O presente artigo trata do complexo do bode expiatório em seu surgimento e vivência no dinamismo familiar, a partir do conto “A princesa determinada”.
Muito se usa em nossos dias a expressão “bode expiatório” para se referir às pessoas ou grupos sociais sobre os quais se joga uma carga de acusações e responsabilização. Como se fossem eles os “errados”, “feios”, “perigosos”, “estranhos”, enfim, os culpados por tudo o que se considera inaceitável no código moral e de comportamento daquele grupo. E até sobre outros males, como doenças ou calamidades. Normalmente, as ditas “minorias” recebem essas acusações.
Toma-se como base os ensinamentos de Sylvia Perera em sua obra sobre esse complexo, comparando o significado originário do ritual hebraico do bode expiatório e mesmo elementos anteriores com a forma como o complexo é vivido na atualidade, desconectados que estamos da fonte transpessoal.
O objetivo é perceber as características da vivência atual e que elementos de transformação são oferecidos pelo resgate simbólico do ritual, a partir da inspiração do conto e das considerações teóricas da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, curativos para a dor de quem vive tomado por esse complexo.
O que faz alguém ser tomado pelo complexo do bode expiatório é que ele recebe e aceita a carga.
Complexo, segundo Jung (2018, §201), é “a imagem de uma determinada situação psíquica de forte carga emocional […], dotada de poderosa coerência interior”, com totalidade e grau de autonomia elevado, como se fosse um corpo estranho com vida própria, incompatível com a atitude habitual da consciência.
O indivíduo até pode ser – e neste caso busca ser – bem-sucedido e corresponder ao máximo à moral vigente, mas a constelação do complexo sempre o fará se sentir uma fraude, inadequado e indigno, e a rejeição que sofre de fato confirmará esse autodesprezo e o colocará num círculo vicioso do qual é difícil sair.
O decadente rei acusador e os exilados
O conto “A princesa determinada” narra a estória de uma filha que se negou a concordar que a vontade do pai determinasse o seu destino e, exilada no deserto após anos na prisão, construiu a própria vida e o próprio reino, diferente, no qual outros “desencaixados” tinham lugar. Do rei era dito que: “acreditava na autoridade de tudo aquilo que lhe fora ensinado e de tudo aquilo que ele considerava correto” e que se tratava de “um homem justo, sob muitos aspectos, porém de ideias limitadas” (Perera, 2022, p. 160). Quando colocou a terceira filha na pequena cela, ao passo que ele e as outras duas, as obedientes, desfrutavam das riquezas, o povo do país pensou ter feito ela algo muito grave, pois ninguém jamais havia contestado a autoridade do rei. Este mesmo, a princípio, achava que a prisão mostrava ser a sua vontade soberana.
No entanto, com o passar dos anos sem que a princesa voltasse atrás, considerou que a presença dela enfraquecia a sua autoridade e foi aí que resolveu bani-la para o deserto.
Lá ela conseguiu ordenar a sua vida e descobriu que os elementos contribuíam para o todo, sem obedecer às ordens do rei. A princesa exilada casou-se com um viajante de posses e juntos construíram no deserto “uma imensa e próspera cidade em que sua sabedoria, seus recursos e sua fé eram expressos da maneira mais completa” (Perera, 2022, p. 161).
Ali se harmonizaram os “estranhos” e outros banidos, todos contribuindo de forma útil, a ponto de a cidade tornar-se mais poderosa e bela que o reino do pai da princesa. Ela e o marido foram eleitos os monarcas, por escolha dos habitantes. O rei resolveu conhecer aquele lugar que adquiriu tanta fama e era habitado por “aqueles aos quais ele e seus afins haviam desprezado.” Surpreendeu-se ao erguer os olhos aos monarcas, de cujo trono se aproximou com a cabeça curvada, e escutou estas palavras murmuradas por sua filha: “Vê, meu pai, como cada homem e mulher tem seu próprio destino e sua própria escolha.” (Perera, 2022, p. 162)
Um primeiro olhar a esse conto leva a identificar os “estranhos”, banidos ao deserto pelo aspecto dominante e figura parental, como os bodes expiatórios daquele reino.
Afinal, este termo é usado atualmente para indicar indivíduos ou grupos tidos como os causadores de infortúnios. Indivíduos que carregam a sombra coletiva, e cuja acusação alivia os acusadores de sua responsabilidade e lhes fortalece o poder. No sacrifício hebreu do bode expiatório, que veremos adiante, existem dois bodes. Um bode sacrificado, oferecido ao Senhor, que redime e purifica. E outro bode expulso ao deserto, dedicado a Azazel (antes um deus ctônico, tornou-se o anjo decaído para os hebreus) que carrega os males e remove a culpa.
Os dois traços são, então, a vítima e o perseguidor demoníaco, o acusador.
