Ainda que em OC 8/2 Jung afirme que a sua psicologia não é uma cosmovisão (visão de mundo), tendo a discordar do mestre, pois quase qualquer fenômeno humano é passível de ser analisado e ampliado simbolicamente à luz das premissas da psicologia junguiana. Entretanto, para fazê-lo, é necessário que se pratique o que estou chamando neste artigo de pesquisa em psicologia analítica.
Certa vez uma pessoa me abordou dizendo que não conseguiria fazer mestrado ou doutorado na área da psicologia clínica junguiana em sua cidade de residência, pois não havia psicólogos(as) que produzissem pesquisa em psicologia analítica.
Discordei dela no que tange a limitação do campo de pesquisa, dizendo que o mais importante era ela conseguir um(a) orientador(a) da área de humanas que tivesse simpatia pela psicologia junguiana (o que não é tarefa fácil fora dos núcleos junguianos), pois consigo enxergar a possibilidade de ampliar, analisar e aprofundar o entendimento de fenômenos psíquicos a partir do pensamento junguiano em muitas cadeiras acadêmicas, por exemplo, Comunicação, Ciências Sociais, Ciências da Religião, Teologia, Antropologia, História, Ciências Políticas, Marketing, Administração de Empresas, Literatura, Artes e Arquitetura, além das mais óbvias, Psicologia e Psiquiatria.
E não é porque a pesquisa se deu na cadeira de Ciências Sociais, por exemplo, que ela não será benéfica para a prática clínica. Costumo dizer que o consultório recebe, em menor escala, toda a problemática humana do mundo, portanto, pelo menos em psicologia junguiana, a especificidade da área acadêmica onde se produzirá a pesquisa pouco importa, pois tudo que é humano importa à psicologia analítica, e nem tudo que é humano pertence, exclusivamente, à Psicologia tradicional, da graduação; todas as ciências humanas têm fenômenos psíquicos de sobra passíveis de serem investigados pela psicologia analítica.
Se você quer (ou precisa!) fazer pesquisa em psicologia, você precisa de um fenômeno (que a academia também chama de objeto) a ser pesquisado!
Conto-lhes que o meu mestrado, e de alguns colegas de IJEP, foi na área de Comunicação. Para tanto, elegi um fenômeno muito claro: o sofrimento psíquico no ambiente de trabalho, e busquei entender como as mídias contemporâneas (optei por revistas da área de negócios/RH) apresentavam este sofrimento no trabalho ao grande público.
Em seguida eu o investiguei tendo como uma das bases epistemológicas para a construção de meus argumentos a psicologia de Jung – raramente uma pesquisa de mestrado ou doutorado tem apenas uma área de conhecimento específica em seu arcabouço teórico, porém, há uma ênfase em certa área, que no meu caso foram as premissas dos pensamentos simbólico e arquetípico, que tem como um dos seus principais autores C.G. Jung.
Logo, o que fiz foi investigar um fenômeno muito claro, o sofrimento psíquico no ambiente de trabalho, para que eu pudesse construir um novo conhecimento acerca dele, explicando-o com a ajuda da psicologia junguiana.
Esta pesquisa foi publicada no livro Trabalho, sofrimento e autorrealização
Confira meu livro: https://elevacultural.com/product/trabalho-sofrimento-psiquico-e-realizacao-pessoal/
Aqui começam alguns problemas que tenho observado especialmente nas monografias de alunos de pós-graduação. Mas penso que meus apontamentos sirvam para qualquer profissional que queira produzir pesquisa em psicologia analítica.
Regularmente me deparo com pessoas que querem iniciar suas pesquisas a partir de um conceito junguiano. Apesar de isto ser possível, existe a chance de se cair em uma armadilha que deixa o pesquisador “refém” do conceito.
Em outras palavras, assim como em qualquer investigação científica, penso que a pesquisa em psicologia analítica deve partir, a priori, do interesse de analisar e conhecer um fenômeno, e não um conceito junguiano. O conceito (ou teoria) serve para construir o argumento que explica o fenômeno e não o contrário.
Trocando em miúdos, uma coisa é investigar, por exemplo, “o complexo paterno nas mulheres heterossexuais”, o que tende a se tornar uma armadilha, ao invés de investigar “relacionamentos abusivos na contemporaneidade sofrido por mulheres heterossexuais”.
