Resumo: O fato de procurar por um terapeuta indica que uma pessoa está disposta a percorrer um caminho de autoconhecimento no qual, respeitando e aceitando o que é e/ou o que não é, interage com um (a) profissional para imaginar um pouco mais de sabor e sentido para sua vida. No diálogo, o cliente busca ir além dos discursos que já ouve cotidianamente nos ambientes familiares, religiosos e profissionais. Num mundo cheio de discursos a respeito de como se deve viver, o ritual semanal da terapia é um exercício de aprendizado do diálogo. O texto revisa a noção de diálogo a partir da observação empírica da análise junguiana e dos trabalhos de Carl Gustav Jung, Simone Magaldi e Vilém Flusser.
O fato de procurar por um terapeuta indica que uma pessoa está disposta a percorrer um caminho de autoconhecimento no qual, respeitando e aceitando o que é e/ou o que não é, interage com um (a) profissional para imaginar um pouco mais de sabor e sentido para sua vida.
O diálogo é uma dinâmica marcante do processo terapêutico pelo fato que é muito comum que um cliente busque ir além dos discursos que já ouve cotidianamente nos ambientes familiares, religiosos e profissionais. Num mundo cheio de discursos a respeito de como se deve viver, o ritual semanal da terapia é um exercício de aprendizado do diálogo que pode desabrochar numa relação criativa entre as duas pessoas em ação (cliente e terapeuta) e aquilo que se desenvolve entre elas, isto é, o próprio processo de análise.
A tensão entre o discurso repetitivo sobre como se deve viver e o diálogo criativo onde a vida pode ser reinventada marca o processo terapêutico.
Essa potencialidade dialógica criativa talvez seja uma das razões pelas quais se prefere o termo cliente por se entender que se trata de uma pessoa ativa que busca a análise com determinado propósito de melhoria em sua vida, que investe tempo e dinheiro na relação com o terapeuta, e não apenas de um indefeso paciente que não entende nada a respeito de sua enfermidade e aceita pacientemente as orientações de um médico com plenos poderes curativos.
A tensão entre discurso e diálogo está presente em muitos estudos a respeito da relação entre o eu e o outro, entre um eu e um tu.
A questão se torna fundamental quando na cultura contemporânea é muito comum ouvirmos que devemos viver de forma independente dos outros, que devemos nos vivar por conta, que não precisamos gastar tempo com os outros ou apenas estarmos perto de outros muito parecidos conosco mesmos, como ocorre em grupos de WhatsApp que repetem para pessoas conhecidas a mesma forma de olhar para os principais fatos de cada dia. Por outro lado, em outros grupos muito se fala a respeito da importância dos outros em nossas vidas, mas não se tem muito a consciência de que a beleza do encontro com o outro está justamente no fato que nesta relação podemos muitas vezes ser levados a modificar nosso jeito de ver o mundo.
Na linguagem junguiana nós estamos misturados com os outros já no campo do chamado inconsciente coletivo. Como afirma a Profa. Simone Magaldi no texto “Inconsciente Coletivo e Inconsciente Pessoal”, publicado em “Fundamentos da Psicologia Analítica”:
Nós nos tornamos humanos em função dos arquétipos, nos humanizamos perante os arquétipos, isto é, a experiência arquetípica é que nos faz humanos. Essa camada do inconsciente onde somos todos iguais é que nos faz partilhar das experiências de todos os povos.
(Magaldi, 2025, p. 59)
Neste sentido, segundo a autora, que a cultura, no campo do inconsciente coletivo, trata “a imagem, a lembrança e, na linguagem junguiana, o arquétipo da mãe, do pai, herói, rei, príncipe, servidor, político…”.
A autora remete a C.G. Jung para mostrar o quanto não somos mais entidades separadas dos outros, mas somos um:
A camada mais profunda que conseguimos atingir na mente do inconsciente é aquela em que o homem “perde” a sua individualidade particular, mas onde sua mente se alarga, mergulhando na mente da humanidade – não a consciência, mas o inconsciente onde somos todos iguais. Como o corpo tem sua conformação anatômica com dois olhos, duas orelhas, um nariz e assim por diante, e apenas ligeiras diferenças individuais o mesmo se dá com a mente em conformação básica. A esse nível coletivo não somos mais entidades separadas, somos um. Podemos compreender isso quando estudamos a psicologia dos povos primitivos.