“O acusador do bode expiatório é experimentado como uma moral elevada, mas ultrassimplificada, que representa virtudes coletivas e, portanto, opõe-se à vida instintiva” (Perera, 2022, p. 27), manifestado no conto na figura do rei. Aquele que deveria ser o regente, o centro diretor de uma totalidade equilibrada, em cujo reino cada elemento contribui de forma funcional e harmônica para o conjunto, está unilateralizado. Abusando do poder e da sua própria vontade. É um rei decadente, portanto, cujo papel está deturpado. A aparente prosperidade do seu reino tem os dias contados. Isto porque o governante não é alguém de visão, mas de ideias limitadas. Que encarcera e bane o princípio feminino, representado pela princesa.
Ao não se submeter, ela denuncia a deficiência do pai e o enfraquece.
Foi de cabeça curvada que, por fim, o rei precisou se aproximar daqueles “cuja reputação de justiça, prosperidade e compreensão ultrapassava em muito a sua” (Perera, p. 162), governantes dos desprezados e banidos por ele, com os quais foi construído “um estranho e misterioso lugar que florescera num deserto” e cujo poder e beleza sobrepunham o seu reino (Ibid., p. 161).
Assim como este rei, as pessoas tomadas pelo complexo do bode expiatório tornam-se limitadas, unilateralizadas e de ideias fixas. Visto que não conseguem se conectar ao Self (aquele que é ao mesmo tempo centro e totalidade psíquica), e a ele servir. Não conseguem viver o processo de ir se tornando quem realmente são. Permanecem presas ao papel coletivo e projetam neste coletivo sua direção, de modo que que não são capazes de “encontrar sua própria autoridade interior ou a integridade de sua consciência individual” (Ibid., p. 20).
Portanto, os bodes expiatórios são, ao mesmo tempo, o rei e os exilados antes de escolherem serem regidos pela princesa (pelo feminino expulso que carrega os valores do material rejeitado). Para aprofundar um pouco mais essa questão, vamos falar do sacrifício hebreu do bode expiatório e de seus traços na atualidade.
O bode expiatório e a manifestação atual no complexo
Em várias culturas antigas havia cerimônias de reconciliação, expiação do mal e expulsão dos males (ou elementos tidos como estranhos), transferindo-os para animais, plantas ou objetos, como canal de “renovação do contato com o espírito que rege o povo” (ibid., p. 13). Na cultura hebraica, o sacrifício do bode expiatório era parte do ritual do Yom Kippur, o Dia do Perdão, ligado a um aspecto de confissão do pecado e expiação da culpa e parte das festividades do Ano Novo.
O sacerdote fazia um ritual preliminar, resgatando a si mesmo e à sua família, o que o diferenciava da posição comum. Procedia, então, servindo a Deus em prol da comunidade, à distinção e oferenda dos bodes. Um deles era oferecido ao Senhor pelos pecados e sacrificado. Seu sangue purificava e sacralizava o santuário, o tabernáculo e o altar, aplacando o Deus irado e expiando Israel de suas transgressões e pecados. “Representa a libido que é dedicada e liberada, por meio do sacrifício, para expiar o pecado e aplacar o Deus ultrajado” (Ibid., p. 22). Os restos eram considerados impuros e cremados do lado de fora do acampamento. O outro bode, dedicado a Azazel, era retirado vivo do acampamento e mandado para o deserto.
Antes, o sumo sacerdote, com as mãos sobre a cabeça do animal, confessava e depositava nele todas as faltas e transgressões dos filhos de Israel. “O errante bode exilado remove a nódoa da culpa. Enquanto portador do pecado, ele carrega os males confessados sobre sua cabeça para longe do espaço da consciência coletiva” (Ibid., p. 22). Segundo Perera, é a libido ligada às necessidades instintivas ameaçadoras, aos impulsos descontrolados, sobretudo na sexualidade, agressão, cobiça e rebeldia.
Sylvia considera que atualmente existe uma “distorção patológica da estrutura arquetípica do ritual hebraico” na psique dos indivíduos identificados com o complexo do bode expiatório (2022, p. 23).
Primeiro pela “perda de conexão consciente com a matriz sagrada de onde provém o fluxo curativo e renovador”; segundo, pela “mudança radical na concepção de Azazel”. Ele, que era um deus-bode dos pastores pré-hebraicos, mesmo com o Deus único de Israel, não se tornou o opositor do Senhor, mas um estágio na repressão dessa divindade anterior, ligada também ao feminino e às religiões naturais.
Os últimos patriarcas consideravam que ele levava as mulheres ao pecado (sensualidade) e os homens à guerra, relacionando-se, portanto, aos instintos eróticos e agressivos. Ao enviar os pecados a Azazel, remetia-se a libido à sua fonte transpessoal, reconhecendo que nenhum portador humano era capaz de carregá-los.
