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Desejo – O que falta é o excesso – Afrodite e Eros – Identificação e gêneros

Partindo na perspectiva do excesso de energia psíquica em relação a toda possibilidade arquetípica, reflete-se sobre o desejo como descoberta de uma fratura entre os aspectos determinados na consciência e a singularidade vivida como imagem da alma. Relaciona-se o aparecimento de Eros (desejo) com o brilho de Afrodite despertado pela imagem da alma. Problematiza-se identificação como um alheamento de si mesmo e aponta-se a importância do zelar pela vida em sua sensibilidade, fragilidade e multiplicidade nos sujeitos e no mundo.

“A narrativa junguiana pode ser lida como fundada no excesso. Haveria sempre um excedente da energia psíquica que não conseguiria ser organizado pelos padrões arquetípicos.”

Cf. JUNG, OC, 8/1, §91

Por mais que houvesse infinitos leitos secos de rios, metáforas dos padrões arquetípicos, que buscariam organizar as experiências dando a estas sentidos e significados específicos, determinados; o inconsciente, a vida sempre excederia. A vida não teria como base os aspectos determinados apenas, mas na tensão entre o excedente que apareceria como indeterminado e toda determinação – paradoxo ou antinomia.

A vida não teria seu fundamento na falta, mas no excesso.

Ela seria prodiga, abundante, esbanjadora, criaria e destruiria sistematicamente, num eterno devir. Muitas vezes sofresse não porque algo está faltando, mas porque a vida excede, transborda e a consciência busca encaixar, determinar, colocar a vida no trilho ou no leito. A vida pode sentir-se apertada, pois se ela excede ela nunca caberá, nunca se encaixará, embora as caixas façam parte de vida é preciso lugar para o mistério, o enigma, o paradoxo, a contradição para que o excesso possa fluir.

Seguindo esta narrativa pode-se entender que os viventes teriam como uma de suas características fundamentais a capacidade de experimentar eventos (internos ou externos) refletidos, ressoados, ecoados. Esta habilidade não seria uma escolha da consciência, nem resultado da experiência empírica singular, mas efeito de um padrão arquetípico, histórico, transpessoal e universal em todos os viventes que pode ser entendido como o que foi descrito por Jung como o arquétipo da Anima Mundi (Alma do Mundo) se realizando. 

A Alma (do mundo) seria a própria “vida” em si, o fator capaz de converter as leis naturais como da entropia em estados “não naturais” (Cf. JUNG, OC 8/2 §375); ou seja, em experiências psíquicas, denominada de psiquificadas. Uma vez que as tendencias organizativas dos padrões arquetípicos precisariam das experiências empíricas para configurar as sequências associativas que constituiriam os complexos. Por isso todo complexo seria composto de um padrão arquetípico transpessoal, núcleo temático e uma sequência associativa singular.

A Alma do mundo seria como a força a partir da qual tudo que é vivo, incluindo a consciência, emergiria.

A alma não é de hoje! Sua idade conta muitos milhões de anos. A consciência individual é apenas a florada e a frutificação própria da estação, que se desenvolveu a partir do perene rizoma subterrâneo, … pois a trama das raízes é mãe universal. (JUNG, OC-5, Prefácio da 4ª edição) negritos meus

Pode-se entender o arquétipo da Anima Mundi como o padrão organizativo transpessoal que se aproxima do instinto de reflexão que levaria a um processo de excitação e transformaria um evento em um acontecimento ou um conteúdo psíquico. Não haveria para os viventes acesso a nada em si como naturalmente dado, seja o evento vivido como manifestação exterior ou interior, quer fosse chamado de instinto, corpo, arquétipo, natureza, Deus etc.

Aquilo que é vivido seria configurado a partir da tonalidade afetiva, organizado por infinitos padrões arquetípicos que produziriam um conjunto de associações que dariam sentido e significado para a experiência e transformaria os eventos em acontecimentos psiquificados envolvendo mecanismos de apercepção.

As percepções sensoriais nos dizem que algo existe fora de nós. Mas elas não nos dizem o que isto seja em si. Isto é tarefa não do processo de percepção, mas do processo de apercepção. (JUNG, OC8/2, §288) negritos meus

Sendo assim o fundamento do que é vivo estaria numa sensibilidade, numa fragilidade em ser tocado pelos eventos (internos ou externos) – outros. A relação com “outros” configuraria e desconfiguraria tudo o que é vivido na psique como tendo sentido e significado.

