Quando descobrimos que somos mulher? Está certo que o ¨ser mulher¨ é uma construção social, pois todas as identidades de gênero assim o são, fácil constatar isso quando observamos este papel social no decorrer dos anos, por exemplo, se você identificar o que era recomendado, aceitável e recriminado na época de sua mãe verá que o espírito de nossa época interfere muito em quem somos e como somos, ele fala de forma clara e até imperativa dentro de nós. Como afirma Jung:
“Não se deve brincar com o espírito da época, porque ele é uma religião, ou melhor ainda, é uma crença ou um credo cuja irracionalidade nada deixa a desejar, e que, ainda por cima, possui a desagradável qualidade de querer que o considerem o critério supremo de toda a verdade e tem a pretensão de ser o detentor único da racionalidade.” (CW 8\2 §652)
Mesmo as mulheres que no decorrer da história perceberam e se rebelaram contra as limitações e desvantagem desse modelo imposto a elas, foram combatidas, na maioria das vezes, de forma violenta e isso não se deve somente a disputa por poder, mas também pelo espírito da época que fala com e através de nós.
Mas no caso das mulheres, desde que o patriarcado se estabeleceu o papel da mulher ficou restrito a servidão, ao encarceramento e a repressão, principalmente de sua alma, suas vontades, e sua sexualidade. Na manutenção desta situação, muito da alma feminina foi extirpado, como se não tivesse importância, devendo mesmo ser relegado a um lugar de absoluto esquecimento lado a lado com o mal, no sentido que era tido como tal, exemplo esse muito pertinente: a intuição feminina, naquela época e ainda hoje, é tida como algo místico, provindo certamente da sombra, ou quem sabe até do obscurantismo, e portanto, deve ser ignorado, reprimido e rechaçado, tanto que muitas mulheres ao perceberem esta voz que fala em alguns momentos, a interpretam como sendo qualquer coisa, que não algo bom, embora possa vir a ser uma parte delas que pode – e deve – ser levada em consideração, não como uma servidão absoluta, mas vista como pertencente ao feminino, algo que acessa o inconsciente coletivo e emerge de lá com uma sabedoria muitas vezes tão grande que até nos surpreende. Sempre que estamos em desavença com nossa própria alma, ela nos manda essa palavra amiga, no sentido de nos conectar ao nosso Daimon, que segundo Jung é o nosso sentido de vida, o nosso objetivo maior, Jung diz que quando estamos fora dele vivemos a verdadeira tragédia, porque uma vida sem sentido é uma vida vazia, uma ampliação possível para este acontecimento é a incidência muito grande de mulheres que após a menopausa, após a saída dos filhos de casa ou até a morte do parceiro, entram em depressão, esta nada mais é em primeira instância ( uma das possíveis ampliações, não a única!) que um chamado da energia psíquica para dentro e para trás, obrigando o indivíduo a se recolher em si mesmo e repensar, sempre no sentido teleológico de buscar ou retomar o seu mito do significado, por isso que em episódios depressivos algumas frases são sempre persistentes em nossas mentes: “ O que estou fazendo da minha vida? Estou onde queria estar? Quem sou eu?”
Isto tem uma explicação social, uma vez que há muito o papel da mulher ficou restrito em crescer, se casar, cuidar dos filhos e dos outros membros da família. Mas… e depois?
Quando se cessam estas obrigações, o que sobra?
E se esta mulher conhecedora do seu papel social- e obediente- faz disso o seu objetivo fim de vida, sem nunca pensar que vive para os outros, para o mundo, para a mãe que habita dentro de si, sem nunca se atentar para os outros papéis que precisa desempenhar, tal como mulher, profissional, amiga, amante, entre outros?
Antes de ampliarmos mais ainda este assunto, vamos entender o que é patriarcado, já que nos parece que é de lá que se origina este modelo social imposto a todo feminino.