A diferença entre o primeiro e o segundo é que o primeiro já insere o conceito no centro da pesquisa, e o segundo mostra um fenômeno bem claro, no qual, muito provavelmente, o conceito de complexo paterno será apresentado como parte da estratégia argumentativa, uma vez que para se construir uma pesquisa sólida, outros conceitos precisarão entrar “em cena” também.
Como explorar este fenômeno?
Para que a pesquisa em psicologia analítica ocorra de maneira mais natural, é importante saber qual fenômeno se quer observar, e não são poucas as opções, a exemplo das diversas áreas do saber que mencionei acima. Mas muitas pessoas “travam” na hora de avançar em suas pesquisas por não encontrar o tema dentro das obras junguianas, dizendo “eu queria pesquisar sobre tal fenômeno, mas em nenhum lugar Jung fala sobre isso”.
Aqui está outro erro perigoso: ambas opções que menciono a seguir valem, mas há uma diferença significativa entre A) investigar o fenômeno À LUZ da psicologia analítica e B) investigar o fenômeno DENTRO psicologia analítica (dessa segunda forma de pesquisa faço um comentário mais abaixo).
Para ser mais claro, voltemos ao exemplo da minha pesquisa: eu investiguei o sofrimento psíquico no ambiente de trabalho. Onde Jung fala, literalmente, sobre sofrimento psíquico no ambiente de trabalho em sua obra? Tirando um parágrafo ou outro espalhado nas mais de 17.000 páginas de suas produções escritas, ele não fala em lugar algum!
Portanto, para construir uma pesquisa desta natureza, o que eu preciso entender primeiro é como as pesquisas contemporâneas classificam o sofrimento psíquico no trabalho. Em seguida, posso construir o entendimento desse dinamismo psíquico conforme Jung estruturou a psique em seus escritos.
Passo a passo
Partindo do pensamento junguiano, posso inferir – e inferências prévias fazem parte da construção de uma pesquisa – que todo tipo de sofrimento psíquico (não importa se é no ambiente de trabalho ou ambiente familiar) tem relação com a constelação de complexos do inconsciente pessoal na consciência. Isto é, algum conteúdo do inconsciente que devido ao maior afluxo de energia psíquica ganha força suficiente para incomodar a soberania e fantasia de controle do ego (OC 3; OC 8/1).
O ego, por sua vez, categorizará este “incômodo” do complexo como “sofrimento”. Seguindo o raciocínio investigativo, precisamos lembrar que Jung nos diz que todo complexo tem um núcleo arquetípico (OC 3), e isso me autoriza a buscar imagens míticas, que são representações arquetípicas (OC 9/1), para ajudar na explicação do fenômeno que quero pesquisar (sofrimento psíquico no trabalho).
Não preciso buscar mitos que reproduzam literalmente a temática do trabalho, pois o centro da pesquisa é o sofrimento humano. Por isso, qualquer mito que trate da temática do sofrimento me será útil para construir a pesquisa. Mas só sei disso tudo porque tenho um repertório relevante de psicologia analítica. Meu desafio como pesquisador, a partir de agora, é averiguar se essas conexões prévias estabelecidas são suficientemente robustas para tecerem minha pesquisa. E assim a pesquisa vai acontecendo.
E se eu não tiver uma base junguiana que me leve a inferências prévias acerca do fenômeno que quero investigar?
Aqui não tem segredo e nem caminho mágico! Para qualquer tipo de pesquisa, não apenas na pesquisa em psicologia analítica, é preciso muito conteúdo acadêmico. É a partir dele que as primeiras suposições começam a ganhar vida, para que depois sejam refinadas ao longo da pesquisa. A palavra-chave é: repertório! Quanto mais lemos, participamos de congressos, ou grupos de estudo de determinada área do saber, mais repertório formamos. É muito difícil produzir qualquer pesquisa em psicologia analítica (ou qualquer outra área) com baixo repertório.
Por isso que na grande maioria das minhas aulas de pós-graduação incentivo os futuros terapeutas e analistas junguianos que leiam Jung direto na fonte, em suas obras, para que tenham um repertório razoável na hora de escrever textos na área.
Se você é incapaz de fazer qualquer tipo de inferência prévia acerca do fenômeno que você quer investigar, você precisa dar um passo atrás, construir repertório em torno dele e em torno da base epistemológica que você pretende pesquisar seu fenômeno, que no nosso caso, como pesquisadores da psicologia analítica, praticamente se reduz em: ler Jung (pelo menos no começo da jornada)!
