Quando queremos falar sobre a maturidade feminina, prepare-se, uma onda com a força de um maremoto se aproxima.
De um lado, a alma clama por significado, por uma maior espontaneidade e sentido. Por outro, há uma sensação social de que o melhor já passou, restando apenas resignação e lamentação.
No entanto, esta reflexão presente busca interromper esse ciclo. É crucial respeitar a história que nos trouxe até aqui.
Analisando o desenvolvimento da vida humana, percebemos uma semelhança com o caminho do Sol em relação à Terra.
Nas primeiras horas do dia, o Sol emerge, irradiando seu brilho e intensificando sua força até alcançar o auge ao meio-dia. Em seguida, sua energia diminui conforme avança, num processo chamado enantiodromia, culminando no entardecer (Jung, 2013).
Na manhã da vida, o homem é como um jovem, focado em suas buscas externas: construir uma família, trabalhar, estudar, alcançar objetivos materiais. À tarde, naturalmente, ele começa a buscar sentido em tudo ao seu redor, voltando-se para dentro. Numa jornada de autoconhecimento e entendimento do Ser, um objetivo cultural (Jung, 2013).
Essa passagem se assemelha à adolescência, sendo uma transição, uma segunda puberdade. No entanto, as antigas formas de resolver conflitos não funcionam mais nesta nova fase, que é um processo de maturação interna. De acordo com Jung (2013, p.87 ):
Contrariamente ao que a cultura prega, na maturidade feminina, existe um campo de expansão, onde a psique é criativa.
A proposta deste artigo é ampliar o campo da consciência e perceber a movimentação que pode ser criativa para as formas de buscar uma maior interiorização, para se empoderar com o que faz sentido e significado neste período da vida.
Por meio do autoconhecimento, é importante estar ciente de como vão as relações com as áreas da vida, como o trabalho, a expressão do amor e da sexualidade em suas relações, a interação social e o cuidado com a saúde. De fato, o lidar com essas áreas até então pode ter sofrido uma influência gigantesca do externo, com o que os outros queriam de mim, ou o que é considerado adequado. Mas nesta fase, o convite é: o que pode ter mais sentido para a minha alma?
Essa questão não é simples de responder, e pode surpreender, pode ser assustador perceber que até o momento, existe uma distância descomunal de Si Mesmo.
A meia idade, o entardecer para Carl G. Jung, é um período fértil na vida humana trazendo a possibilidade de um grande encontro com o Si-Mesmo. Uma nova forma de ser no mundo surge pedindo para reconhecer o pedido de mudanças e a morte de muitas maneiras existentes, é um não resistir, seguir o fluxo.
Assim, por meio de uma linguagem simbólica, a mulher pode se conectar com sua essência do prazer genuíno, encontrando assim uma conexão com sua energia vital. Ao trazer essa singularidade para o universo feminino, torna-se importante a abertura para o universo simbólico, bem como as forças arquetípicas.
A capacidade de simbolizar e atribuir sentido e significado à própria existência é fundamental.
Muitas vezes, as mulheres não reconhecem as forças internas que clamam por um sentido maior em suas vidas, um chamado para se tornarem protagonistas de suas próprias histórias. A conscientização das forças estereotipadas da cultura que exercem poder sobre elas contrasta com as energias internas necessárias para as mudanças no entardecer da vida, influenciando suas ações e emoções no mundo, segundo a autora Bolen, 2009.
As mudanças corporais revelam que a pausa para a interiorização e a tomada de decisões conscientes são primordiais nessa jornada. É essencial permitir-se sentir o luto pela juventude. Abrir espaços para as emoções que emergem e buscar intensamente a intuição para discernir o que é real do que é apenas um preconceito.
Jung nos alerta para o período do entardecer da vida, onde as conquistas externas perdem parte de seu valor, e buscar a consciência de que nos preparamos para a finitude se torna essencial, dando espaço para nos conectarmos com nosso universo interno.
O passado se faz presente com suas repressões, trazendo mudanças biológicas que anunciam a transição de uma fase para outra, e o futuro permanece como uma incógnita.
Nesse período de transição, Jung nos mostra que é repleto de significado, e as reflexões nos conduzem a vislumbrar um futuro mais pleno de sentido e espontaneidade.
A sabedoria adquirida no convívio com outras mulheres maduras, o riso compartilhado, a descoberta de novas paixões como a dança, a expressão artística ou até mesmo uma nova profissão, o enfrentamento e elaboração das dores, assim como o processo de estar em sintonia com sensações diferentes em nosso próprio corpo, podem servir como trampolins para uma nova vivência; os caminhos são infinitos. Porém, o mais crucial é acreditar que novas possibilidades nesta etapa da vida são viáveis e que as auto descobertas podem ser fascinantes.
Em uma era de mídias sociais que idolatram a juventude eterna, que promovem a constante exibição de felicidade e alegria, que glorificam um corpo sem rugas ou marcas do tempo, além de uma cultura patriarcal que valoriza exacerbadamente o masculino e evidencia um flagrante etarismo, é possível perceber os desafios que as mulheres enfrentam para encontrar sua própria espontaneidade, sentido e significado pessoal.
Os riscos de prosseguir na trajetória sem reflexão, e simplesmente seguir o fluxo imposto pela sociedade, podem resultar em um vazio existencial que se intensifica com o passar dos anos. Junto a esse vazio, surgem sintomas diversos, como um aviso do Self para mudar a rota.
O desafio reside em retornar ao que verdadeiramente ressoa com a alma fazendo escolhas conscientes e significativas, por meio do autoconhecimento das transformações do corpo, mente e espírito. É não permitir ser arrastada pelas demandas sociais, mas sim alcançar a plenitude durante o entardecer da vida.
Euflausina Goes dos Santos – Membro Analista em Formação IJEP
Dra. E. Simone Magaldi – Membro Didata IJEP
Referências:
Jung CG. Psicologia do inconsciente, 23ª ed. Petrópolis: Vozes, 2013
BOLEN JS. As deusas e a mulher: nova psicologia das mulheres. 8ª ed São
Paulo: Paulus Editora, 2009
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