Progressivamente, Azazel passou a carregar o exagero defensivo da reação do Senhor contra o mundo do feminino e dos deuses pré-hebraicos. Foi transformado de deus em demônio, com o qual o “bom Deus” tem uma ruptura profunda. Tornou-se semelhante a Satã, o acusador do homem, que representa a Justiça divina dissociada de Sua Piedade (cf. Ibid., p. 26).
Azazel passou a ocupar, psicologicamente, o lugar do juiz arrogantemente puro, condenador e hipercrítico. Aquele que mantém o homem preso a um padrão de comportamento impossível de ser alcançado, pois as forças instintivas irrompem em sua frágil disciplina. É um padrão que não leva em conta os fatos da vida e o envolvimento do homem pela natureza (Ibid., p. 26).
Nos tempos atuais, perdeu-se a conexão com o transpessoal
Nos tempos atuais, perdeu-se a conexão com o transpessoal. Joga-se sobre uma pessoa o peso de um coletivo rejeitado, e ela o assume, sentindo-se forte para carregá-lo, apesar de não o ser; a libido aqui “foi simplesmente confinada, dispersada ou escondida, em vez de sacralizada” (Ibid., p. 28).
Os julgamentos morais da mãe ou do pai, que apontam para “como as coisas deveriam ser e não como elas são” (Ibid., p. 26), dão origem à rejeição do indivíduo na família, que constela o acusador, Azazel. “Os pais, ou outros, que escolhem um bode expiatório nessa forma moderna e inconsciente, são também, obviamente, vítimas do mesmo complexo” (Ibid., p. 43), assim como o rei do conto.
Os indivíduos tomados pelo complexo do bode expiatório, inconscientemente, vêm em socorro dessa fragilidade dos pais e da família, da incapacidade de carregar a própria sombra, e carregam toda ela. Identificam-se tanto com a vítima como com o acusador, desqualificando atitudes do outro que não correspondem ao ideal de moral, mas sobretudo aceitando a rejeição e rejeitando-se a si mesmos como uma punição à própria existência.
A consciência luta por corresponder aos imperativos coletivos e “ignora suas necessidades pessoais – exceto as necessidades de ser correto, de vencer ou de ser bem-sucedido, a fim de se encaixar; a fim de pertencer” (PERERA, 2022, p. 27). Carecem, assim, de uma identidade, vivendo mais nos papéis de adaptação assumidos, chamados por Jung de personas.
Perderam a si mesmos.
O próprio ego está enfraquecido, haja vista que sequer foi bem estruturado. Ego este que normalmente carrega a sombra familiar, coletiva e projetada, desde a sua formação na infância. Passam da vítima ao (auto)acusador o tempo todo; o tudo que assumem torna-se nada por ser abstrato, pois na verdade não vivem a responsabilidade pessoal – a sua parte. Parecem crianças, presos no estado infantil da participação mística, identificados com o inconsciente dos pais e sem conseguir distinguir o que é seu e o que é do outro (Cf. JUNG, 2020a, §83).
Identifica-se com o que é tachado de “ruim”, “errado”, “feio”, uma vez que foi estigmatizado negativamente em seu próprio lar (mesmo nos casos em que a não adequação às normas vigentes tenha ocorrido por razões positivas).
O fardo que essas pessoas carregam inclui uma ansiedade profunda, existencial, pela falta de conexão com o todo maior e sentimento de culpa.
Jung define este fardo como como a emoção experimentada quando nos desviamos da totalidade e nos afastamos do Self (centro regulador da psique, agravado pelo fato de que nos sentimos inaceitáveis para nós mesmos.
O conto “A princesa determinada” não fala como viviam no deserto os expulsos do reino, apenas que ele se transformou com a chegada dela, que encontrou positividade ali. Será que eles não viam isso? Segundo Perera, os identificados com o bode expiatório vivem de tal forma presos ao seu exílio e ansiando retornar ao mesmo coletivo do qual foram banidos, que não veem valor nos elementos rejeitados (p. 133).
Seu exílio é marcado por um medo profundo de qualquer vínculo. O que é paradoxal com a intensa sede que experimentam “de ligação com o Outro, tanto em nível pessoal como em nível transpessoal, e mesmo por um apetite palpável pelo divino” (p. 36). Precisam de ajuda para se reconectar com a fonte, já que a conexão foi perdida há tantas gerações, e para viver relacionamentos autênticos e mútuos, nos quais recebam e se entreguem de verdade. Que caminho a princesa fez para conseguir isso?