Todos os conhecimentos seriam incompletos pois seriam o resultado de uma espécie de ordem imposta as reações do sistema psíquico que fluem para a consciência. A consciência não seria um ser ou uma coisa, mas  atividade reflexiva que carregaria em si uma contradição – por um lado a consciência emerge da experiência vivida na atividade reflexiva que cria ilhas de consciência que configuram complexos (como o complexo do ego e outros) e por outro lado, a experiência singular ressoa em cada um de forma única, inefável, inominável, incomparável, não recorrente e nem mesmo passível de ser conhecida, pois não caberia na consciência em sua unilateralidade (Cf. JUNG, OC X/1, §493).

Além do arquétipo da Anima, Jung faz referência ao termo imagem da alma (imagem – termo oriundo a linguagem poética, que não seria um retrato psíquico do objeto exterior -representação) (Cf. JUNG, OC-6, §827). A Imagem da alma, diferente da Persona que é descrita como complexo que teria a função de adaptação externa (Cf. JUNG, OC-6 §755) seria uma atitude interna que projetada em um objeto faria com que este fosse vivido com amor, ódio ou medo intenso. Imagem da alma é apresentada como complexo funcional que coloca a consciência em contato com objetos internos ligados a intensos afetos.

“O afeto provém do fato de ser impossível uma verdadeira adaptação consciente ao objeto que representa a imagem da alma.” (JUNG, OC-6, §842)

A imagem da alma seria representada por pessoas que apresentam qualidades correspondentes, embora, em geral, apareceria representada nos homens por figuras femininas e nas mulheres por figuras masculinas, mas “as vezes são personagens totalmente desconhecidos ou mitológicos” (JUNG, OC-6, §842). Ou seja, as imagens de alma não precisariam corresponder ao binarismo sexual.

Pode-se considerar então, que a tensão na fratura entre o que é determinado na consciência (estilos ou padrões dominantes na consciência), os aspectos suprimidos de toda a determinação (aspectos sombrios inconscientes) e a singularidade última, que poderia ser vivida através da imagem da alma, excitaria e apareceria como desejo.

 Desejo como a descoberta de uma fratura que faz do ser um espaço de questionamento continuo a respeito do que o define, da identidade, do lugar que ocupa etc. Desejo como movimento que pressupõe um campo relacional com mais de um elemento. Esta relação teria, propósito, sentido, finalidade quer se dirija a aproximar-se ou afastar-se de determinados aspectos vividos como “outro”. Na integralidade o vivente não seria apenas a consciência ou apenas o inconsciente, mas uma entidade relacional; uma relação radical e constitutiva com a alteridade.

A imagem da alma (complexo funcional que coloca a consciência em contato com a experiência interna) projetada num objeto faria com que este brilhasse, atraísse, excitasse, fascinasse, misteriosamente, como o brilho da espuma do mar de onde surge Afrodite. Afrodite que em Ovidio ouve as rezas de Eco desprezada por Narciso pedindo que lhe tirasse a vida. A deusa tanto gostou de sua voz que deixou-a viver. Afrodite faria viver Eco em cada evento vivido.

O que se apresenta para a consciência como imagem de alma apareceria iluminada pelo brilho de Afrodite produzindo através de Eco uma excitação que faria nascer Eros (desejo) que buscaria unir a consciência a este objeto que é vivido como “outro”, mas onde haveria algo de sua própria essência, algo que lhe é essencial para a integralidade. Mas o desejo que atrai e fascina assustaria a consciência pelo medo de se perder, pois se o que a completa na integralidade é o que foi suprimido de toda determinação, ou seja, a negatividade de todo determinado, integrar estes aspectos seria perder toda determinação. Mas também poderia ser a oportunidade para perder-se num infinito verdadeiro (uma determinação indeterminada ou uma indeterminada determinação – figura da infinitude como uma determinação sem bordas, sem limites).

A imagem de alma como psicopompo põe a consciência em contato com o inconsciente, infinito por não ter começo nem fim e não por se repetir infinitamente como “o mesmo”.

