Em algum tempo de nossa jornada, é quase inevitável o surgimento de pensamentos ou questionamentos sobre o momento em que seremos surpreendidos por grandes mudanças em nossas vidas, mudanças estas que nos conduzirão positivamente a novos patamares, novas frentes e fases.
Estas expectativas são diferentes pra cada pessoa, pois encontram-se apoiadas nas experiências passadas, crenças e valores de cada um. Porém, saliento um modo peculiar na forma de pensar – que não me atreveria a chamar de mágica -, uma forma de pensamento muitas vezes relacionado à busca por controle sobre os eventos, mas no mínimo de uma projeção ingênua sobre a forma de pensar e viver a vida, caracterizada, por vezes, por expectativas irreais, simplistas e também reducionistas.
As habilidades latentes que nos acompanham desde o nascimento, e que podem ser desenvolvidas ao longo do tempo, são influenciadas direta ou indiretamente pelo ambiente, educação, estímulos recebidos, oportunidades e vivências pessoais.
É importante lembrar que a vida nem sempre segue o curso que esperamos e que desafios surgem no meio do caminho. Exigindo flexibilidade e resiliência no enfrentamento das adversidades.
Jung acreditava na importância do autoconhecimento.
Neste ponto, o fio que conduz à elevação de níveis mais sutis de desenvolvimento, envolve o equilíbrio entre os aspectos do inconsciente e da consciência, na busca por integração e individuação como caminhos para a realização e o desenvolvimento pessoal, a fim de se alcançar um estado de totalidade.
A partir do autoconhecimento, uma consciência livre de um mundo mesquinho e aberta à participação de um mundo mais amplo de interesses vai emergindo, e esta consciência ampliada já não é aquela pertencente ao novelo egoísta das ambições, temores e desejos de caráter pessoal, compensados inconscientemente por contratendências ( Jung, 2014)
Seguimos na ilusão de já nos conhecer e não entendemos a importância da cosmovisão, que se refere ao modo como o indivíduo enxerga e interpreta a realidade ao seu redor.
A reflexão sobre si mesmo nos leva a entender que esta cosmovisão não é para o mundo e sim para nós próprios. E que ao formarmos uma imagem global do mundo seremos capazes de ver a nós mesmos, que somos cópias fiéis deste mundo. Não existe um momento exato em que a vida começa a dar certo, mas sim um processo contínuo de evolução.
Não é fácil manter foco e disciplina; a motivação muitas vezes faz falta e com isso, um planejamento que exige clareza, direcionamento e objetivos concretos pode gerar falsas expectativas.
Seria correto então afirmar que o sucesso de uma vida bem vivida, em todos os seus aspectos, não depende somente das virtudes do indivíduo. tais como responsabilidade, caráter e desejo de desenvolvimento e, ainda, de estrutura familiar com ambiente favorável e oportunidades do meio externo?
Tudo nos leva a crer que sim, pois estas características, isoladas da integração das diferentes partes da personalidade e aceitação de seus aspectos tanto positivos quanto negativos pode revelar uma vida ” segura”, ” funcional” e aparentemente “aprazível “, porém à margem do propósito e sem conexão com algo maior que a própria individualidade.
Quando olhamos para nossa realidade com plena consciência, somos capazes de enxergar oportunidades de aprendizado e transformação em tudo que nos acontece. Sejam estas toda sorte de bênçãos ou mesmo os indesejados reveses. Através das funções da consciência, o estudo determinante de Jung no contexto do funcionamento da psique enfatiza a intuição- descrita muitas vezes como uma compreensão profunda e instantânea sobre algo sem a necessidade da razão, desempenhando um papel importante em nos avisar sobre algo novo que está prestes a entrar em nossa consciência.
Quando estamos abertos e receptivos aumentamos a chance de perceber sinais sutis de que algo novo se aproxima.
