Para o corpo docente do IJEP, ensinar a Psicologia Junguiana, é ir além da informação teórica, porque inevitavelmente nossos cursos irão interferir na formação do indivíduo, aproximando as dimensões estéticas e éticas, com objetivo de expandir a consciência dos alunos, para que eles saiam da miserabilidade egoísta, advinda da condição instintiva da biosobrevivência, para aceitar a angústia de reconhecer a infelicidade comum, devido às desigualdades e a falta de verdadeira fraternidade entre os humanos. No transcorrer do curso, muitos alunos experienciam um salto, uma espécie de chamado para ir além deles mesmos, atuando como ativistas sociais, porque reconheceu o chamado para despertar o curador do outro. A partir desse momento ficará difícil manter-se omisso diante das iniquidades. Por isso, neste momento e neste dia dos professores, o IJEP, está publicando um manifesto que defende a democracia acima de tudo é os direitos humanos acima de todos. Nossa instituição não é partidária, mas ensina e estimula as pessoas, após reflexão crítica, a se posicionarem e agirem, como estamos fazendo, obviamente, respeitando os contraditórios.
Publicamos este manifesto com intuito de explicitar e formalizar a posição do IJEP – Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa, diante da atual realidade psicossocial, devido ao risco do agravamento da exacerbação da violência social e do agravamento quantitativo de manifestações psíquicas mórbidas, para uma significativa parcela de indivíduos, com dificuldade de simbolização, que podem sair atuando, literalmente, a violência e as discriminações estimuladas por um dos candidatos à presidência. Isso é o que a Psicologia Junguiana chama de rebaixamento de consciência, produzindo a histeria coletiva.
Nossa instituição é a primeira pós-graduação em Psicologia Analítica no Brasil, e também na formação de membros analistas, e nestes quase trinta anos, ensinamos nossos alunos, nos cursos de pós-graduação em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Arteterapia e Expressões Criativas, que, acima de tudo, precisamos promover a autonomia das pessoas, por meio da ampliação de consciência, capacidade crítica e reflexiva e tomadas de atitudes alinhadas com a alma. Por isso, jamais poderíamos compactuar com o risco da tirania, violência, discriminação, desigualdades, ditadura e fascismo. Estamos nos posicionando contra qualquer liderança que estimula a violência, discrimina mulheres, homossexuais e as minorias raciais, para evitar o surgimento de mais violência contra as categorias dos diferentes, aprofundando ainda mais a exclusão social. Porque cuidamos para que a nossa tão jovem democracia não seja ameaçada.
Infelizmente, o exercício democrático da eleição, neste segundo turno, ficou extremamente polarizado entre a demonização e destruição de um partido, que já provou não ameaçar a democracia, apesar de ter mantido e até agravado muitas práticas inadequadas, e um outro que tem um líder que incita a violência, o autoritarismo e discriminação, mas promete limpar o “mal”. Esta situação está gerando a polaridade, onde as pessoas estão votando contra o outro, e não a favor de construtos ideológicos e políticos. Mas, na realidade, o conflito está entre a democracia e o autoritarismo, numa espécie de plebiscito sombrio, que induz o povo ao erro, por conta de uma planejada ação, que parece caótica, mas estrategicamente usa a micro capilaridade das mídias sociais para, disseminar a distopia e um mar de informações mentirosas, confundindo e, ao mesmo tempo, promovendo o desejo da disciplina.
O resultado disso é a produção de toda essa tensão, como uma competição entre torcidas cegas, e parece que isso está interessando ao jogo midiático do partido que assume a condição da redenção vingativa, na imagem um pai, apesar de agressivo e bruto, que vai colocar ordem e disciplina em toda bagunça. Óbvio que não existe o absolutamente desonesto e o absolutamente honesto, assim como o unicamente caótico e totalmente ordinário. Porém, devido a uma aparente operação que tem o propósito de produzir dissonância cognitiva, medo, raiva, desejo de vingança, por conta de um sentimento de traição, e muito caos informacional, a promessa idealizada de um salvador redentor, que irá disciplinar e eliminar toda sujeira e mal, está produzindo uma espécie de rebaixamento de consciência em grande parte da população, induzindo ao fascismo ditatorial e eliminando os poucos benefícios sociais já conquistados. Esta realidade é arquetípica e a evolução da humanidade tem registrado, inúmeras vezes, o surgimento deste triste fenômeno. Pena que a história nos ensina que raramente as pessoas aprendem com a história e, por isso mesmo, repetidamente, situações bizarras como essa voltam a nos atormentar.