(OC 18/1, § 87)
O diálogo e a busca de sentido
A relação do cliente com o terapeuta também é marcada pelo princípio biológico do desenvolvimento. Em termos biológicos, cada parte do organismo se desenvolve dia após dia desde o nascimento. Assim, na perspectiva junguiana, “a vida é teleológica par excellence”. Ela é “a própria persecução de um determinado fim, e o organismo nada mais é do que um sistema de objetivos prefixados que se procura alcançar” (OC 8/2, § 798).
Nas palavras das Profa. Simone Magaldi no texto “Sincronicidade”, também publicado em “Fundamentos da Psicologia Analítica”:
Ou seja, biologicamente, temos um caminho de desenvolvimento, que significa exatamente nos “des-envolver”. A negativa “des” significa nos livrarmos das amarras dos nossos envolvimentos para rumar em direção ao nosso próprio propósito; psicologicamente também temos um caminho. Lá na frente, um si-mesmo que pede por completude, que pede por ser único, que nos chama. É o sentido teleológico da vida humana.
(Magaldi, 2025, p.175)
Para Jung, acompanhando a reflexão da Profa. Simone, “assim como para os órficos pitagóricos, a psique carrega todo o conhecimento. Precisamos ouvir nosso daimon. Quem conhece um pouquinho de Sócrates sabe do que estou falando. Sócrates ouvia seu daimon, ele seguia esse daimon, esse gênio que falava com ele, indicando o seu destino. Assim é com todos nós, quando seguimos o nosso destino rumo à plenitude” (Magaldi, 2025, p. 176).
Neste caminho rumo a uma vida com algum sentido, que não sirva apenas para si mesmo, mas também para os outros de seu entorno, o cliente em relação com o terapeuta se embrenha no chamado processo de individuação no qual percebe uma meta para viver, o seu próprio Mito do Significado, a sua possibilidade de corresponder ao seu destino e ser capaz de viver. Assim, em outras palavras, “um indivíduo que não corresponde ao seu destino é quase incapaz de viver, ou seja, ele não apenas é infeliz” (Magaldi, 2025, p. 126).
O ambiente cultural no qual vivemos nem sempre nos ajuda a ter nosso perfil, nossa singularidade.
Ao contrário, quer que nos adequemos às coisas, às tradições e às representações mais comuns e aceitas pela maioria das pessoas. Neste contexto, apresentando o processo de individuação que o cliente pode desenvolver na interação com seu terapeuta, a Profa. Simone Magaldi, no livro “Ordem e Caos. Uma visão transdisciplinar”, enfatiza:
Esse é o nosso conflito cotidiano; o ser o si-mesmo e assim trilhar o caminho que é o processo de Individuação, ou ser as representações, as personas, os papéis que a sociedade exige em cada situação e que acabamos por representar em cada uma delas, de acordo com o senso comum. O caos, portanto, não só se estabelece por invasões do nosso interior mais profundo, mas, principalmente, por cobranças do exterior que, via de regra, não coincidem com as expectativas do Self.
(Magaldi, 2021, p.57)
Neste processo a relação entre o cliente e o terapeuta não será “morna” como ocorre em muitas das interações humanas. É muito provável que tal qual numa experiência de mistura de elementos em um laboratório, como faziam os alquimistas, a relação indique alguma forma de virada na vida do cliente, uma mudança de perspectiva para a vida, uma transformação, uma metanóia. Diante desta possibilidade, alguns se renderão ao universo sagrado do Misterium tremendum e fascinorum e mudarão suas vidas. “Outros podem adoecer e continuar infelizes e sem sentido para vida” (Magaldi, 2021, p. 81)
Dimensões filosóficas do diálogo
Um dos pensadores contemporâneos que trabalhou a temática do diálogo foi o filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser (1920-1991) que, após invasão nazista de sua cidade, Praga, aos vinte anos veio para o Brasil com a família de sua namorada Edith Barth. Aqui viveu trinta e dois anos (1940 -1972) e desenvolveu toda sua formação como pai de família, estudioso de perfil autodidata, depois professor universitário e debatedor no cenário cultural paulistano.
