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Lições de psicossomática: câncer de laringe do Lula, o grito do não dito ou do mal dito!

Fiquei sabendo do câncer de laringe do Lula por meio de um e-mail, enviado por um colega médico, com as seguintes exclamações: “Jesus Cristo começou a chamar os infiéis e desonestos para se encontrar com Deus! Deus tarda, mas não falha! Deus escreve certo por linhas tortas! Quem com ferro fere, com ferro será ferido! A garganta é o local das verdades e mentiras! Graças a Deus, estamos livres do terceiro mandato de Lula!”.
Isso me deixou, por um lado, perplexo e abatido, ao ver um profissional da área de saúde, tomado de assalto por algum complexo psicoafetivo, demonstrando alegria ao saber do sintoma de adoecimento do Lula, agradecendo e atribuindo a Deus a desgraça de um ser humano. Por outro lado, fiquei triste e solidário com a doença de Lula, apesar de aliviado, porque com o aparecimento desse câncer, fica evidente que nosso ex-presidente, apesar de ter se promiscuído com o poder, ainda não perdeu sua ideologia e ética.

Meus conhecimentos de psicossomática e minha experiência com clientes que, como o Lula, fizeram sintomas de adoecimento como essa doença autoimune permite-me afirmar que toda doença é uma expressão simbólica que secreta segredos e feridas do amor próprio, devido a desordens neuróticas entre o eu e o inconsciente. Ou seja, todo sintoma é a resultante de um conflito existencial. Isso justifica o fato de alguns políticos, sabidamente inescrupulosos e corruptos, mesmo idosos, não fazerem doenças significativas, porque suas neuroses de caráter impedem que eles sofram qualquer tipo de crise ética ou existencial. Com isso, quando um Paulo Maluf diz que o dinheiro encontrado na sua conta em paraíso fiscal não ser dele, ele não sofre nenhum conflito, porque além de saber que, na realidade, o dinheiro não é dele mesmo, é nosso, e devido suas crenças puramente competitivas, cumulativas e egoístas, nem se abala com o dano social que causou e causa.

Conheci pessoalmente o Lula um pouco antes de sua eleição para deputado constituinte. Nessa época tive um restaurante em São Bernardo do Campo e até fizemos jantar para arrecadar fundos para sua campanha. Foi um privilégio conhecer pessoalmente um homem inteligente, engajado, com forte construto ideológico e partidário. Lembro-me que no plebiscito que ganhou o regime presidencialista, apesar de Lula ser simpatizante ao parlamentarismo, ele respeitou a decisão partidária, mantendo-se fiel e submisso a ela. Nessa mesma época ele e seus companheiros muitas vezes convidaram para me filiar ao partido, e eu sempre respondia que desejava me manter íntegro e inteiro, jamais partido! Neste sentido, acredito que, à medida que ele, e seu partido, necessitavam de mais poder, justificando que era para garantir a governabilidade, cada vez mais tinham que deixar de falar o que suas ideologias e ética exigiam, ou falar o que não queriam. Obviamente, com isso, sofriam conflitos existenciais, que aumentavam significativamente a chance do surgimento de doenças.

O câncer de laringe do Lula, nesta visão psicossomática, é o resultado do grito do não dito ou do mau dito! Seu sintoma representa seu lado sombrio, o lado secreto que sofria tendo que fazer alianças espúrias. Ele chegou afirmar que “no Brasil, Jesus teria de fazer aliança com Judas”, esquecendo-se que Jesus investiu mais de 80% do seu tempo e energia apenas para seus doze discípulos. Justamente por não ter se corrompido que foi traído por Judas e, graças a isso, conseguiu atingir seu propósito. Ele não ficou encantado com o populismo e nem em manter o poder pelo poder, com intenção de transformar os bens públicos em patrimônio privado, como a maioria dos políticos fazem!
É uma pena que nossa atual medicina da sociedade de consumo, diante das doenças, valorize apenas os fatores externos e ou genéticos, deixando de lado as questões psicoafetivas. Na realidade, é sempre mais fácil atribuir ao câncer hereditariedade e ou exposição a substâncias oncogênicas, no caso específico de Lula: álcool e tabaco. Mas, na realidade, sabemos que existem muitos indivíduos que possuem antecedentes hereditários e hábitos muito predisponentes ao câncer, mas por terem um ambiente psíquico harmonioso não expressam a doença.
Com essa afirmação, não quero atribuir mais culpa ao doente, mas a capacidade crítica para rever sua vida e fazer as mudanças necessárias. Pois entendemos que só adoece quem tem chances de mudança, aquele que vive num conflito interior. O adoecimento não tem nada a ver com perdas materiais ou amorosas, mas como que, na subjetividade mais íntima de cada individuo, está sendo processada sua experiência traumática, a tragédia, o desastre, a mentira, o medo, a raiva, a culpa, a negação de si mesmo, entre outros sentimentos e atitudes geradoras de conflitos neuróticos.
Por isso, neste momento o Lula não pode nem ser santificado, como alguns partidários cegos pretendem, transformando-o num mártir vitima do sistema, nem pode ser execrado como um demônio. Ele é um homem detentor de liderança carismática, têmpera e fibra, que superou a miséria, a discriminação e até a falta de educação acadêmica e formal, sempre motivado por seus princípios de inclusão social e liberdade de expressão. Porém, como todo mortal, diante do poder e de toda horda de políticos inescrupulosos e fascinados com o poder, deve ter sucumbido à vaidade, encantando-se mais com o populismo ao invés de bancar, com mão de ferro, as reformas previdenciárias, trabalhistas, políticas, educacionais e fiscais que tanto são necessárias para que sua ideologia prevalecesse.
Quem sabe agora, diante desta notícia trágica, nosso querido ex-presidente, possa superar mais essa crise, retomando suas origens ideológicas, passando a falar apenas suas verdades interiores, para que possamos ter de volta o homem comprometido com as questões mais emergentes da humanidade, voltando-se para a diminuição do consumo, preservação do planeta, distribuição da renda e investimento maciço na educação, saúde e segurança.
Presidente Lula! Desejo-lhe saúde, força, paz e bem! E que sua finalidade existencial se realize!!

Primavera de 2011
Paz e Bem
Waldemar Magaldi Filho, Psicólogo, analista junguiano, mestre e doutor em ciências da religião, professor e coordenador dos cursos de pós-graduação, lato-sensu, que titulam e formam especialistas em Psicologia Junguiana, Psicossomática e Arteterapia e Expressões Criativas do IJEP – Instituto Junguiano de Ensino e Pesquisa – www.ijep.com.br 

Waldemar Magaldi Filho – 10/12/ 2011

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