Explore a jornada de transformação do homem através da anima, analisando o Mito de Percival e as teorias psicológicas de Jung e Johnson. Descubra como a dualidade interna, confrontos externos e a cura interna são fundamentais para a consolidação da masculinidade e realização pessoal.
Há uma camada primitiva na psicologia do homem que, segundo Jung, é representada pela anima.
Em sua essência, a psicologia primitiva rejeita abstrações, e as línguas primitivas têm poucos conceitos. Nesse contexto, a anima emerge como uma força primitiva, resistindo à mera noção abstrata. Jung destaca que o entendimento da anima como um complexo que se comporta quase como uma pessoa é crucial. A anima não é apenas uma abstração científica, para Jung:
Robert A. Johnson, em seu livro “He”, explora a dualidade do universo e destaca que para compreender a unicidade é necessário a percepção da dualidade e sua respetiva diferenciação. Johnson ressalta a importância de diferenciar o mundo interior do exterior, e a verdadeira atuação na unidade só é possível quando essa distinção é clara. É possível ter uma percepção clara desta dualidade nas projeções da vida cotidiana Jhonson capta bem esse problema ao apontar que o problema deste sofrimento e desta que:
Para Johnson, “Nenhum esforço exterior é possível se nossa capacidade interior está ferida” (JOHNSON, 1992, p. 25), destaca a necessidade de cura interna antes de qualquer empreendimento externo eficaz. Esta perspectiva ecoa a jornada de Parsifal, onde a busca por algo no interior, que corresponda à idade e mentalidade do momento da ferida, é essencial para a cura.
No mito de Persifal, Johnson destaca a necessidade de despertar o “Parsifal” no homem.
O despertar não apenas traz alegria à parte anteriormente incapaz de felicidade, mas também infunde vida. A dualidade presente no homem, representada pelo lado violento que precisa ser dominado, é uma jornada em direção à integração consciente.
O confronto com obstáculos externos é fundamental para consolidar a masculinidade, desafiando a vontade e identidade do homem. Isto porque desde a infância precisa aprender a dominar o instinto violento de sua natureza, que sem a conscientização pode vir a se tornar dominado por essa sombra.
Johnson também ressalta a importância do papel paterno na vida do adolescente, sugerindo que, nos dias de hoje, a intimidade entre pai e filho muitas vezes é perdida, tornando-se necessário um mentor, um guia masculino, para continuar o processo de treinamento.
Quando esse processo de desenvolvimento não acontece de forma satisfatório o homem pode cair no encantamento do dragão – que contém representação de uma variação da imago da mãe-, Johnson descreve a dinâmica psicológica não resolvida que os homens mantêm com o complexo materno desde a infância. Esse “dragão” é uma representação da relação complexa e ao permanecer não resolvida, tal figura acaba influenciando suas vidas.
Concluindo, Johnson destaca que o verdadeiro trabalho do homem na fase final da vida é o processo de trazer elementos do inconsciente e integrá-los ao consciente. Essa integração, segundo ele, é essencial para a totalidade e realização do indivíduo (cf JOHNSON, 1992, p. 82).
Aprofundando a Jornada Interior: Explorando as fases da Transformação Masculina
Ao nos aprofundarmos na jornada de transformação delineada por Jung e Johnson, é imperativo explorar as várias fases dessa busca interior. Ao sofrer, o homem muitas vezes procura soluções externas para aliviar seu desespero, manifestando-se em reclamações sobre vários aspectos de sua vida. Essa busca inconsciente por soluções fora de si mesmo destaca a necessidade premente de cura interna antes de qualquer empreendimento externo. A jornada de Parcifal nos mitos aponta para a necessidade de se realizar uma colaboração entre o mundo interno e externo (cf. Johnson).
A dualidade inerente ao homem, simbolizada pelo lado violento que requer domínio, revela-se como um caminho em direção à integração consciente.
A consolidação da masculinidade, requer o enfrentamento de obstáculos externos. Esse confronto desafia a vontade e a identidade do homem, sendo fundamental para seu desenvolvimento. O mito do dragão, que encanta as pessoas, assume uma nova dimensão ao ser interpretado como a dinâmica psicológica não resolvida que os homens mantêm com o complexo materno.
O acesso de mau humor, frequentemente manifestado como uma resposta inconsciente a essa dinâmica não resolvida, destaca a influência duradoura da figura materna nas vidas dos homens (cf. JOHNSON, 1992, p. 29).
Ao final da jornada, Johnson aponta que o verdadeiro trabalho do homem na fase final da vida é o processo de trazer elementos do inconsciente e integrá-los ao consciente. Essa integração é uma etapa essencial para alcançar a totalidade e a realização pessoal.
Considerações finais
À luz das reflexões proporcionadas por Jung e Johnson, a jornada do homem em direção à transformação é uma exploração multifacetada da psique.
A anima, como uma força primitiva, desafia as noções convencionais e exige uma compreensão profunda. A dualidade, representada nos mitos e nas obras de Johnson, é uma realidade que requer diferenciação e consciência para a busca efetiva da unicidade.
A busca por soluções externas em momentos de desespero ressalta a urgência da cura interna.
O mito de Parsifal, com seu chamado para despertar esta imagem interior, revela-se como um caminho em direção à integração consciente, exigindo a superação do lado violento inerente. A consolidação da masculinidade, através do confronto com obstáculos externos, destaca a importância do papel de um guia na jornada do homem. Tais dinâmicas não resolvidas com a imago materno, personificada pelo mito do dragão, continua a exercer uma influência significativa, moldando as respostas inconscientes dos homens.
No final, o processo de trazer elementos do inconsciente para o consciente, é vital para a busca contínua pela totalidade e realização pessoal. A transformação do homem através da anima é uma jornada que transcende o tempo, uma exploração constante das profundezas da psique masculina em busca de autenticidade e totalidade.
Segundo Jung, o confronto com a sombra é obra de amador diante do confronto com a anima, porém, enquanto a sombra não tiver sido integrada, a expressão da anima será absolutamente tingida por ela. Ao invés dela funcionar como um psicopompo que vai levar ele para relação com o si-mesmo que é a sua centelha divina ela o levará para as profundezas mais tenebrosas e assustadoras.
Daniel Gomes – Analista em formação pelo IJEP
Waldemar Magaldi – Analista Didata
Bibliografia:
JUNG, C. G. (2019). Aspectos do masculino. Petrópolis: Vozes.
JOHNSON, R. A. (2013). He: Compreendendo a Psicologia Masculina. São Paulo: Mercuryo
JOHNSON, R. A. (1994). Homem: A chave do entendimento dos três níveis da consciência masculina. São Paulo: Mercuryo
Imagem por por Pixabay
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