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O presente texto pretende refletir sobre as dinâmicas psíquicas subjacentes às interações humanas, em especial às afetivas. Pretende refletir também sobre alguns aspectos possivelmente relacionados a questões comuns sobre relações afetivas, que emergem em terapia. Por exemplo, quem está fora de uma relação afetiva perguntando: por que não encontro um(a) parceiro(a) afetivo(a)? Ou: o que tenho que ninguém me ama? Em contrapartida, quem está dentro de uma relação questionando e mesmo desqualificando a si mesmo(a) pelas angústias e inseguranças que experimenta associadas à vivência de seu relacionamento. A fundamentação teórica dessa reflexão é junguiana, com especial apoio para o desenvolvimento das reflexões que se seguem, na abordagem dos capítulos iniciais do texto “Eros e Pathos: amor e sofrimento” de Aldo Carotenuto (1994).

Prateleiras de super-mercados abarrotadas. Vastas áreas em reluzentes shopping centers lançando apelos ao consumo… Consumo e mais consumo, sempre acenado como viabilizado por sorridentes anunciantes de cartões de crédito. Autonomia. O mundo da fartura sem compromisso com a origem dos produtos, com a remuneração de quem os fabricou, transportou, de quem os está vendendo. Nem com os resíduos produzidos no processo. Engajamento total na compra de uma imagem. A construção de uma persona de aparência feliz e integrada ao mundo hiperdigital em que vivemos. E tudo tão fácil, tão aparentemente ao alcance das mãos, de um gesto. De um clique. As dívidas e dúvidas… Ficam para amanhã. Vamos a qualquer lugar com um piscar de olhos, com um telefonema, com a consulta a um site na internet.

O tema dessa reflexão é permeado por uma história: negro, Rafael, quando criança esteve escravo. Fugiu e adulto tenta sobreviver na “França das Luzes”, no início do século XX. Depara-se com severas restrições sociais devido à coloração de sua pele. Ele próprio, com seus comportamentos e decisões, também destrói e dissipa o que constrói pelo próprio esforço. Assume uma atitude de radicalização, de tudo ou nada em relação ao seu trabalho. Antes de seus 50 anos, alquebrado por tanta rejeição e luta, desiste, adoece e morre. Trata-se da história verídica do palhaço Chocolate, famoso e inovador em sua época de palcos e picadeiros, como palhaço.