“O patriarcado é o domínio social ou uma estrutura de poder social centralizada no homem ou no masculino. É baseada na própria ideia de paters, figura do pai. E relaciona instâncias públicas e privadas da vida social. É uma estrutura bastante comum na sociedade humana, mas é contestada por diferentes grupos sociais em vários momentos da história, devido à pouca ou nenhuma ação que impõe às mulheres. O patriarcado associa a biologia à cultura, no sentido de diferenciar os papeis sociais baseados em papeis sexuais. Em geral, cargos de maior importância cultural são destinados a homens, enquanto cargos de importância familiar são relegados às mulheres.” (NETO,2017)
Patriarcado significa, literalmente, “a regra do pai”, e vem do grego πατριάρχης (patriarkhēs), “pai de uma raça” ou “chefe de uma raça”, patriarca. Historicamente veio sendo usado para nomear um sistema autocrático, seja a nível político ou na vida de cada indivíduo, experenciado no modelo em que o homem é o chefe da família, ou seja, o poder é exercido sempre por homens adultos. Na leitura contemporânea do termo, sua etiologia e seus usos, ele é ampliado ao sistema social, que é construído e reconstruído todos os dias em nossas psiques. Com o aparecimento do movimento feminista, há uma corrente ideológica que tenta realizar a modificação do pensamento de nossa época, na busca tanto por direitos mais igualitários ou papéis sociais definidos por uma equidade amorosa, acreditamos que toda repressão está no campo do poder, enquanto na medida que caminhamos mais no sentido de um equilíbrio salutar me parece que caminhamos também no sentido do amor. É verdade também que o homem -leia-se aqui homem, mulher e não binários- busca sua alma e o seu sentido de vida, esta busca por si só o leva ao seu mundo interior, no entanto, esta busca pela alma e pelo daimon só é possível se acompanhada de amor em todas as suas expressões. Um indivíduo que não se ama, também não é capaz de amar ao próximo nem de respeitá-lo. Desse modo podemos dizer que a luta pela equidade, pelo feminino, é de todos nós. Nós mulheres que estamos, mesmo agora, na contemporaneidade ainda presas dentro de nós, ainda encarcerando-nos e ajudando a encarcerar a outrem, seja outras amigas, conhecidas, e até nossas próprias filhas. Fazemos também um trabalho incrível, todos nós, de encarcerar inclusive a mulher presa dentro de todos os homens, chamada por Jung de anima. Este contraponto sexual presente na psique dos homens sofre igual ou até maior repressão, uma vez que “o homem precisa ser homem”, é o que diz o senso comum, então para onde vai aquela parte sua que tem a delicadeza, a sensibilidade, o cuidado, a amorosidade, e tantas outras qualidades? E a intuição? Há… isso é coisa de mulher, já diziam as pessoas dessa e de outras épocas, sempre com entonação de desdém, como se o fato de os homens acessarem a intuição e toda e qualquer manifestação de sua anima fosse um demérito, quando na verdade é uma qualidade de um ego estruturante e de uma alma rica de valor, que acessa e usa toda sua potencialidade, como nos ensina a teoria analítica de Carl Jung, se contemos dentro de nós o todo, por que aceitamos a imposição mundana de sermos tão pequenos?
Quando reprimimos os homens desta forma, estamos na verdade rechaçando o feminino e ele mais uma vez é violado, negligenciado e ferido.
Nós, analistas, nos deparamos com a repressão dentro de nós, a repressão do mundo via inconsciente coletivo e a repressão que também sofrem nossos clientes, todas as vezes que atendemos uma mulher vemos uma ou outra história de sofrimento, de abusos de todo tipo, da banalização de seus desejos, vontades e a perda da identidade deste feminino que grita por socorro. Grita dentro de nós e dentro de cada cliente que chega ao setting terapêutico. Vemos essa história se repetir diariamente em nossos consultórios, mas é verdade também que muitas vezes observamos que todas as mulheres que se descobrem presas neste papel imposto as mulheres começam um caminho de volta , no sentido de sua inteireza, de descobrir sua totalidade e qual o seu chamado de alma, e quando faz isso vemos que esta mulher faz questão de libertar outras mulheres, ela quer falar de sua jornada, auxiliar e até mesmo “ acordar” outras mulheres, é o processo do amor, que nos preenche e nos contamina a todos , buscando o verdadeiro “ bom viver”, o viver com sentido e significado.