Em sua história de vida, registrada no livro Bodenlos: uma autobiografia filosófica (2007), encontramos a lista dos onze interlocutores com os quais manteve diálogos no Brasil. No ambiente desse fecundo diálogo, sua vida parece praticamente um enfrentamento da falta de fundamento expressa no próprio título da obra – Bodenlos, em alemão, quer dizer “sem chão” ou “sem-terra”.
No livro, relata as interlocuções com sete brasileiros e quatro imigrantes.
Os brasileiros são Milton Vargas, Vicente Ferreira da Silva, João Guimarães Rosa, Haroldo de Campos, Dora Ferreira da Silva, José Bueno e Miguel Reale. Os quatro imigrantes são o tcheco Alex Bloch, o artista plástico romeno Samson Flexor, o judeu ortodoxo inglês Romy Fink e a artista plástica suíça Mira Schendel. A obra indica que a construção da produção intelectual de Flusser aconteceu na conversação, na interação com outras pessoas que também buscavam justificativas para continuar a viver e manter um engajamento na contemporaneidade.
O diálogo com os interlocutores brasileiros permitiu uma análise fenomenológica de como a “gente” compreende o mundo. A simples palavra “gente”, por exemplo, adquire em seus textos um significado especial, observado por Gustavo Bernardo: Com a “gente” no lugar do “eu” e do “nós”, o filósofo diz “eu” e diz, ao mesmo tempo, “nós”, ou melhor, diz “toda a gente”. Assim ele questiona de dentro, na forma, o “eu solar”, isto é, o “eu” centro do sistema e do universo (Bernardo apud Flusser, 2007, p. 15).
Entendemos que o contexto da conversação, em especial com os interlocutores citados no livro, permitiu um progressivo engajamento reflexivo no universo dos códigos usados tanto na comunicação presencial como na crescente comunicação mediada por equipamentos.
Provocar e deixar-se provocar pela presença dos outros, com suas vivências e posicionamentos diante dos fatos e acontecimentos, parece ter sido a melhor forma de construção de suas concepções. Assim, podemos dizer que praticou um método fenomenológico na medida em que cultivou a perspectiva da volta às coisas, isto é, da atenção aos fenômenos, ao que aparece à consciência.
Aqui podemos citar uma observação de Gustavo Bernardo sobre as conversações de Flusser com a obra de Edmund Husserl (1859-1938):
Atormentava a Husserl a questão central de todo idealismo: o que vemos, existe? E: o que existe, existe mesmo? Na linguagem do filósofo alemão [Husserl], toda percepção da coisa é indissociável da tese do mundo, assim como, para Spinoza, toda representação é juízo situado na ordem das ideias. Vemos não isto, mas isto tudo relacionado àquilo e àquilo outro, vemos as relações.
(Bernardo, 2002, p. 62)
Pelo fato de Flusser se referir às relações entre pessoas e/ou coisas, percebemos que sua metodologia é marcada por perguntas, pela observação atenta dos fenômenos e, especialmente, pela coragem de duvidar, condição básica para o diálogo.
Relembrando que é pelo espanto que os homens começam a filosofar, como dizia Aristóteles, com o lema “vamos às coisas” Husserl propôs como método da filosofia a epoché ou redução fenomenológica, termos do vocabulário filosófico para suspensão dos pré-julgamentos em relação aos fenômenos. Um leitor de Flusser se sente em ambiente familiar com essa perspectiva de olhar para o mundo, com essa forma de olhar para os fenômenos.
Tal perspectiva fenomenológica na maneira de olhar empiricamente para as pessoas e para as coisas que são sempre representadas psiquicamente nos aproxima da postura investigativa e dialógica de Carl Gustav Jung.