A excitação sentida (através da fratura tensa) é que levaria a necessidade do movimento e o sujeito seria levado a suportar a contradição em si mesmo sem perder a determinidade. Este desejo não buscaria a satisfação ou a consumação do objeto pois isto seria sua aniquilação. Mas tomaria a si mesmo como objeto paradoxal ou como antinomia (indeterminado/ determinado). Seria “(…) impossível uma verdadeira adaptação consciente ao objeto que representa a imagem da alma.” (JUNG, OC-6 § 842) uma vez que a alma é personificação do inconsciente do qual a consciência emerge e que dissolve também todas as certezas e determinações na consciência. Mas, seria através do desejo que a consciência procuraria a si mesma, sempre marcada por uma negatividade – resistência – que insiste que toda determinação estaria sempre em continua transformação, num eterno vir a ser e o que falta em relação ao ser é o que excedeu a toda determinação. O que falta é o excesso.

Assim, Afrodite e Eros personificariam padrões arquetípicos que organizam movimentos da energia psíquica que não ficam presos a qualquer identidade ou gênero, embora possam passar pelas formas de identificação consciente de gênero. Jung refere-se à Identidade apontando que “falo de identidade no caso de uma igualdade psicológica. É sempre um fenômeno inconsciente, pois a igualdade consciente sempre pressuporia a consciência de duas coisas equivalentes.” (JUNG, OC-6, §823), reforçando a ideia da consciência como um campo reflexivo. Para Jung, “(…) a identidade é uma igualdade inconsciente com os objetos.” (JUNG, OC -6 §824). Aponta-se para a compreensão que as experiências de identidades podem levar a uma objetificação de si mesmo, chega-se a afirmar que “Identificação é um alheamento do sujeito de si mesmo em favor de um objeto que ele, por assim dizer, assume. (JUNG, OC -6 §825).

Todo este processo pode levar ao reconhecimento da indeterminação e fragilidade sensível como o elemento fundamental de todos os viventes.

O corpo vivo se constituiria na relação com “outros” -sejam estes vividos como estímulos externos e/ou internos refletidos e psiquificados. Alteridade relacional essencial com muitos “outros” descritos de diversas maneiras; quer seja como instintos que poderiam serem entendidos como as marcas de valores que historicamente se repetiram, ganharam estabilidade e foram transmitidos; quer seja como os padrões arquetípicos, núcleos míticos, temáticas universais, transpessoais, leitos secos de rios que tendem a organizar os eventos ao redor destes.  Seja como for haveria uma indeterminação e vulnerabilidade essencial que fundamenta no corpo descrito como físico ou psíquico.

Os laços seriam fundamentais para qualquer forma da vida e ao mesmo tempo o que restringem. O senso de identidade e de identidade de gênero poderia ser uma forma de reconhecimento e de alheamento de si mesmo.

No texto junguiano a imagem de alma que apresentar características historicamente associadas ao masculino será denominada de Animus e aquela como as características ligadas ao feminino de Anima. O uso do mesmo termo “Anima” referindo-se tanto ao arquétipo (padrão organizativo, transpessoal e inatingível) que se aproxima da Anima Mundi e “Anima” como imagem da alma (complexo funcional através do qual a consciência tem acesso as experiências internas, personificação do inconsciente) pode levar a interpretações muito diversas. Como o termo é o mesmo, por vezes, podem surgir dificuldades em discernir do que está se tratando no próprio texto junguiano.

Ajuda perceber que quando se trata de um padrão arquetípico seria algo transpessoal, uma tendência organizativa, necessariamente, sem nenhum conteúdo prévio ou determinado. Seria como uma tendência que fosse recebida ou herdada, a sensibilidade para que os eventos tocassem, ressoassem, refletissem no vivente; isto não teria nenhum conteúdo, mas desta sensibilidade emergiriam todos os conteúdos configurados em associação, em complexos, como no complexo funcional da alma que apareceria como imagem da alma. Não haveria acesso direto a nenhum arquétipo apenas através das imagens arquetípicas como a imagem da alma.

A diferenciação da totalidade ou integralidade seria fundamental na narrativa junguiana. Uma das formas como é descrita a diferenciação seria que a vida se realizaria num processo de diferenciação em relação à entropia que seria tendência mais geral ou “natural”. Na entropia todas as tensões tenderiam a se reduzir ao máximo ou no limite se extinguirem. A vida resistiria aos processos entrópicos (Cf. JUNG, OC 8/2, §375). Pode-se imaginar que isto se faria produzindo sequências que buscam através da reprodução se diferenciar e se defender da eliminação de tensão viva, que seria vivida como energia psíquica.