A democracia é fundamentada em três pilares: 1- Criar e garantir direitos para promover a igualdade e liberdade aos cidadãos; 2- Estimular e promover a mediação dos antagonismos e contradições, porque do conflito é que brotam os caminhos para que a harmonização fraterna aconteça, incorporando, como novos direitos, as sínteses evolutivas que surgem; 3- Garantir a soberania do povo, por meio das eleições, fazendo com que os políticos eleitos, cumpram seu mandato de acordo com a proposta apresentada nas eleições, garantindo a soberania do povo.
Então, quando um indivíduo oligárquico – violento, hierarquizante, que incita a homofobia, a misoginia e a exclusão das minorias já tão excluídas, com discursos autoritários, claramente ditatoriais, que nos remetem aos movimentos fascistas do passado -, deseja ser presidente da nação, não podemos ficar passivos acreditando que ele vai varrer a corrupção, achando engraçado o modo como se expressa, obviamente vazio de valores e sem capacidade para gerir nosso grandioso país. Por isso ele foge dos debates.
Porém, o maior risco, infelizmente, é que parte significativa de cidadãos está sendo vitimado por este complexo que polariza de um lado o bode expiatório e do outro o salvador, por ódio ao PT, estão com a intenção de votar nesse representante das classes dominantes, acreditando que com o poder que ele vai receber acontecerá a limpeza esperada. Apesar do seu discurso populista, parece que sua intenção é de manter os privilégios das classes dominantes. Basta vermos quem são os três grupos de apoiadores econômicos dele: 1- Grandes proprietários de terras, que desejam explorar e invadir ainda mais, passando por cima das questões ambientais, extraindo mais minério, invadindo e devastando mais florestas e áreas protegidas para que a monocultura e a pecuária avancem, porque esse é o desejo do mercado; 2- Industriais, não só da indústria bélica e das áreas da segurança, para diminuir direitos trabalhistas, em sintonia a seu discurso já revelado: “vocês querem direitos ou empregos? (Sic)”; 3- Grupos religiosos, que agora estão assumindo, cada vez mais, a mídia e a política, com intuito de dominação e lavagem de dinheiro ilícito. Esses três grupos são representados pelas bancadas de parlamentares do Boi, da Bala e da Bíblia, respectivamente (BBB), que vem crescendo exponencialmente. Ampliando ainda mais a dicotomia entre a enorme massa carente, que está sendo manipulada por esse rolo compressor midiático, certamente com ajuda internacional, e a minoria privilegiada (grande parte da classe média, iludida, equivocadamente, se acha neste polo, mas como ainda está infeliz com sua realidade, atribui ao PT a falta de privilégios).
Por tudo isso, votar no Haddad é, apesar deste passado sombrio da corrupção, garantir a democracia e o estado de direito, ao invés de alargar, ainda mais, os privilégios privados. Não podemos nos esquecer que o Haddad, como ministro da educação, promoveu a inclusão acadêmica de milhares de indivíduos sem privilégios. Para evitarmos a tragédia desta figurara nefasta, que em 27 anos de mandato político nunca fez nada além de confrontar os diferentes e conviver muito bem com corruptos e corruptores, inclusive do seu partido, a classe média, que tem o desejo e a fantasia de fazer parte da minoria privilegiada, precisa compreender que com um regime ditatorial e neoliberal, que é o que representa a oposição ao Haddad neste momento, só irão acontecer mais perdas.
Por outro lado, independentemente dos resultados dessas eleições, estaremos absolutamente engajados para defender a democracia e a pacificação do povo brasileiro. Assim como solicitamos a todos os nossos ex-alunos, alunos e analistas filiados ao IJEP, assumirem atitudes empáticas e tolerantes, estimulando a harmonia e o respeito, mesmo no exercício da ampliação da consciência, por meio da reflexão crítica, que é a nossa verdadeira missão! Aliás, essa é a nossa prática: estimular o confronto com a sombra, por meio dos contraditórios, inclusive de gênero, reconhecer os complexos autônomos, com toda nossa multiplicidade, interna e externa, compreendendo, incluindo e aceitando todas as diferenças humanas, que reflete na diversidade do nosso povo, estimulando a prática da alteridade, que é o exercício de aprender a se ver com os olhos do outro. Só assim atingiremos o ideal da liberdade, igualdade e fraternidade, tão perseguido, desde a revolução francesa, para a extinção dos regimes autoritaristas, ditatoriais, imperialistas ou absolutistas. Encerramos lembrando que C. G. Jung deixou gravado no pórtico de sua residência: “Chamado ou não chamado, Deus está presente”. Somado a isso, acreditamos e praticamos a “Democracia acima de tudo! Direitos Humanos acima de todos”
IJEP – Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa
São Paulo, 15 de outubro de 2018