O exame das noções de discurso e diálogo em Vilém Flusser é marcado pelos princípios da Teoria da Informação, bastante difundida no período no qual escreveu, meados dos anos 1970. Assim, o discurso é “o processo pelo qual informações existentes são transmitidas por emissores, em posse de tais informações, para receptores que devem ser informados”. Por outro lado, o diálogo “é processo pelo qual vários detentores de informações parciais e duvidosas (ou, em todo o caso, duvidadas) trocam tais informações entre si a fim de alcançar síntese que possa ser considerada informação nova” (2007a, p. 89-90).
O próprio autor, por outro lado, alerta que sua reflexão sobre discurso e diálogo segue um caminho diferente da “teoria da informação” ou da “informática” e que a teoria da comunicação deverá ser “entendida como uma disciplina interpretativa” e “a comunicação humana será abordada como um fenômeno significativo a ser interpretado” (2007b, p. 92). Praticamente, em condições dialógicas, o que é visto de maneira privada acaba sendo compartilhado, isto é, “o que é visto subjetivamente tem de ser intersubjetivado” (2007b, p. 184).
Nesse sentido, o diálogo pode ser concebido como uma situação na qual dois ou mais sistemas trocam informações, situação que pressupõe quatro condições prévias, conforme descritas no texto “Política e língua”, publicado no jornal “O Estado de S.Paulo”, em 1968, e republicado na coletânea Ficções filosóficas, em 1998:
(a) os sistemas não podem ser idênticos ou muito semelhantes; (b) os sistemas não podem ser inteiramente ou quase inteiramente diferentes; (c) um dos sistemas não pode englobar ou quase englobar o outro; (d) os sistemas devem estar abertos para o outro.
(Flusser, 1998, p. 100)
O próprio autor apresenta exemplos das quatro condições.
Como exemplo da primeira condição, na qual muitas vezes qualquer sentença ou afirmação é redundante, Flusser cita o caso de pessoas muito próximas ou casais quando não têm quase nada de novo a dizer um para o outro. Para ilustrar a segunda condição, fala sobre a incomunicabilidade entre um esquimó e um balula da África Central. As relações entre gerações são exemplos da terceira situação. Para mostrar a última condição, lembra o Muro de Berlim, contexto no qual um dos sistemas interrompeu o canal comunicante com o receio de que informações alterassem o repertório (Menezes; Künsch, 2017).
Dentre os textos do livro “O mundo codificado”, de Vilém Flusser, destacamos “O que é comunicação? ”, no qual mostra a diferença entre comunicação dialógica e comunicação discursiva:
Para produzir informação, os homens trocam diferentes informações disponíveis na esperança de sintetizar uma nova informação. Essa é a forma de comunicação dialógica. Para preservar, manter a informação, os homens compartilham informações existentes na esperança de que elas, assim compartilhadas, possam resistir melhor ao efeito entrópico da natureza. Essa é a forma de comunicação discursiva.
(Flusser 2007b: 97)
O deixar-se alterar ou captar a alteração provocada pelo outro é uma postura que merece ser melhor observada. É possível que a própria condição de “sem chão”, que frisamos ser a tradução portuguesa do título do livro “Bodenlos”, leve a esta postura, encaminhe para uma consciência de se estar em contínuo processo de engajamento nos discursos e diálogos.
O deixar-se alterar na relação terapêutica
Aquilo que enche o coração transborda pela boca. Este apurado provérbio alemão, que expressa muitos relatos do início de um processo terapêutico, é citado por Jung nas primeiras páginas de uma de suas obras (OC 16/2, §262) a respeito da relação entre o terapeuta e o cliente, marcada pelo que investiga sob o termo “transferência”.
Trata-se de uma relação considerada dialogicamente como uma experiência crucial que articula a consciência de um com a consciência do outro, bem como o inconsciente de um com o inconsciente do outro. Na medida em que uma pessoa verbaliza sua história singular ocorre uma ligação intensa com o terapeuta; este fica sensibilizado pelo poder das imagens gravadas na memória do cliente e compartilhadas com a sua memória de profissional da escuta. Ambos progressivamente “agem com o coração”, ação presente na palavra “coragem” (ação do coração) que faz com que os dois caminhem como valorosos parceiros em uma relação humana na qual atuam, de certa forma, em pé de igualdade, no processo terapêutico.
