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Reimaginando o Processo de Individuação

quem sou eu?

Assim como outras a palavra, individuação (Verselbstung) é uma presença que têm etimologia, história e pode ser personificada. “(…) as palavras são pessoas” (Hillman, 2010) p. 54. Pode-se buscar a alma na palavra vista então como um mensageiro portador de sentido metafórico; cheio de poderes invisíveis.

Individuação é para Jung o processo de “’tornar-se si-mesmo’ (Verselbstung) ou ‘o realizar-se do si-mesmo’ (Selbstverwirklichung).” (JUNG, 2001, §266).

O termo (Verselbstung) foi usado anteriormente por Goethe indicando um estreitamento ou concentração em Si-mesmo ou isolamento interno, mas apontando aderência ao individual como vicio ou crime uma vez que o bem e a virtude dirigem-se ao universal. (WELLBERY 1996). Em Kant ser senhor de si-mesmo é estar livre do jugo passional dos mobiles empíricos, não se deixando determinar pelas emoções e paixões; “tornar-se si-mesmo” seria estar sob o comando da Razão, através do pensamento orientado pelo vontade equivalente aos imperativos categóricos. (CENCI s.d.). Em Nietzsche o (“Verselbstung”) si-mesmo é tornar-se a pessoa que você sabe ser e a possibilidade de fraqueza da vontade ser abolida. A racionalidade é ou produziria a fraqueza da vontade derivada da falta de paixão. (HOFFMANN, 2008). Em Schopenhauer o tema da Individuação estaria mais próximo da “vontade” que revelar-se-ia imediatamente a todas as pessoas como o em-si. “O mundo da vontade” seria independente da representação e, portanto, não se submeteria às leis da razão; seria o princípio fundamental da natureza que apareceria na queda de uma pedra, no crescimento de uma planta ou no puro comportamento instintivo de um animal.

Pode-se ver através da “Individuação” uma configuração que constelação a tensão entre algo que procura independência, isolamento, unicidade e elementos que buscam influenciar, misturar-se, determinar e mesmo conduzir. 

Interessante que Jung escapa da aproximação abstrata desta tensão e problematiza como se dá o processo de se saber quem é? Ou como se realizam as separações entre as partes e o todo. Como cada personalidade (persona), potencialmente um si-mesmo, se relaciona com os “outros”? Jung recorre aos textos alquímicos buscando superar o paradoxo ou a antinomia e fazer do duplo um. (JUNG, 1978). “(…) a aparente unidade da pessoa que declara com firmeza: “eu quero, eu penso etc., se racha e se dissolve como consequência do choque com o inconsciente” (JUNG, 1978) p.60A unidade que emerge não é o “Eu” anterior em sua ficção, senão que um outro que é designado por “Si-mesmo”; que nunca perde o sentimento doloroso de sua natureza dual. O processo que buscaria realizar a unidade realiza o múltiplo. Individuação supera o paradoxo ou a antinomia realizando-o; personificando a Sra. “individuação”. Jung afasta-se da individuação (e mesmo da personalidade) como coisas definidas, literais – seja de maneira abstrata ou concreta. Propõe um olhar através ou metaforizar e assim tornar-se “Si-mesmo” pode tornar-se devir outros, sem que o “Eu” se desfaça. Reconhecer que o que aparecia como sendo “Eu” é apenas um dos complexo entre muitos. Um complexo configurado como todos os outros pelo hábito; neste caso talvez o habito de dizer Eu. 

Autor: Ajax Perez Salvador

CENCI, M.P. “UMA APRESENTAÇÃO DOS CONCEITOS DE ARBÍTRIO E VONTADE EM KANT.” files.kantianos.webnode.com.br.s.d. http://sites.unifra.br/Portals/1/ARTIGOS/edicao3/KANT_MPC.pdf (acesso em 2014).

HOFFMANN, Tobias . Weakness of Will from Plato to the Present (Studies in Philosophy and the history of philosophy). Washington, DC : The catholic University of American Press, 2008.

JUNG, Carl Gustav. La psicologia de la transferencia. Buenos Aires: Editorial Paidos, 1978.

WELLBERY, David E. The Specular Moment: Goethes Early Lyric and the Beginnings of Romanticism. Stanford: Stanford University Press, 1996.

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