Redenção pelo feminino
No conto, a princesa foi presa pelo pai (o aspecto acusador do complexo do bode expiatório) porque se recusou a concordar que a vontade dele determinasse o seu destino. Existe algo em todo indivíduo que não se rende, e esse algo costuma estar ligado ao desejo, à sensibilidade, à sensualidade, enfim, ao princípio feminino. Provavelmente está preso por muito tempo, justamente porque não se rende à adaptação ao coletivo ao qual o indivíduo tomado pelo complexo se força. E, por isso mesmo, é visto por ele como rebelde e inferior, como aquilo cuja presença o enfraquece.
Contudo, é o que manteve a integridade para que não se esfacelasse totalmente, e cuja pressão pode ajudá-lo a dar um basta à sua situação, o início da transformação. A partir daí vem uma descida ao desconhecido mundo interior, representado pelo deserto, encarando a raiva, a solidão, o medo, o que supõe um sofrimento que pode se estender, mas que agora é o próprio.
A raiva aqui pode ser uma manifestação do Self, que defende a integridade do ego.
Neste deserto, a pessoa vai descobrir e encarar a si mesma, o que tem de limitações e riquezas, e com essas forças começar a construir a própria vida e a ter voz para expressar a individualidade (Cf. Ibid., p. 126). No deserto, primeiro a princesa se viu perdida numa terra inóspita, mas depois começou a encontrar ali o que precisava para viver, e até abrigo, calor e delícias.
Ela assumiu suas necessidades e desejos, descobrindo que a satisfação não dependia do pai. Corresponde ao que Perera ensina de o ego, no processo de cura, dever “tornar-se ativo e responsável, até mesmo heroico, na busca de suprir suas carências” (2022, p. 105). Agindo com liberdade, iniciativa e responsabilidade é que pode se libertar do domínio acusador de Azazel, que se dá não imediatamente quando sai de casa, mas quando descobre um jeito de viver independente das ordens do pai.
Não à toa o título do conto traz a principal característica da princesa, fundamental para essa libertação: determinada.
Se alguém aguardava pelo resgate, ela não. Na prisão, manteve as próprias convicções e, assim, a integridade. No deserto, encontrou uma forma de viver, usou de modo criativo os recursos que tinha, valorizando-os (a gruta que servia de moradia, as nozes e frutos, o calor do Sol) e com eles ordenando a própria vida. E, após conhecer e se unir ao parceiro e viver um tempo em seu reino (a importância da integração profunda e vivenciada dos princípios feminino e masculino em si), construíram juntos um reino. Mas não sozinhos. Todo esse movimento que ela, como exilada, fez, convocou os demais. Ajudando-os a se abrirem e se conectarem, com humor e alegria, com leveza, que se contrapõe ao pesado fardo que carregavam. Quando os canais criativos se abrem é sinal de que os grilhões do complexo foram afrouxados.
Encontrar esses canais criativos é necessário àqueles que estão identificados com energias demoníacas, como os indivíduos portadores do estigma do bode expiatório. A forma criativa proporciona um receptáculo para acolher e dominar essas energias. (Ibid., p. 41)
O que era aquela comunidade, construída no deserto, senão uma totalidade em que cada elemento tem seu lugar e pode se harmonizar, de forma completa e útil, a uma vida multiforme, bem como pode escolher por quem ser regido? Esse contexto supõe uma abertura ao Self e suas mensagens. O que é essencial para o processo transformador do indivíduo que está tomado pelo complexo do bode expiatório.
O próprio rei, o pai, tão obstinado, precisou chegar a esse lugar.
Este rei, inclusive, só pode se aproximar do trono com novas atitudes: curvar a cabeça, achegar-se lentamente, erguer os olhos aos soberanos que não eram ele, reconhecer o que lhe ultrapassava e finalmente escutar palavras murmuradas pelo feminino – justo o que considerava rebelde e seu ponto fraco.
A transformação de alguém tomado pelo complexo do bode expiatório, como toda mudança profunda, não é fácil nem rápida. Todavia, esta transformação corresponde ao anseio de harmonizar e libertar a vida, ao qual o conto dá esperança. Sendo que, certamente, o acompanhamento psicoterapêutico contribui grandemente com esse processo.
Tania Pulier — Analista em formação/IJEP
Lilian Wurzba — Analista Didata/IJEP
Referências:
JUNG, Carl Gustav. A natureza da psique. Vol. 8/2. 10.ed. Petrópolis: Vozes, 2018.
___. O desenvolvimento da personalidade. Vol. 17. 14.ed. Petrópolis: Vozes, 2020a.
___. Psicologia do inconsciente. Vol. 7/1. 24.ed. Petrópolis: Vozes, 2020b.
___. Psicologia e religião. Vol. 11/1. 11.ed. Petrópolis: Vozes, 2020c.
PERERA, Sylvia Brinton. O complexo do bode expiatório: um estudo sobre a mitologia da sombra e da culpa. 2.ed. São Paulo: Cultrix, 2022. Edição do Kindle.
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