A palavra “processo” está ligada a uma imagem muito cara ao Prof. Waldemar Magaldi. Trata-se da metáfora de um quebrador de pedras que com seu martelo dedica muitos dias para separar calmamente uma veia de mármore de um grande rochedo. Processo (do latim procedere) é uma palavra que indica a ação de avançar, ir para frente (pro+cedere), um conjunto contínuo de ações, como as marteladas, com determinado objetivo. No caso da terapia, o profissional, com diligência e perseverança, vai partindo a pedra, isto é, vai dando marteladas com perguntas que geram um conjunto de respostas, ainda que contraditórias, até que surjam, especialmente na ampliação da narrativa dos sonhos dos clientes, as questões a serem aprofundadas.
Uma prática que lembra o método socrático de perguntas e respostas que levavam o interlocutor a encontrar dentro de si novos conhecimentos, método também conhecido como “maiêutica”, palavra grega para a profissão da mãe de Sócrates que era uma parteira, exercia a “maieutike” ou a “arte de partejar”.
Quando apresenta sua tese a respeito de seus problemas o cliente pode ser confrontado como uma antítese, com uma ou várias ampliações a respeito da narrativa apresentada, até que aos poucos, no exercício do diálogo, termo talvez mais profundo que dialética, surja uma nova leitura e uma nova posição diante da própria história de vida.
Um diálogo que acolha a narrativa da história privada com um olhar retrospectivo que indague a respeito de por quealgo aconteceu e, com um olhar prospectivo, pergunte a respeito de para que um fato aconteceu, situação que demanda a chamada finalidade ou propósito do que fazer com o que aconteceu, como já indicamos com o termo “teleologia” no início do texto. Contexto que vai além da pergunta “quem eu sou ou o que eu sou? ”, presente no crachá que uma pessoa usa no ambiente de trabalho, para se chegar a pergunta “para que eu vivo? ”, questão que revelará aos poucos a finalidade de uma vida.
Trata-se de um clima dialógico, da relação entre dois sistemas psíquicos, no qual ambos tecem juntos algo de novo, ação presente na palavra “confiar” ou fiar junto, na qual o terapeuta, com uma presença muitas vezes silenciosa, assume uma postura amorosa.
A atitude de quem ama não com o objetivo de fazer o outro ser do jeito que ele (terapeuta) quer, mas de quem ama desejando que o outro (o cliente) se realize do jeito dele. Afinal, quem ama deseja que o outro se torne ele mesmo, que seja feliz do seu jeito e não do jeito que imaginamos.
No processo de transformação do cliente e do terapeuta ocorre, segundo Jung, algo similar a um período de incubação:
Na vida humana existem momentos de se virar a página. Aparecem tendências e interesses até então não cultivados; ou se anuncia uma mudança da personalidade (chamada mudança de caráter). Durante o período de incubação de tais mudanças é frequente verificar-se uma perda de energia do consciente: a nova evolução retirou do consciente a energia de que necessitava. É no período que precede as psicoses que essa baixa de energia aparece nitidamente, ou, então, na calma e no vazio que antecedem as novas criações.
(OC 16/2, § 373)
Lembrando, com Jung, que “ninguém se vincula com o outro, se antes não se vincular consigo mesmo” (OC 16/2, § 445), alinhamos algumas dinâmicas que podem estar presentes no diálogo, isto é, no trabalho persistente e lento que um cliente decide fazer consigo mesmo para se desenvolver (des-envolver) na interação com um terapeuta.
Considerando, como enfatiza o filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser, acima citado, que a contestação é a mola propulsora de todo pensar, o texto que o (a) leitor (a) tem em mãos é um texto a ser contestado.
Dr. José Eugenio de O. Menezes – Membro Analista em formação do IJEP
Dra. E. Simone Magaldi – Membro Analista Didata do IJEP
Referências:
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