicamente expressam a realidade psíquica:

A primavera sugere época de crescer e expandir até florir. Envolve a força e renovação. O verão pode ser visto como momento de exteriorizar sentimentos, em que acontecem encontros com otimismo e leveza, guiados pela energia do sol. No outono as folhas caem, encerrando um ciclo, terminando com nostalgia e amadurecimento. Por fim, o inverno representa recolhimento e interiorização, tristeza, melancolia e depressão. (STRIEDER, 2022, p. 33).

Existe tempo para tudo e a vida é uma expressão alquímica!Como harmonizar os elementos da natureza com a rotina estressante e o sentido da vida? É necessário promover conexões entre o mundo interno e externo, que pode resultar em necessidade de mudanças, envolvidas de angústia diante do novo. É uma experiência permeada de tensão opositiva causada pela abertura do inconsciente. Para tanto, precisa-se de total liberdade para lidar com a realidade que abrange a necessidade, o desejo, os limites e as dificuldades encontradas.

Assim, associando-as à novas realidades, pode-se chegar em algo que antes nem se imaginava e as mudanças ganham autonomia e refletem positivamente no mundo interno e no campo relacional. Da mesma forma, contribuem para o despertar de um olhar coletivo, tendo em vista a integração da natureza física e psíquica, que dialogam entre si pelos quatro elementos da natureza externa – ar, água, terra e fogo – e também pela natureza interna: pensamento, sentimento, sensação e intuição.

Jung e outros estudiosos deixaram valiosas contribuições para o entendimento da natureza física e psíquica.

A angústia diante dos problemas auxilia no processo de ressignificação. Onde há sombra, há possibilidade de tornar algo melhor. No indivíduo preso ao passado, aspectos depressivos podem comparecer. Projetado no futuro, os aspectos ansiosos tomarão conta. Sobrecarregado no momento presente, a sensação de estresse toma conta.

Torna-se necessário distribuir a energia psíquica nas seis dimensões importantes da vida (corpo, trabalho, relacionamento amoroso, relações sociais, espiritualidade e família) e harmonizar esses aspectos. Além do que é preciso fazer na rotina por escolha ou obrigação, também é necessário algo que estimule viver e envelhecer com sabedoria.

O sentido da vida geralmente está associado à resposta sobre qual é a parcela de contribuição para deixar o mundo melhor, a missão ou meta a ser compartilhada, que é construído ao longo da vida e torna o indivíduo melhor. Não envolve coisas grandiosas, mas a necessidade de estar inteiro onde estiver inserido. E isso pode ser compreendido como a felicidade, construída aos poucos e frutífera, assim como a árvore que dá o seu melhor, confirmado pela teoria de Jung:

Assim como o corpo precisa ser nutrido, não com um alimento qualquer, mas só com aquele que lhe convém, assim a psique tem necessidade do sentido de sua vida; e, além disso, não de um sentido qualquer, mas de imagens e ideias que lhe correspondam naturalmente, a saber, aquelas que lhe são suscitadas pelo inconsciente. (JUNG, 2013, par. 476).

A saída criativa é intensificar a ampliação da consciência, que permite ver em todos os ciclos a beleza da natureza psíquica e física e encontrar nelas o sentido da vida. 

Encerro as minhas ampliações com a analogia poética da árvore filosófica, que vem ao encontro da poesia de Olavo Bilac, Velhas Árvores (Poesias, 2003, p. 138). Apesar do tempo decorrido, ela é atual e simboliza a natureza psíquica e física com um sentido de vida, envolvendo ciclos de aprendizados. Às vezes sombra, outras vezes inspiração!

Que possamos renascer, crescer e frutificar em cada estação, no bom, no belo e no verdadeiro!

Olha estas velhas árvores, mais belas 
Do que as árvores novas, mais amigas: 
Tanto mais belas quanto mais antigas, 
Vencedoras da idade e das procelas… 
O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas 
Vivem, livres de fomes e fadigas; 
E em seus galhos abrigam-se as cantigas 
E os amores das aves tagarelas. 
Não choremos, amigo, a mocidade! 
Envelheçamos rindo! envelheçamos 
Como as árvores fortes envelhecem: 
Na glória da alegria e da bondade, 
Agasalhando os pássaros nos ramos, 
Dando sombra e consolo aos que padecem!
(BILAC, 2003)  

Claci Maria Strieder – Membro Analista

Waldemar Magaldi Filho – Analista Didata     

Referências:

BUENO, Silveira. Silveira Bueno: minidicionário da língua portuguesa. São Paulo: FTD, 2000.

BILAC, Olavo. Velhas árvores. Volume “Poesias”. São Paulo: Editora Martin Claret, 2003.

CAROLINA, Ana. As ruas de outono. Álbum Dois Quartos, Sony Music, 2006.

DIAS, João. Adeus ano velho – Composição de David Nasser e Francisco Alves.  São Paulo: Indústrias Elétricas e Músicais Fábrica Odeon S.A, 1951.

JUNG, C.G. Estudos alquímicos. 4. ed.Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

_________ Memórias, sonhos e reflexões (Reunidas e editadas por Aniela Jaffé). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.

_________ Tipos psicológicos. 7. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2013.

MAGALDI FILHO, Waldemar. Método Junguiano e a Alquimia. Vídeo no YouTube, 03 janeiro 2004.

SANDY & JÚNIOR. As quatro estações. Universal Music Publishing Group, 2001.

STRIEDER, Claci Maria. Portais da Alma: a psicologia analítica e as conexões criativas e integradoras da natureza psíquica. 1. ed. Curitiba: Appris, 2022.

SILFOS – AR (Primavera)

SALAMANDRAS – FOGO (Verão)

ONDINAS – ÁGUA (Outono)

GNOMOS – TERRA (Inverno)

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