Buscando lugar em nossa consciência, nos preparando, ou até mesmo encorajando na exploração daquilo que esta se apresentando. Porém, é comum o estranhamento frente ao novo. Muito mais fácil seria se pudéssemos nos entregar a sensação interna e, imediatamente estarmos preparados para grandes mudanças e decisões.
Muitos, frente à angústia, podem viver esse cenário interno com paralisia e retrocesso, ou até mesmo uma tentativa de adaptação ao que se apresenta externamente, sem a paciência, que pode trazer o tempo necessário para descobrir o que devemos levar adiante ou deixar no caminho, com leveza e acima de tudo com muita responsabilidade.
Falemos então da famosa “zona de conforto “
Esse estado mental, familiar onde o risco de estresse é mínimo, pois as situações são previsíveis, permitindo um estado constante de segurança e confiança. Sair dessa zona implica exposição e desafios, que podem ser intimidantes, mas também podem levar ao desenvolvimento e crescimento pessoal.
Dessa maneira, começamos a nos aproximar da ideia do que pode ser uma vida que se realiza e que, atrelada ao autoconhecimento, pode revelar a chave que abre todas as portas.
Segundo Jung, (2013 p. 86) o processo de tornar-se homem acontece através da tomada de consciência das pretensões egoísticas. Onde o indivíduo percebe os seus motivos e procura formar uma ideia mais completa possível de sua própria natureza.
Uma reflexão e confronto consigo mesmo que, embora muito desconfortável para aquele que se encontra predominantemente inconsciente, é uma operação necessária, que reúne partes dispersas do eu, levando a um aflorar espontâneo do si-mesmo que já existia.
A sombra é uma parte viva da personalidade e por isso quer comparecer de alguma forma, não sendo possível anula-la argumentando ou torná-la inofensiva através da racionalização.
Temos, porém que reconhecê-la afim de nos tornarmos verdadeiramente honestos e autênticos ( Jung, 2016). Assim, para Jung (2011) o homem se mostra tal como é, revelando o que antes estava oculto sob a máscara da adaptação convencional: a sombra, que ao se tornar consciente pode ser integrada ao eu, fazendo que se opere uma aproximação da totalidade, totalidade esta que não é a perfeição, mas o ser completo.
Agora entendemos, que a vida finalmente dá certo quando vivenciamos cada experiência sem queimar as etapas necessárias:
Não existe o “CERTO” pra vida dar certo.
Uma rotina simples de viver pode ser o ápice da felicidade, desde que o manancial das potencialidades tenha sido esgotado, para que se possa lidar de forma assertiva e funcional com os conflitos que vem e vão pela vida, nos levando a viver o melhor das coisas e aproveitando cada momento.
Os sinais externos não poderão jamais definir o valor humano de cada indivíduo, mas para que isso não nos paralise, é necessário enfrentar o medo de uma batalha competitiva, que por vezes, nós mesmos criamos dentro de nós.
Quando nos deparamos com a motivação que orienta nossas escolhas e ações, entendemos que estamos no caminho que escolhemos cautelosa e respeitosamente, e nesta estrada quem nos faz companhia é o PROPÓSITO, que revela nossa missão nessa viagem, e que finalmente podemos dizer que deu certo.
Patrícia Moura Vernalha – Membro Analista em formação pelo Ijep
Waldemar Magaldi – Analista Didata Ijep
Referências:
JUNG, C.G. O eu e o inconsciente. Vol. 7/2 – Editora Vozes, 2014
JUNG,C.G. O símbolo da transformação na missa. Vol. 11/3 – Editora Vozes, 2013 JUNG,C.G. OS arquétipos e o inconsciente coletivo. vol.9/1 – Editora Vozes, 2016
JUNG,C.G. Ab-reação- análise doa sonhos e transferência. Vol. 16/2 – Editora Vozes, 2011 JUNG, C.G. Psicologia e Religião. vol. 11/1 – Editora Vozes, 2013.