Ler Jung é difícil?
Muitas vezes existe uma queixa de que ler Jung é difícil, sendo mais valioso recorrer a autores que escrevem sobre psicologia analítica de maneira menos empolada – sim, Jung é um leitura difícil, concordo.
Mas ainda que eu entenda essa queixa tenho críticas a esta postura. Explico: qualquer tipo de conhecimento acadêmico de determinada área do saber, a meu ver, implica em conhecer razoavelmente bem o que o autor de referência registrou em seus escritos, mesmo que em algum momento se queira abandonar suas ideias para construir novas. Jung só abandou as ideias freudianas porque as conhecia MUITO bem!
Se a nossa pesquisa for em psicanálise, precisamos ler Freud. Se for em administração científica, precisamos estudar Frederick Taylor e Henry Ford (pais das administração científica). Tratando-se de neurociência do cérebro distribucionista, precisamos ler Miguel Nicolelis (um dos neurocientistas mais influentes do mundo). Se for na neurociência do cérebro localizacionista, precisamos ler Antonio Damásio (um dos neurocientistas mais citados do mundo). Se for em psicologia analítica, precisamos ler Jung, por razões óbvias!
Para todas essas áreas que eu mencionei, existe um sem-número de outros autores que produziram novas pesquisas, mas isso não invalida que conheçamos razoavelmente bem os escritos dos autores de cabeceira de determinadas áreas acadêmicas.
Muitas coisas são difíceis na vida…
Quanto a C. G. Jung ter uma escrita de difícil leitura, é fato que muitas coisas são difíceis na vida. Mas quanto mais o lermos, tanto mais teremos maior destreza no entendimento da sua forma de escrita. Assim como um músculo ganha tônus quando é exercitado, a leitura de textos complexos se torna gradativamente mais fluída à medida que a pratiquemos. Costumo repetir a estudantes que se queremos praticar, pesquisar, ou escrever sobre psicologia junguiana, precisamos ler Jung.
Outros autores são bem-vindos, inclusive alguns deles possuem textos brilhantes, mas quando se está no início da jornada de se formar terapeuta junguiano(a) ou no início da jornada da pesquisa em psicologia analítica, textos de outros autores podem ser intercalados com os textos de Jung.
Exemplo hipotético: sequenciar a leitura três livros do Jung e um de um autor junguiano, e depois repetir o ciclo. Ao longo do seu processo de formação de repertório (que é contínuo e não tem fim), você perceberá que terá lido muitos livros de Jung, ganhando, ao longo do tempo, um espaço para que leia outros bons livros de autores junguianos e não junguianos.
Voltando da digressão…
Fiz uma longa digressão que me pareceu necessária para enfatizar a importância da solidez do repertório para qualquer pesquisa. Isto por que esse repertório que ajuda a iniciar o contorno de qualquer pesquisa.
Retornando à questão do fenômeno x conceito, menciono outros exemplos que já tive contato:
1) me perguntam, por exemplo, “onde Jung fala de ansiedade na obra”, e respondo, ele não fala sobre isso, mas também fala!
Em outras palavras, em nenhum lugar da obra junguiana se encontrará a categorização psicopatológica da ansiedade (menos ainda se compararmos ao DSM ou CID da atualidade). Mas a todo tempo Jung está falando da gênese da ansiedade, que também é a manifestação de um complexo.
Então, precisamos entender o que seria a dinâmica da ansiedade conforme a estrutura psíquica que Jung apresenta. E não procurar o fenômeno em sua literalidade na obra!
2) também já me abordaram dizendo que em nenhum lugar da obra Jung fala sobre preconceito racial.
Literalmente, isto é verdade, porém, precisamos entender qual é a dinâmica psíquica de qualquer preconceito que não apenas o racial. Trata-se de projeção de sombra e/ou complexo, e sobre isso, Jung fala o tempo todo em sua obra. Isso implica em pesquisarmos o que é projetado quando se fala especificamente de preconceito racial.
Poderia dar diversos outros exemplos, mas o brilhantismo da psicologia analítica está em nos oferecer as bases para entender as estruturas e a dinâmica de fenômenos psíquicos. Por isso não carece que o fenômeno específico que nos interessa pesquisar esteja literalmente mencionado na obra junguiana.
E se eu discordar das ideias junguianas e querer refutá-las?