As queixas mais frequentes que observamos na clínica são as alterações de ciclo, que nos remetem a desconexão que todos nós sofremos em decorrência do mundo conectado ao exagero a tecnologia, e neste processo podemos perceber que conforme a vida digital aumenta a vida real diminui, ocasionando uma desconexão cada vez mais profunda entre psique e soma, vemos indivíduos que desconhecem as sensações, o corpo, os prazeres e em última instância seus próprios sentimentos, podemos observar isso aos montes, em maior ou menor intensidade, o próprio ritmo de vida imposto na contemporaneidade, falamos aqui da era da produtividade e do resultado – muitas vezes a qualquer custo- esta que está muito mais situada no ter, no ostentar do que no sentir ou em ser. Autores como Beyung-Chul Han, chamam de a era ¨instagramável¨, onde as coisas (e as pessoas) só tem valor se gerarem likes, a vida deve ser livre de cantos e dores, tudo isso causa a falta de ritmo, este último que é necessário a vida, se observarmos a própria natureza requer um certo ritmo. Em vários pontos de sua obra Jung destaca a importância do ritmo, em Estudos Experimentais, ele fala que o ritmo imposto nos testes também podia alterar a manifestação dos complexos (§109), já em Símbolos da Transformação (§564) ele discorre que o ritmo está presente de modo instintivo nos seres, iniciando lá na fase infantil e chegando a vida sexual, mas que não se detém nestas funções, e nem se deriva nelas, que o seu papel e importância é tão abrangente na vida de todos nós impactando inclusive nossas emoções, falamos sobre este assunto para refletirmos sobre o corpo e a vida da mulher que é regida por um ciclo muito peculiar, enquanto que a fisiologia do homem faz um aumento progressivo hormonal que se estabiliza na adolescência, se mantém por toda a vida adulta e decai na velhice de forma muito lenta, o corpo da mulher passa mensalmente por alterações hormonais severas, muitas vezes de forma abrupta, e há que se conhecer este fato, como devemos compreender profundamente o ciclo individual, para só assim começar a ter uma ideia do que é ser mulher. Esse movimento de vida, que nasce e morre simbolicamente todos os meses no corpo das mulheres é orquestrado pelo cérebro, através da glândula hipófise, envolve também todo o aparelho reprodutor feminino, compreendido por útero, vagina, ovários , trompas e mamas, os hormônios participantes são estrogênio, progesterona e testosterona, falamos disso para esclarecer todo este processo, porque, por exemplo, nas primeiras semanas do ciclo, quando o estrogênio está subindo , preparando o útero para uma possível fecundação, a mulher está alegre, disposta, ativa, produtiva, sedutora, está no mundo, como se fosse dominada pela extroversão, o lema nesta época talvez fosse “ só se for agora!”….. já nas últimas semanas o hormônio que comanda é a progesterona, esse que deveria ser utilizado para manter a gestação, então nesta fase é como se a mulher fosse enviada para a introversão, onde tudo é muito difícil, o corpo pesado, inchado, disposição zero e produtividade nenhuma, dessa forma ela se localiza no lugar mais sombrio de sua existência, talvez a frase mais pertinente para descrever seria: “comendo o pão que o diabo amassou”. E entre essas duas fases que aqui estão redundantes e talvez exageradas, para facilitar a compreensão do caro leitor, existem muitas nuances, mas queremos demonstrar que num ciclo que pode variar de 21 a 35 dias a mulher percorre o numinoso e desce até os infernos, se fosse um processo calmo, lento e com toda a compreensão e conhecimento sobre si e o seu corpo, poderíamos até utilizar este ciclo para autoconhecimento e para praticar a aceitação de toda a sua totalidade, mas o que pensar de algo que é desconhecido para a maioria das mulheres, mas que acontece com elas o tempo todo? Alguns países dão direito ao descanso neste período da mulher por entenderem que algumas de nós ficam incapazes para a produtividade.
Vemos na contemporaneidade que muitas mulheres acreditam que tomar um anticoncepcional que simplesmente corta sua menstruação é um benefício imenso, não estamos aqui defendendo ou recriminado este ato, mas ampliando, no sentido que desconsiderar uma parte minha, qualquer que seja ela, é perder uma das várias partes que me pertencem, em uma primeira ampliação podemos observar que os problemas provenientes de distúrbios menstruais, ou qualquer alteração neste ciclo natural, provém tanto da dor de ser mulher, do feminino ferido que muitas vezes nos chega de forma transgeracional, ou até da negação deste complexo. Quem de nós mulheres nunca teve o seguinte pensamento: “que saco, mais uma vez esta menstruação a me atrapalhar?…” Acontece que esta e tantas outras coisas que temos, fazem parte daquilo que somos…. Outro ponto a se pensar é que o uso do anticoncepcional (e não somos contra, de forma alguma) pode nos prender a uma destas fases, e tomara que seja no estrogênio! Não que a polarização seja boa, o melhor seria o equilíbrio hormonal, mas certamente ficar presa com um excesso de progesterona em mim certamente me fará alimentar mais ainda essa raiva por “ser mulher”, e toda a teoria de Jung fala da necessidade de integração, pela ampliação, pelo “descobrir o ser que verdadeiramente somos”!
