Vivemos uma verdadeira anomia social. Nunca o conceito de niilismo fez tanto sentido = sofrimento sem saída.
Se não nos isolarmos o número de sofrimento e morte será enorme (incluindo todos aqui da minha casa que são de risco). Se continuarmos isolados haverá uma enorme recessão (mundial e não só no Brasil), muitas empresas quebrarão, muito desemprego e muita fome, claro que são antecedentes de violência.
O que fazer? Eu não tenho a resposta, mas aqui no IJEP estamos mantendo todos em casa, na medida do possível, trabalhos online. Na minha casa, empregada e faxineira em casa recebendo. Tivemos que cancelar viagens que faríamos este ano por conta da pandemia, devolução do dinheiro em boa hora para pagarmos essas despesas já que não teremos aulas. Sonhos que aguardarão um momento de tranquilidade. Mas nada é por acaso.
Qual o caso aqui e agora? Nossa predatoriedade. Avançamos além do que nos pertence. A creação é magnífica, lugar de vida para todos. Mas não nos contentamos com nosso espaço, queremos sempre mais e mais.
O número de seres humanos avançou além do que o planeta pode prover.
Sim, teríamos que ter mais de um planeta para que todos tenham um mínimo de dignidade, com água potável, três refeições ao dia, esgoto, educação e trabalho. Então o caos que se avizinha aconteceria mais cedo ou mais tarde. É a nossa hybris e nossa conta chegou mais cedo do que esperávamos.
Creio que tão cedo não tenhamos solução, que o caos irá se prolongar, sem dúvida, de um jeito ou de outro. Mas o mundo não poderá ser o mesmo, caso contrário a conta será impagável.
A ignorância beira a loucura. Em todos os níveis da sociedade. Quanto mais tecnologia maior a desinformação, mais rara a cultura e o discernimento. O ego aprendeu a ser fragmentado, como em uma esquizofrenia. Tudo que aprende é raso e partido. Não há profundidade nas informações, vivemos de retalhos. Pedaços de muitas coisas e inteiro coisa alguma, nem nós mesmos.
O medo não é psicológico, é real, é visceral.
Sim, muito sofrimento a vista e nós, pessoas sem influência, não temos muito a fazer. A não ser orar. Sim, a oração tem poder, não falo na visão teológica apenas, mas a ciência confirma. A epidemiologia da religião traz inúmeros estudos sobre a resiliência adquirida pela fé, oração e vivência de uma doutrina. Qualquer religião é sempre muito melhor que religião nenhuma. Além do conforto e sentido de pertença traz uma sabedoria valiosa: não há morte apenas mudança de endereço cósmico, como diz a nova física.
Um momento para reflexão, penetrarmos nos recônditos de nós mesmos e confrontarmos nossa sombra pessoal e coletiva. Perceber quão egoístas, narcisistas, corruptos e predadores somos todos. Resgatar o bom, o belo e o verdadeiro em nós para recomeçarmos diferentes, mais humanos.
Creio ser esse o maior ensinamento deste momento sombrio, perdemos o sentido de humanidade onde somos todos um, há UMA humanidade. Jung diz que descendo ao mais profundo da psique, chegando ao Inconsciente Coletivo perdemos nossa singularidade e somos todos um.
Eu, você, o amigo, o inimigo, todos nós partilhamos essa mesma esfera psíquica, do Inconsciente Coletivo. Temos os mesmos arquétipos em potência, sofremos as mesmas dores, somos tomados pelos mesmos complexos. Essa á a esfera a ser encontrada nesta reflexão. Qual seu papel nesta rede de interdependência? O que tanto te sobra? A que você está aprisionado materialmente? O que é o quanto você pode partilhar?
Thich Nhat Hanh:
“Que eu viva em paz, feliz, com o corpo e espírito leves.
Que ela viva em paz, feliz, com o corpo e espírito leves.
Que ele viva em paz, feliz, com o corpo e espírito leves.
Que eles e elas vivam em paz, felizes, com o corpo e espírito leves.
Que eu viva livre de perigos e injúrias.
Que ela viva livre de perigos e injúrias.
Que ele viva livre de perigos e injúrias.
Que eles e elas vivam livres de perigos e injúrias.
Que eu viva livre de raiva, aflições, medo e ansiedade.
Que ela viva livre de raiva, aflições, medo e ansiedade.
Que ele viva livre de raiva, aflições, medo e ansiedade.
Que eles e elas vivam livres de raiva aflições, medo e ansiedade.”
Rezar apenas para você e seu umbigo familiar é egoísmo. Somos mais do que o eu, a família, os amigos, os colegas. Somos UM. O ego é eu, mas o Self é todos. Como diz Thich “Sem lama não há lótus”. Cabe a cada um cultivar sua lótus neste momento de lama.
Dra. E. Simone D. Magaldi – Fundadora e Membro didata do IJEP
06/04/2020
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