Essa é aquela opção que eu disse mais acima sobre investigar determinado assunto DENTRO da psicologia analítica. Devo mencionar que existe também a possibilidade de se construir esse tipo de pesquisa, que é aquela que confronta o conceito junguiano.
Um exemplo seria desconstruir a ideia clássica que Jung nos deu sobre os conceitos de anima e animus; apresentando mediante pesquisa empírica, tal como Jung o fez, uma nova visão dessa simbologia de masculino e feminino arquetípicos.
Outro exemplo, seria construir uma estrutura epistemológica que visasse discordar ou refutar um dos textos monográficos de Jung, como Resposta a Jó, Tipos Psicológicos ou Aion, apontando erros, inconsistência de argumentos ou ausência de determinada fundamentação por parte do autor.
O que diferencia esse tipo de pesquisa da anterior é o nível de complexidade. Na primeira, usamos o autor e sua teoria para investigar um fenômeno, isto é, não “brigamos” com o autor. Já na segunda, a teoria do autor é o próprio fenômeno, por isso a teoria deve ser posta à prova!
Analisando caso a caso
No primeiro caso – pesquisar o fenômeno à luz da teoria –, precisamos ter um conhecimento razoável sobre a teoria do autor e autores correlatos para investigar nosso fenômeno de interesse.
No segundo caso – investigar ou criticar a própria teoria –, precisamos ter um conhecimento PROFUNDO do autor, da obra e da fundamentação utilizada por ele para construir sua obra.
Como mencionei , Jung discordou de Freud. Mas isso se deu após uma profunda e profícua colaboração acadêmica entre ambos. Na época, Jung estudou criticamente todos os escritos de Freud e de seus colaboradores mais próximos.
No caso de construir uma pesquisa de magnitude tal, capaz de refutar a obra de um autor, sugiro que ela seja feita num contexto adequado a isto, com a devida profundidade, a exemplo do doutorado acadêmico.
Em um texto-artigo que, por exemplo, equivale às monografias das especializações do IJEP, que têm cerca de 30 páginas, é cientificamente impossível desconstruir as ideias mais sólidas de Jung.
Por isso, sugiro que deixemos este tipo de questionamento para pesquisas mais longínquas e profundas.
E de onde começamos nossa pesquisa em psicologia analítica?
De uma pergunta! Sim, qualquer pesquisa precisa partir de uma dúvida e não de certezas. As certezas até podem se tornar hipóteses (com isso, deixando de ser certezas), ou pelo menos uma hipótese, mas é preciso que tenhamos prontidão para aceitar que esta talvez não seja verdade. E esse é outro imbróglio!
Não raro, observo pessoas que pesquisam temas em Jung apenas para legitimarem as próprias crenças. Com isso, incorrem no erro de cair em generalizações que não se aplicam, como dizer que determinado ritual ou prática é o “caminho” para a individuação, quando tal ritual ou prática, representa, no máximo, um simbolismo da individuação, mas muito distante de ser o caminho em si, que pode ser descrito apenas por metáforas e nunca por determinismos (OC 5; OC 12).
Logo, a problematização de uma pesquisa é sempre uma pergunta bem objetiva e bem clara, com ponto de interrogação no fim. Falo aqui da interrogação para acentuar que de fato é uma pergunta que deve ser feita!
A esta pergunta bem objetiva e bem clara, ofereceremos uma resposta tão clara quanto e também convicta, a qual chamaremos de hipótese – essa convicção será colocada à prova e a pesquisa responderá se estávamos certos ou errados quanto à esta convicção.
Exemplificando
Tomemos o exemplo de uma pesquisa e consequente artigo sobre a simbologia do burnout escrito por mim em parceria com Leonardo Torres e José Balestrini, e publicado no periódico científico Intexto em mar/2023.
A pergunta-problema do artigo foi: quais símbolos podem ser levantados e explorados a partir dos martírios míticos, sendo estes fenômenos da psique humana que não correspondem a uma leitura dentro de um espaço-tempo?
A este problema, respondemos com a seguinte hipótese: Pelo mito das Danaides, que sofreram o martírio de preencher com água pela eternidade toneis sem fundo, torna-se possível compreender as causas do sofrimento em sentido simbólico, bem como apontar caminhos que sugerem a forma de lidar com esta problemática atual.
Com essas duas sentenças, uma interrogativa e outra afirmativa, criou-se um desafio suficientemente sólido a ser enfrentado na pesquisa. Isto pois nada nos garante, a priori, que o mito das Danaides comprova nossa hipótese.