Mas o que dói na mulher ferida? Falamos aqui na dor de não ter seus desejos atendidos, de não ser plena e detentora de suas vontades, ou talvez em não poder demonstrar ou vive-las, pois de tudo que nos foi tirado o direito de escolha e o fato de sempre ter que lutar, até por coisas banais e ordinárias como o direito de decidir o que fazer com seus corpos lhe foi usurpado, somos constantemente violadas, a forma como devemos viver, ser, nos comportar é dita constantemente, e o pior de tudo é que toda esta repressão e os vários abusos que encontramos no decorrer de nossas vidas geram um mal em forma de um complexo negativo, pois este abusador não está mais fora de mim e sim passa a fazer parte da minha sombra, não precisamos mais que alguém nos cobre, nos negligencie ou nos silencie, as próprias mulheres têm nos recônditos de sua psique o abusador interior, o barba azul, que já faz este trabalho brilhantemente, por isso que muitas vezes ao dizer um simples não, nos sentimos extremamente culpadas, por não servir. O servir em si não é o problema, o próprio Jung o coloca como um importante campo da vida de todos os indivíduos a ser contemplado de alguma forma para que alcancemos a plenitude, o problema é quando ele vem acompanhado de dor, de sofrimento e nos fere, é aquele “sim” que vem com o gosto amargo, que por fora, na superfície, na persona ele é bom e belo, mas no fundo de nosso coração sabemos que não é verdadeiro. Afinal, quem não cuida de si não pode cuidar de ninguém como diria Jung, mas um ser que desde sempre têm como obrigação somente servir, não sei se dá tempo de “se servir”, de alma, de amor, de cuidados, para então, depois, servir ao próximo. Jung disse nas Cartas, vol. II que “ninguém leva outrem aonde nunca foi”, ali ele se referia a importância do terapeuta cuidar de si, e principalmente de sua alma, seja com atitudes, comportamentos e principalmente sua própria terapia, acreditamos que esta máxima cabe perfeitamente a todos os femininos que estão feridos, seja o feminino de toda e qualquer mulher, o feminino presente em cada homem ou o feminino exposto no mundo, pois até as imagens do feminino estão machucadas, há que continuarmos a luta, para que um dia quem sabe o inconsciente coletivo traga avanços para a tão sonhada alteridade, onde feminino e masculino possam fazer a integração de seu contraponto sexual: Anima ou Animus, gerando assim um novo estilo de compreensão e de vida!
A TPM, sofre profunda influência deste ciclo, que a priori é natural, no entanto, como o coletivo está machucado, ele se tornou difícil e pesado para todas as mulheres, talvez pela dor impressa em nossa psique, que acessamos via inconsciente coletivo, seja pela dor de ser mulher e não poder nos recolher neste período, afinal, precisamos sempre continuar bem dispostas e produzindo, acontece que a vida, o corpo, pede um recolhimento, talvez nesta época a alma chama toda mulher para que se recolha, repense, talvez a própria energia psíquica influenciada por este movimento se volte para dentro, e ao tentar atender a demanda do mundo geramos um movimento antinatural, que se reflete e amplia na dor física, espiritual e emocional, que chamamos de TPM, tensão pré menstrual. Outra possibilidade que nos ocorre é que esta época, aliada aos hormônios que nos tornam mais suscetíveis a tal, nos coloquem cara a cara com a nossa sombra, talvez a sensibilidade às sensações inibam de alguma forma o controle exercido pela persona, comandado pelo ego, e a mulher seja tomada pelos seus conteúdos sombrios, e o problema nem está aí, mas como a grande maioria de nós vive em total desconhecimento de nossa sombra, quando ela nos toma, assim à revelia, sempre vem da forma mais desordenada e mais desagradável possível, afinal ela faz um movimento enantiodrômico, vai sempre aparecer com a mesma intensidade que foi reprimida, ou seja, quanto mais tentamos esconder, mais ela aparece violentamente, sempre contando que a portadora integre este conteúdo, e quem sabe caminhe mais alguns passos no seu processo de individuação, acontece que como o mundo é patriarcal, ele coloca essa sombra, no lugar do mal, então a mulher muitas vezes é chamada de louca, descontrolada, histérica, ou até mesmo fraca…. mas será que isso que ela mostrou, seja lá o que for, não existe em todo e cada um de nós?
Nenhuma característica é de um indivíduo só, afinal tudo está em todos, e todos nós acessamos esse todo no inconsciente coletivo.
