Site icon Blog IJEP

O uso de Mandalas na Arteterapia

Jung destaca que as mandalas aparecem geralmente em estado de dissociação psíquica ou desorientação e funcionam como meios da psique na busca de integração. Na arteterapia, as mandalas são utilizadas como instrumento para promover o autoconhecimento e a transformação pessoal para a cura interior. Como ferramenta terapêutica, a mandala caracteriza-se pela formação de imagens circulares que podem ser desenhadas, pintadas, construídas plasticamente ou dançadas.

O presente artigo abordará o uso das mandalas na arteterapia e suas contribuições para o autoconhecimento e processos de cura.

A fragmentariedade e a unilateralidade

Vivemos num mundo fragmentado que idealiza o monoteísmo da razão e, consequentemente, sofre com a unilateralidade da vida e vários sintomas de adoecimento.

A doença é uma forma simbólica que o Self encontra para mostrar que estamos nos afastando do nosso chamado, ou seja, de nós mesmos.

Ao nos afastarmos da nossa essência, perdemos a nossa potência criativa e tendemos a ficar angustiados, vazios e paralisados. Com isso, tem aumentado cada vez mais o número de pessoas que buscam o processo terapêutico a fim de recuperar o bem-estar e encontrar sentido para a vida.

Mas esse movimento de mergulho interno em busca de si mesmo geralmente é doloroso, fato este que pode dificultar ou até mesmo paralisar o processo terapêutico.

Arteterapia

Diante desta realidade, nos últimos anos a arteterapia tem ganhado cada vez mais espaço no mundo do desenvolvimento pessoal e do autoconhecimento, devido a sua capacidade de auxiliar o cliente a compreender e reorganizar os seus conflitos e emoções de forma mais lúdica – menos racional.

A arteterapia de abordagem junguiana é um campo de atuação que utiliza a arte como ferramenta para possibilitar a expressão dos sentimentos, pensamentos e traumas por meio de uma experiencia criativa e não verbal. Uma ferramenta muito eficiente utilizada nessa modalidade terapêutica é a produção de mandalas.

Mandala: breve histórico e contextualização

A expressão “mandala” vem do sânscrito (língua morta usada nos textos sagrados indianos) e pode ser traduzida como círculo ou círculo mágico.

Como a origem da palavra é masculina, podemos encontrar, em alguns escritos, o termo “o mandala”. Inclusive, Jung, em suas obras, referia-se a ela desta forma. Mas por ser a forma mais conhecida no Ocidente, a expressão que utilizo neste artigo é “a mandala”.

As mandalas são representações geométricas e simétricas que simbolizam a totalidade, a unidade e a harmonia do universo. A produção de mandalas é uma prática antiga presente em diversas civilizações. Há registro de círculos desenhados em cavernas desde a época da pré-história.

Tem origem em tradições religiosas e espirituais de diferentes culturas ao longo da história. Sua forma, simbolismo e finalidade variam de acordo com a tradição cultural e espiritual onde é encontrada. Foram usadas primeiramente em rituais religiosos, e mais tarde como instrumento de meditação.

As mandalas podem ser observadas nas formas da natureza, nos templos budistas, mesquitas mulçumanas, igrejas cristãs, entre outros, ou seja, esse tema sempre esteve presente na história da humanidade.

Jung, ao pesquisar e analisar várias civilizações primitivas e suas culturas, constatou a existência de diversos desenhos circulares em cavernas que retratavam experiências de vida e momentos de crise ou de desorientação destas civilizações.

Diante das suas observações, Jung percebeu que mesmo sem conhecer o poder simbólico da mandala, os desenhos circulares feitos de forma intuitiva ajudavam os indivíduos a encontrarem saídas para suas dificuldades. Funcionava como um impulso interno da psique que buscava integração.

Jung destaca que as mandalas aparecem geralmente em estado de dissociação psíquica ou desorientação e funcionam como meios da psique na busca de integração.

[…] vemos nitidamente como a ordem rigorosa da imagem circular compensa a desordem e perturbação do estado psíquico, e isso através de um ponto central em relação ao qual tudo é ordenado; ou então é construída uma ordenação concêntrica da multiplicidade desordenada dos elementos contraditórios e irreconciliáveis. Trata-se evidentemente de uma tentativa de autocura da natureza, que surge não de uma reflexão consciente, mas de um impulso instintivo.

(JUNG, 2014a, p. 394).

A produção de mandalas como ferramenta terapêutica

As mandalas são utilizadas na Arteterapia como instrumento para promover o autoconhecimento e a transformação pessoal para a cura interior.

Como ferramenta terapêutica caracteriza-se pela formação de imagens circulares que podem ser desenhadas, pintadas, construídas plasticamente ou dançadas.

“O círculo, a esfera e o redondo representam a divindade, aquilo que é completo e suficiente em si mesmo, o eu integrado e expresso por meio da mandala”

(SANTA CATARINA, 2021, p. 21).