Será justamente a construção do argumento que demonstrará, paulatinamente, se a hipótese é comprovada ou refutada. Independentemente do resultado, a pesquisa já teve validade. Note-se que o que importa na pesquisa é o que se conclui dela, e não se nossa crença (transformada em hipótese) é legitima ou não.
Por esta razão comento com alunos que se eles têm a crença profunda em algo, que lhes confere um valor pessoal importante, para que não pesquisem sobre. Caso o contrário existem pelo menos dois riscos:
1) Generalizar algo que não é generalizável (vide exemplo que mencionei mais acima). Uma vez que, como já sabemos por Jung, muitas experiências psíquicas são absolutamente individuais, não passíveis de generalizações;
2) Concluir que a crença não encontra respaldo quando confrontada com a psicologia junguiana, o que pode causar uma frustração relevante. Será que é preciso passar por isso? Não sou eu que vou responder, mas vale a pena considerar que talvez um outro tema, com menor custo emocional, pode ser mais aprazível.
Por outro lado, é mais fácil articular cientificamente sobre temas que já possuímos bons repertórios. Quanto maior e mais qualificado o repertório que temos acerca de um fenômeno, tanto na psicologia junguiana como em ciências correlatas, maior a chance de se construir uma pesquisa em psicologia analítica bem articulada.
Para acabar!
Antes de encerrar este breve ensaio, comento que uma pesquisa em psicologia analítica pode ser por um lado terapêutica e por outro lado a representação de uma perseveração, ou seja, a repetição de algo que, na prática, não sai do lugar – a famosa constelação de complexo. Isso se dá porque os complexos também “participam” da construção da nossa pesquisa, por isso pesquisar um assunto que é muito “caro” à nossa história individual, pode ser muito ruim, porque a pesquisa sensibilizará núcleos afetivos em torno da temática que podem ser bem desconfortáveis. Contudo, construir uma pesquisa em torno de um tema muito pessoal pode ter um efeito coterapêutico.
Como decidimos? Penso que discutir isso na própria análise pessoal (partindo do pressuposto de que todos aqueles que querem se tornar terapeutas ou analistas estão em análise pessoal), pode ser de grande valia.
Por esses motivos, não fecho questão afirmando o que pode ou não ser pesquisado em termos emocionais. Contudo alerto que uma pesquisa tem potencial de sensibilização, daí a necessidade de pautar essa questão na própria análise.
A pesquisa em psicologia analítica pode nos levar a muitos lugares
A pesquisa em psicologia pode nos levar a muitos lugares: publicação de artigos em periódicos especializados, participação em mesas redondas de congressos, palestras em fóruns relacionados ao seu tema de pesquisa, participação em podcasts, videocasts, programas de rádio ou de TV. Pode levar também a publicação de livros ou pelo menos de capítulos em livros temáticos que abarcam diversos autores. Porém, o mais importante, é saber que pesquisar é ir além; é questionar, ampliar, aprofundar no entendimento de um fenômeno psíquico.
E mesmo que essa pesquisa não culmine em qualquer tipo de publicação, como visto acima, ela estimulará seu raciocínio investigativo e crítico. EXATAMENTE o que se espera de um terapeuta ou analista em sua prática clínica: investigação, ampliação e aprofundamento dos conteúdos apresentados pelos analisandos.
Penso que escrever algumas páginas sobre determinado tema é bem menos desafiador do que lidar com cada alma humana que passa pelo nosso consultório. Quantas páginas de pesquisa poderiam ser escritas para cada um de nossos analisandos? Esse também seria um ótimo problema para uma pesquisa.
Boa jornada!
Rafael Rodrigues de Souza – Analista Didata em Formação
Waldemar Magaldi Filho – Analista Didata
Referências:
JUNG, Carl Gustav. Psicogênese das doenças mentais (OC 3). 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
JUNG, Carl Gustav. Símbolos da transformação (OC 5). 9 ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
JUNG, Carl Gustav. A energia psíquica (OC 8/1). 8 ed. corrigida. Petrópolis: Vozes, 2002.
JUNG, Carl Gustav. A natureza da psique (OC 8/2). 10 ed. Petrópolis: Vozes, 2013.
JUNG, Carl Gustav. Psicologia e alquimia (OC 12). 6 ed. Petrópolis: Vozes, 2012.
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