A energia psíquica não teria nenhum conteúdo determinado, mas seria a manifestação da tensão de polos antinômicos -estes regulariam os movimentos de progressão e regressão da energia psíquica (Cf. JUNG, OC 8/1 §60-61). Energia psíquica seria uma tensão entre valores (sempre coletivos e singularizados) e vivido na consciência como polos antinômicos, mas que seriam apenas duas faces da mesma moeda. Os eventos fariam marcas de acordo com a intensidade do valor vivido; estes traços se agregariam e configurariam complexos associativos que tenderiam a se repetir e se expandir com novas associações agregadas aumentando sua força, tanto pela repetição criando hábitos, como pela agregação de traços por analogia e semelhança. De um lado isto poderia ajudar a se defender da força entrópica, mas de outro tenderiam para a unilateralidade.

A tendência à divisão inerente à psique significa, de um lado, a dissociação em um sem-número de unidades estruturais, mas, do outro, também a possibilidade – propícia à diferenciação – de separar certas partes estruturais, de modo a fomentá-las por meio da concentração da vontade e conduzi-las ao máximo de desenvolvimento. Deste modo, favorecem-se unilateralmente, e de modo consciente, certas capacidades, especialmente aquelas das quais se esperam que sejam socialmente úteis, e se negligenciam outras. Isto ocasiona um estado não equilibrado, semelhante ao produzido por um complexo predominante (JUNG, OC -8/2, §255) negritos meus.

Entre as tendências organizativas inconscientes, o padrão arquetípico anímico não teria conteúdo pré-determinado algum pois, “Se o inconsciente pudesse ser personificado, assumiria os traços de um ser humano coletivo, à margem das características de sexo, à margem da juventude e da velhice, do nascimento e da morte” (JUNG, 8/2 §673) negritos meus.

Há diversos exemplos que podem ilustrar que a vida não precisaria da divisão binaria de gêneros e nem mesmo da sexualidade para se reproduzir (fragmentação, divisão múltipla, partenogênese, cissiparidade, esporulação, brotamento etc.). Ao contrário, as características descritas pelos gêneros e as manifestações da sexualidade já seriam apresentações de diferenciação entre infinitas formas de vida possíveis. A “vida” seria abundante, pródiga e esbanjadora, excederia toda e qualquer forma de apresentação determinada. As apresentações dos gêneros masculino e feminino caberiam na vida, mas a vida não caberia na binariedade de gênero.

A vida no seu processo de realização poderia produzir através da experiência psíquica diversas formas como: hermafrodita, heterossexual, homossexual, gay, lésbico, transgénero, queer, intersexo, assexuado etc. A psique (experiência psíquica) é criativa, mas ela criaria não apenas o que está de acordo com a consciência individual ou coletiva; cria heróis, indivíduos, self-made-man, dragões, bruxas, psicopatologia, divisões sexuais, gêneros etc.

Todas estas manifestações podem ser vistas como complexos associativos que buscam adaptação e reconhecimento a contextos externos, ou seja, Personas – papeis sociais de adaptação. Entretanto estas criações precisam ganhar reconhecimento psíquico, serem realizadas e reconhecidas, além de serem protegidas socialmente pois sem este reconhecimento e zelo a vida pode estar ameaçada ou mesmo ser destruída por ser considerada errada, doente, aberração, desprezível, inumana. Formas de vida sem valor que poderiam ser eliminadas sem deixar marcas como se não fizessem diferença. Formas de vida que podem ser mais do que apenas eliminadas em sua existência, mas em sua memória; apagar todos os traços e marcas produzidas. Não deveriam ter rituais de luto, seriam apagadas das narrativas, da história etc. 

Importante realçar que o que aparece sistematicamente como problemático na narrativa Junguiana é a dominação tirânica, fundamentalista de qualquer unilateralidade.

A alternância de domínios unilaterais circunstanciais de acordo com contextos internos/externos protegeria a psique dominação insuperável de imperativos unilaterais. Não existiriam padrões arquetípicos ou mesmo complexos, bons ou maus, saudáveis ou doentes, mas qualquer padrão ou qualquer estilo de consciência que crescer unilateralmente demais e colocar-se em cisão, oposição e embate visando destruir ou suprimir os demais ou a diversidade, teria como efeito o crescimento dos aspectos suprimidos fora da consciência – na sombra (aspectos vividos como errados, ruins ou mesmo não desenvolvidos na consciência). Estes sem a resistência da vida consciente e o trabalho de discriminação desta cresceriam em associação com padrões genéricos, coletivos, arcaicos e ameaçaria permanentemente a consciência.