Outra possível ampliação é que a suscetibilidade causada pelas alterações hormonais nos coloquem em contato mais íntimo, ou até favoreça a possessão dos complexos, principalmente os que estão negativos, e\ou o complexo da mulher ferida, ou o complexo materno negativo… pode até ser que o complexo mulher (talvez de todas as mulheres) esteja preenchido com afetos muito dolorosos, que são “ativados” nesta época do mês e nos possuam de forma extremamente dolorosa. Por isso sempre devemos repensar nossas dores, elas podem e devem se tornar um portal, podem ser um norte teleológico da mulher que eu quero, posso e devo ser!
Precisamos compreender que o problema não é a mulher ser isso ou aquilo, o que nos machuca a todas é a repressão de tudo aquilo que queremos e podemos ser, cada um deve encontrar dentro de si o amor, o cuidado, o aconchego, o autorrespeito, ou resumidamente, a mãe interior, a Perséfone (filha) precisa dar espaço para que surja a Deméter (mãe), que por sua vez precisa, um dia, se transformar na Hécate (velha sábia). Nos remetemos aqui a mitologia grega para contar um pouco do que deveria ser a vida de todo feminino, ela nasce pura, ingênua, e de certa forma incapaz, dependente de alguém para viver e se realizar, essa é a Perséfone, ela cede o lugar a sua mãe, Deméter, essa dá frutos, pois mostra que está ligada de forma mais profunda e fecunda com seu próprio feminino, então ela é capaz de produzir, mesmo que através da criatividade, ela traz de si para alimentar o mundo, e depois ela cede lugar pra uma mulher sábia, plena que viveu muito do que quis e do que podia, e agora se dedica muito mais ao servir, a ensinar outras pessoas a fazer um caminho que ela mesma já percorreu, ela não se dedica mais a produzir, mas estimula que outros o façam, essa é a Hécate. Acontece que a maioria das mulheres nunca sai da fase Perséfone, seja porque não consegue, ou porque o mundo não deixa.
Perfeita a fala de Waldemar Magaldi em Fundamentos da Psicologia Analítica:
“O Self não dá o que o Ego deseja, mas o que ele precisa para a evolução da alma, que aspira, teleologicamente, que você passe a servir, cuidar e amar, incondicionalmente, toda expressão de vida. Esse é o sentido do processo de individuação proposto por C. G. Jung”
Portanto desejamos que todas reflitam o porquê de o self nos colocar nesta posição de repressão, o que em mim precisa disso e para que isso me serve. E que todo feminino possa encontrar dentro de si a mãe interior, para fazer antes de tudo esse servir, cuidar e amar a si mesma, e que o Barba Azul interior seja usado a favor e não contra o feminino.
Por fim e não menos importante, devemos nos lembrar que nem todas as mulheres têm acesso a terapia, ou quaisquer outro tipo de processo para o autodesenvolvimento, por isso que acreditamos piamente que a cada mulher que desperta está apta a ajudar o despertar de outras, tal como o conto da mulher selvagem, que por mais que ainda não está completa ela segue pelo mundo a procura de pedaços de si e de outras, é uma busca incessante, um resgate a todos os pedaços feridos da alma coletiva do feminino, para que um dia ele seja inteiro novamente!
E você já pensou sobre o seu próprio ritmo, já observou seu corpo hoje, o que ele te conta?
Se você que nos lê agora têm uma TPM exacerbada, problemas de qualquer tipo no sistema reprodutor feminino, que tal conversar com seu complexo, com seu órgão e perguntar o que dói, para que dói?
Já parou para pensar onde estão as feridas do seu feminino, seja você uma mulher, um homem ou não binário?
Boas ampliações a todxs!
Natalhe Vieni – Analista em Formação pelo IJEP
Simone Magaldi – Membro Didata do IJEP
Referências
Brandão, Junito de Souza. Mitologia Grega. volumes I, II, III. 1ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes,2009.
JUNG, C. G. A Natureza da Psique. 10ª ed. CW 8\2. Petrópolis, RJ: Vozes,2013.
JUNG, C. G. Cartas. Volumes I, II, III. 1ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes,2018.
MAGALDI, Waldemar (org.) Fundamentos de Psicologia Analítica. 1ª ed. São Paulo: Eleva Cultural,2022.
NETTO, Letícia Rodrigues Ferreira. Patriarcado. Brasil Escola, disponível em: https://www.infoescola.com/sociedade/patriarcalismo/ acesso dia 28\06\2022.