Cuidar dos aspectos psicossociais da unidade de cuidados paciente/família desde o momento do diagnóstico até a reabilitação do paciente ou fase terminal da doença e morte exigirá da equipe multiprofissional um entendimento maior do adoecimento enquanto um processo dinâmico. Durante este processo, tanto o paciente, quanto seus familiares e equipe cuidadora passam por diferentes fases, com necessidades diversas, o que tornará indispensável diferentes intervenções para suprir a nova demanda. O que nos leva a concluir que cuidar é uma operação extremamente complexa.
Na história da evolução dos cuidados, houve um tempo em que os cuidados a serem ofertados deveriam contemplar a integralidade do ser adoentado e a doença era vista como um desequilíbrio (Macieira, 2001)1 na relação do doente consigo mesmo, em suas relações sociais ou com o seu meio e ainda, e não menos importante, com a sua parte divina e espiritual. No entanto, o grande volume de informações trazidas pelos avanços científicos nas áreas de saúde, principalmente a partir do século XX, criou a necessidade de especializações profissionais, e com isto, a fragmentação dos conhecimentos. O conhecimento segmentado, formador de angústia profissional, tornou imprescindível a criação de equipes multiprofissonais de forma a não perder de vista a totalidade e a multidimensionalidade do ser cuidado. A evolução contínua impõe a seguir, o que conhecemos atualmente pelo nome de transdisciplinaridade.
Como consequência destes inegáveis progressos, a transdisciplinaridade é, nos dias de hoje, uma prática necessária. Entretanto, surgiram novas questões: quem cuida do quê? quem avalia e quem dá suporte? qual deve ser a formação adequada? onde está o limite de atuação de cada profissional? como atender à complexidade que é o existir humano?
Para responder a estas perguntas, entendemos transdisciplinaridade como sendo a atuação de um conjunto de profissionais de saúde, que compreendem a realidade, congregam e elaboram os diversos saberes específicos, desenvolvem propostas de atuação integrada, implementam programas interdisciplinares e atuam de forma transdisciplinar (Veit e cols, 2009)2.
A transdisciplinaridade oportuniza a discussão dos casos, revisão de condutas e objetivos, possibilita o respeito à diferentes perspectivas, favorece o contato e a comunicação e serve ao propósito de apoio e troca entre os membros da equipe. Além disto, a transdisciplinaridade (Veit e cols, 2009)2favorece o tomar decisões pautadas no conhecimento e na ética, após discuti-las entre as disciplinas e os profissionais de uma equipe, ter flexibilidade para reconhecer valores, direitos e realidades diferentes, respeitar a diversidade de saberes e trabalhar com indivíduos (outros profissionais, pacientes e familiares) com características pessoais e singularidades.
Referencias:
1. Macieira RC. O Sentido da vida na experiência de morte. Ed. Casa do Psicólogo. São Paulo. 2001
2. Veit MT (org.) Transdisciplinaridade em Oncologia: Caminhos para um atendimento integrado. Realização: ABRALE – Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia.
Coordenação das seções: Celia Roseli Duarte Redó, Karin Sá Fernandes, Marcia Maria Alves de Carvalho Stephan, Marilia Bense Othero, Rita de Cássia Macieira e Vicente Augusto de Carvalho. HR Gráfica e Editora, SP – 2009
Rita de Cassia Macieira – Professora do IJEP – Instituto Junguiano de Estudo e Pesquisa e co-coordenadora do curso de PSICOLOGIA INTEGRATIVA TRANSPESSOALPsico-Oncologista com Certificado de Distinção em Conhecimentos pela Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia. Mestre em Saúde Materno Infantil pela Faculdade de Medicina da Universidade de Santo Amaro. Presidente da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia, gestão 2008/2010.