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Prateleiras de super-mercados abarrotadas. Vastas áreas em reluzentes shopping centers lançando apelos ao consumo… Consumo e mais consumo, sempre acenado como viabilizado por sorridentes anunciantes de cartões de crédito. Autonomia. O mundo da fartura sem compromisso com a origem dos produtos, com a remuneração de quem os fabricou, transportou, de quem os está vendendo. Nem com os resíduos produzidos no processo. Engajamento total na compra de uma imagem. A construção de uma persona de aparência feliz e integrada ao mundo hiperdigital em que vivemos. E tudo tão fácil, tão aparentemente ao alcance das mãos, de um gesto. De um clique. As dívidas e dúvidas… Ficam para amanhã. Vamos a qualquer lugar com um piscar de olhos, com um telefonema, com a consulta a um site na internet.

“Encanta-me essa ideia de que apenas desistindo de sermos o centro do mundo e de nossa própria vida somos capazes de experimentar a verdadeira doçura de Deus e da vida”. (Pondé, 2018)
Para além da compreensão do mito de Sísifo como questão da repetição infinita que leva e evidencia o trabalho sem sentido e discute a questão do sentido da vida ou da falta dele, este artigo quer convidar o leitor a prestar atenção em uma outra possibilidade. Como já se sabe, o mito nunca se esgota e de forma alguma possui apenas um sentido, mas como diamante possui várias facetas e todos elas constituem a intensidade e o valor do seu brilho.

​​​​​​​Medicalização poder ser vista como uma atitude, maneira de ver, viver e se conduzir em que o que não corresponde ao padrão esperado (normal, saudável etc.) é julgado como uma doença no indivíduo, que precisa ser evitado, prevenido, tratado e curado: problema médico. Disto decorre o termo “medicalização” que não ser reduz, exclusivamente, a prescrição de medicações literalmente falando, mas do olhar que transforma em doença médica tudo que é vivido como erado, ruim, moralmente reprovável etc. Por exemplo: se toda dor de cabeça for vista como uma cefaleia ela deverá ser investigada, cuidada, tratada dentro de protocolos médicos. Ela será submetida a linguagem e a todos os procedimentos médicos. 

“(…) é algo de grande e misterioso o que designamos por ‘personalidade(…)”   (JUNG, 2013a, §312)

Este artigo apresenta uma reflexão inspirada no texto traduzido como “Da formação da personalidade” publicado no Volume VII da Obras completas de C.G. Jung. (JUNG, 2013a, p.178)

A narrativa, de forma interessante, não começa definindo ou conceituando o que se quer dizer com “personalidade”, mas enfatizando sua importância através de um verso de Goethe. Segue afirmando uma “opinião” de quão forte são os desejos de desenvolver a totalidade do ser humano – “à qual se dá o nome de personalidade” (JUNG, 2013a, p.178) itálico do autor. “Se dá o nome” não é a mesma coisa do que dizer que é! Ou seja, pode-se entender que Jung aproxima-se do tema falando dos discursos sobre este e não afirmando positivamente sua literalidade.

Poderia o Transtorno Afetivo Bipolar ser reimaginado como a dominação unilateral de um conjunto de sistema de valores que, em cisão e reação de oposição e embate, produzem o que surge como sintomas?

Através da narrativa Junguiana a noção de doença mental (psicopatologia) pode ser revista como o momento em que se configura a dominação unilateral de um padrão arquetípico que, em complexo, torna-se governo interior tirânico e com grande intensidade se coloca em oposição e embate contra manifestações diversas. Os complexos dominantes viveriam os elementos em cisão como inimigos a serem combatidos, o que constelaria mecanismos automáticos de defesa e fariam com que estas manifestações surgissem como sintomas.