Assim, a mandala remete-nos às camadas do inconsciente que não conhecemos. Ela revela velhas feridas, como também mostra a beleza interior, permitindo integrar vários aspectos da psique e criar um todo unificado.

Na perspectiva da psicologia analítica, a mandala é vista como o símbolo do Self, centro regulador da psique que cria ordem, orientação e significado para a vida.

A mandala pode ser entendida, também, como símbolo do processo de individuação. Através do qual o indivíduo busca integrar aspectos da psique visando à sua totalidade.

Quando se produz uma mandala, forma-se um símbolo no qual são projetadas partes conflitantes da natureza humana e cria-se um espaço para que ocorra um diálogo entre esses conteúdos opositivos.

Desta forma, os traços, as formas, as cores e os símbolos pessoais que formam a mandala oferecem materialidade a um conteúdo emocional adormecido no inconsciente e que anseia por ser visto, ouvido e sentido.

Existe um simbolismo nas partes que constituem a mandala.

Para Fioravanti: “mesmo que o criador da mandala não tenha consciência daquilo que faz, ele coloca em sua criação elementos simbólicos ancestrais. Ao desenhar uma mandala, criamos algo sagrado” (FIORAVANTI, 2003. p. 7).

A mandala pode ser considerada como a expressão de um símbolo individual. Ou mesmo um documento psíquico que surge do interior do indivíduo como manifestação do Self, expressando o estado emocional, anímico e espiritual do momento.

A mandala possui o potencial de expressar de forma lúdica conteúdos imersos nas profundezas da alma humana. O trabalho com mandalas é um momento sagrado em que podemos nos conectar com nossa essência e trabalhar conteúdos que nos bloqueiam, impedem nosso crescimento e ofuscam nossa totalidade.

Através da produção de mandalas, podemos desenvolver o autoconhecimento, nos libertar de traumas e viver de forma mais plena.  

A sua produção funciona como uma ferramenta que oferece forma às imagens afetivas, despotencializando a sua carga emocional. Conferir uma manifestação visível ao afeto facilita o seu reconhecimento, bem como favorece a sua ressignificação e a integração destes conteúdos desconhecidos à vida do indivíduo, e, com isso, a reorganização da psique.

Durante o processo de criação, as imagens que emergem do inconsciente são deslocadas para a mandala. Essas imagens ajudam o arteterapeuta a entender melhor a dinâmica psíquica do cliente. Além disso, podem fornecer insights valiosos sobre aspectos sombrios que precisam ser observados e integrados à personalidade.

Assim a ampliação dos elementos simbólicos, bem como dos sentimentos, dos pensamentos, das sensações e das intuições que atravessam o cliente durante a produção da mandala auxilia no processo arteterapêuticopor representar um material rico em significados que permite ao indivíduo, por meio de associações, revisitar memórias traumáticas, ter mais clareza dos seus conflitos e buscar ressignificá-los.

A produção da mandala, por si só, já funciona como uma tentativa de reorganização da psique.

Surgindo não de uma reflexão consciente, mas de um impulso instintivo que busca transformar confusão em ordem, equilíbrio e totalidade.

Além dessa função ordenadora inerente à mandala, a sua produção oferece a oportunidade de conduzir o cliente ao encontro de si mesmo, pois estimula o desenvolvimento do pensamento simbólico a partir das imagens que irrompem do inconsciente e, por consequência, promove o surgimento da função transcendente. Ou seja, o desenvolvimento de um novo estado de consciência e de uma maneira mais harmoniosa e plena de viver.

Em suma, a mandala se apresenta como uma ferramenta eficiente para o processo de autoconhecimento e transformação pessoal. Desta forma, a sua utilização no processo terapêutico proporciona a conexão com a alma, estimula a criatividade, a intuição e a expressão pessoal.

Além disso, por meio da produção da mandala, os clientes são incentivados a entrar em contato com suas emoções, enfrentar desafios e promover o processo de cura interior, ou seja, representa um caminho significativo em direção à plenitude e bem-estar pessoal.  

Se você está buscando um caminho para o autoconhecimento e a autocura, a terapia com mandalas pode ajudá-lo a se conectar com sua essência, a despotencializar os seus traumas e a viver com plenitude.

Caroline Costa – Membro analista em formação/IJEP

Waldemar Magaldi – Membro didata/IJEP

Referências:     

FINCHER, Sussane. O autoconhecimento através das mandalas. São Paulo: Pensamento, 1991.

FIORAVANTI, Celina. Mandalas: como usar a energia dos desenhos sagrados. São Paulo: Pensamento, 2003.

JUNG, Carl Gustav. Os arquétipos e o inconsciente coletivo. 11. ed. Petrópolis: Vozes, 2014a.

SANTA CATARINA, Maida. Mandala: o uso na arteterapia. 3. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2021.

Acesso nosso site: IJEP | Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa

Exit mobile version