Quanto mais ameaçados estiverem os complexos dominantes na consciência, mais se ativariam sistemas de defesa para detectar, por analogia, sinais de ameaça. Quando mais vezes e mais intensamente ativados os sistemas de detecção de ameaça, mais eficientes e automáticos eles podem se tornar e podem mesmo se automatizar. Pode-se chegar a um grau de unilateralidade em que a defesa funcionado automaticamente como um radar busca inimigo com tamanha intensidade e força que, na ausência de traços de ameaça externa, a defesa poderia buscar inimigos no passado ou no futuro e como isto concentrar boa parte da energia psíquica neste processo, ficando a consciência com pouca energia, animo, disposição, vontade etc.

A narrativa junguiana colocaria como horizonte de atuação facilitar a função transcendentes, ou seja, aproximar a consciência do inconsciente. Não seria o inconsciente, através de algum complexo, possuir ou dominar a consciência unilateralmente, o que caracterizaria uma crise; mas o ego (como zelador da vida), com consciência, aprofundar nas manifestações do diverso, respeitando, ouvindo – não apenas literalmente, mas metaforicamente, poética e simbolicamente. Buscar-se-ia com isto o sentido, o propósito, a finalidade daquela manifestação além das narrativas causais que poderiam estar associadas. Jung apresenta no prefácio da 4ª edição de Símbolos da Transformação (JUNG, OC-5) a proposta de levar em conta mais do que o causalismo redutivo, a finalidade, o propósito de uma manifestação.

As manifestações não estariam submetidas apenas a narrativas causais, mas de finalidade, sentido ou propósito. Lembrando que a ideia de meta impulsionaria a psique num certo sentido, num certo horizonte, mas que a meta seria a própria obra que está acontecendo no presente. Busca-se também “libertar a psicologia médica do caráter subjetivo e personalista” (JUNG, OC-5, Prefácio da 4ª edição), ou seja, ir além das narrativas personalistas centradas no complexo do ego que descreve a vida como se as manifestações da psique fossem propriedades privadas do Ego (meus pensamento, minhas ideias, meus sentimentos, minhas emoções, meu gênero, minha sexualidade, minha espiritualidade). Cada vivente teria experiências singulares nas manifestações da psique, mas o fato de serem vividas singularmente não as tornaria propriedade do Ego- personalizadas.

Assim validar forças e determinantes maiores transpessoais como Afrodite, Eros, Eco etc. e reconhecer desejo como a fratura que coloca a consciência em relação ao excedente da vida e a presença do desejo como oportunidade para o vivente suportar a contradição em si mesmo sem perder a determinidade – a vida em continua transformação – pode ser fundamental para atitudes e posições que defendam a multiplicidade de formas de vida. Isto levaria a uma via dupla no posicionamento no mundo: de um lado reconhecer e zelar pelas infinitas formas de manifestações de vida (o que incluiria a diversidade de gêneros) em sua fragilidade; em especial as formas mais sujeitas a ataques, violências e apagamento das marcas deixadas. Mas, também ficar atento pois toda forma de vida reconhecida seria uma persona e restringiria a vida. Mais ainda tomar ações para que nenhuma forma de vida possa assumir posições tiranicamente unilaterais, fundamentalistas, buscando eliminar, suprimir outras formas, quer seja usando mecanismos, violentos, racistas, sexistas etc. na forma de repressão barragem, quer seja na forma de apresentações de saber como a verdade do humano ou do ser. A vida excedendo em sua fragilidade e indeterminação precisaria sistematicamente da zeladoria da consciência, do campo reflexivo, seja em sua forma individual, seja nas diversas instâncias coletivas como família, escolas, trabalho, política etc.

Ajax Salvador – Membro Analista Didata IJEP

Referências:

JUNG, Carl Gustav. OC, 8/2 – A Natureza da Psique. Petrópolis: Vozes, 2014.

—. OC-10/1 Presente e Futuro . Petrópolis: Vozes, 1989.

—. OC-5 – Símbolos da transformação: análise dos preludios de uma esquizofrenia. Petrópolis: Vozes, 2008.

—. OC-8/1 – A Energia Psíquica. Vol. 8/1 OC. Petrópolis: Vozes, 2000.

—. OC-8/6 – Tipos Psicológicos. Vol. OC-6. Petrópolis: Vozes, 2015.

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