A psicologia junguiana nos permite compreender a relatividade da vida, onde o absoluto ou o unilateral pode ser considerado como doença. Com isso, toda vez que uma pessoa fica exageradamente “pré-ocupada” com algo, mesmo que seja com a alimentação saudável, tomada por pensamentos ou atitudes que gravitam quase que exclusivamente neste tema, ela estará doente, por ficar se ocupando previamente com este propósito, deixando de viver a vida na sua plenitude.
A realidade humana é preponderantemente dinâmica, pulsante e bipolar, exigindo-nos a percepção metafórica e simbólica que, por sua vez, são paradoxos compostos por uma infinidade de antinomias, os pares de opostos que funcionam como verdadeiros dínamos da energia psíquica, capazes de contribuir para que a realização existencial de cada um possa acontecer. Porém, as estruturas egóicas, por meio das personas ou personagens assumidos para manter as relações interpessoais, acabam dificultando esse caminho evolutivo, que a psicologia junguiana nomeia de processo de individuação.
Além das personas, que são as máscaras sociais aprendidas ou criadas e mantidas pelas crenças, hábitos e condicionamentos, temos os mecanismos de defesa do ego, que apesar de nos possibilitar o sentimento transitório e iludido de segurança, por nos manter na fantasia da zona do conforto, produz alienação e incapacidade do autoconhecimento, mantendo-nos aprisionados no corpo e na literalidade da matéria. Somente quando o ego está engajado conscientemente com o processo de individuação é que o sentimento de liberdade pode ser experimentado verdadeiramente, possibilitando-nos a consciência dos nossos apegos e dependências, no sentido de evitar que eles se tornem autônomos, compulsivos ou obsessivos. Lembrando que até o propósito do desapego pode ser uma forma de apego! Tudo vai depender da intensidade e da unilateralidade que cada tema venha assumir na vida de cada um e, quando ganha intensidade e unilateralidade, podemos afirmar que um complexo está ativado.
Os complexos são estruturas conceituais, formada por arquétipos e símbolos, existentes na dinâmica psíquica de todos nós. Quando eles adquirem autonomia e intensidade, obliterando a consciência, eles ficam patológicos e dificultam o distanciamento do indivíduo para que ele possa perceber que está sendo dominado pelas emoções daquele complexo, perdendo a autocrítica e a liberdade. Na maioria das vezes eles são ativados porque algum aspecto sombrio, que está submerso no nosso universo inconsciente e nos incomoda por ser estranho, estrangeiro, oposto do que idealizamos de nós mesmos, foi ativado por meio de algum afeto. Algo que nos tocou emocionalmente e despertou a sombra que, na maioria das vezes, defensivamente, é projetada em algum objeto, mesmo que seja um sujeito, externo, provocando reações de muita atração ou repulsão, gerando mais aprisionamento passional.
A liberdade é atingida quando conhecemos a nós mesmos, incluindo nossas vicissitudes, a sombra, as personas que usamos para nos relacionar e os contra pontos sexuais intrapsíquicos (anima ou animus). Além disso, é necessário descobrirmos todo potencial de realização para nossa existência (daimon), reconhecendo e aceitando conscientemente nossas relações de dependência e servidão! Neste sentido, os cursos de pós-graduação em Psicologia Junguiana e Arteterapia do IJEP – Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa oferecidos nas cidades de São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro são excelentes ferramentas para alavancar o autoconhecimento e, consequentemente, o conhecimento da natureza humana.
Autor: Waldemar Magaldi