Toda criança nasce em desajuste e tencionada, recebendo, de um lado, influências de uma parcela mais ou menos semelhante ao animal e, de outro lado, a herança ancestral de toda humanidade, com infinitas e complexas experiências e necessidades que a impulsionam para a evolução e realização do ser . Deste desajuste interior surge uma tensão que só pode ser aliviada pela capacidade criativa de simbolização e pela autoconsciência.
Os símbolos são caminhos para a transformação da energia ou da libido e deles é que surgem as organizações e as tradições culturais e religiosas que, pela necessidade de comunicação e da expressão, dependem da linguagem.
A linguagem necessita dos símbolos, pois somente eles é que podem abranger a experiência vivida. Simbolizar é, simultaneamente, o questionamento da realidade aparente frente à realidade do mistério. Por isso, symbolon = reconhecer; symbálen = juntar, reunir, forças contrárias que se reencontram, o seu oposto é o diabálem = o que separa, o que divide, origem do diabo ou do demoníaco.
Ao tentarmos definir os símbolos ou reduzi-los às suas características semióticas, corre-se o risco de transformá-los em sinais ou signos, fazendo com que eles percam suas capacidades integradoras e transformadoras. Com isso eles deixarão de ser os sinais visíveis da realidade invisível, com excedente de significados que nunca pode se esgotar, nem serem substituídos pela razão, pois eles têm muito mais a ver com a emoção. Desta forma, a tentativa de transformá-los em sinais ou signos além de ser impossível, deixa a pessoa em uma imensa aporia de significados, a vida fica apática e sem sentido.
Os símbolos são freqüentes em histórias de amor, religiões, artes, enfim em todas as situações em que existe uma tensão e um conflito humano, envolvendo, geralmente, as antinomias = emoção e razão.
Os mitos são as justificativas das nossas ações, como um processo de explicação para elas, porém estas explicações são muito mais inconscientes do que conscientes. Os mitos passam pelo processo de psiquificação, dando uma razão para os ritos. Todo mito produz um interdito que impede a mudança do rito, mantendo e atualizando seu efeito sobre o humano. O mito é um teatro simbólico e dramático das experiências biológicas, psicológicas e espirituais, registrando todas as ações humanas no transcorrer da evolução. São estruturas que nos fornecem os padrões ou modelos arquetípicos, condensando em sua narrativa uma infinidade de situações análogas, universais e individuais, possibilitando-nos referencias da história da humanidade.
Ou, nas palavras de B. Malinowski : “O mito, portanto, é um ingrediente vital da civilização humana; longe de ser uma fabulação vã, ele é ao contrário uma realidade viva, à qual se recorre incessantemente; não é absolutamente uma teoria abstrata ou uma fantasia artística, mas uma verdadeira codificação da religião primitiva e da sabedoria prática”.
Podemos concluir que os mitos são matéria da alma, são verdadeiros documentos humanos, abrangendo todas as épocas e histórias da humanidade e estão diretamente ligados à nossa própria vida, porque todo este registro histórico vive em nós, dando-nos genealogia espiritual. Eles são o resultado do crescimento da consciência humana, o registro simbólico do inconsciente coletivo, repletos de linguagem simbólica e de possibilidades ritualísticas. Conseqüentemente, são as bases fundantes das doutrinas e das religiões. Neles as almas se alimentam em um persistente processo de construção e desconstrução, rumo a realização.
Como os mitos são caminhos e potencialidades arquetípicas que permitem a autoconsciência e neles estão contidos toda sabedoria universal e perene, vou privilegiar, dentre alguns mitos, os mitos de Íris.
Íris , que etimologicamente é oriunda das raízes de: curvar, dobrar, espiral e fio de ferro, na mitologia Grega é filha de Electra e Taumas, é a personificação do arco-íris e é a ponte de união entre o Céu e a Terra, entre os deuses e os homens. Íris tem muita similaridade com Hermes, por ser a portadora das ordens, mensagens e conselhos dos deuses aos homens. Com isso podemos refletir o quanto que, para quem estuda a íris (iridólogos), existe uma total coerência do mito com o seu estudo prático e fenomenológico, porque ela nos mostra tanto as potencialidades como as ordens e os caminhos para o relacionamento do psiquismo, do curador e do ferido, com o seu corpo e com a sua espiritualidade.
Autor: Waldemar Magaldi Filho