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A Transformação do Homem através da Anima: Reflexões a partir do Mito de Percival e a Psicologia de Jung e Johnson

Há uma camada primitiva na psicologia do homem que, segundo Jung, é representada pela anima. Em sua essência, a psicologia primitiva rejeita abstrações, e as línguas primitivas têm poucos conceitos. A anima, portanto, emerge como uma força primitiva, resistindo à mera noção abstrata. Jung destaca que o entendimento da anima como um complexo que se comporta quase como uma pessoa é crucial

Explore a jornada de transformação do homem através da anima, analisando o Mito de Percival e as teorias psicológicas de Jung e Johnson. Descubra como a dualidade interna, confrontos externos e a cura interna são fundamentais para a consolidação da masculinidade e realização pessoal.

Há uma camada primitiva na psicologia do homem que, segundo Jung, é representada pela anima.

Em sua essência, a psicologia primitiva rejeita abstrações, e as línguas primitivas têm poucos conceitos. Nesse contexto, a anima emerge como uma força primitiva, resistindo à mera noção abstrata. Jung destaca que o entendimento da anima como um complexo que se comporta quase como uma pessoa é crucial. A anima não é apenas uma abstração científica, para Jung:

O termo científico nada transmite e a mera noção abstrata da anima também não transmite nada, quando você pressupõe que a anima é quase pessoal, mas um complexo que se comporta exatamente como se ela fosse simples pessoa, ou as vezes como se fosse uma pessoa uma muito importante, logo você entende isso quase que corretamente. (JUNG, 2019, p.221)

Robert A. Johnson, em seu livro “He”, explora a dualidade do universo e destaca que para compreender a unicidade é necessário a percepção da dualidade e sua respetiva diferenciação. Johnson ressalta a importância de diferenciar o mundo interior do exterior, e a verdadeira atuação na unidade só é possível quando essa distinção é clara. É possível ter uma percepção clara desta dualidade nas projeções da vida cotidiana Jhonson capta bem esse problema ao apontar que o problema deste sofrimento e desta que:

O homem é muitas vezes levado a fazer coisas estúpidas na tentativa de curar a ferida e suavir o desespero que sente. É como se buscasse uma solução inconsciente, fora de si próprio, queixando-se do seu trabalho, do casamento ou do lugar que tem no mundo. Pode até nessa fase, tentar encontrar uma outra mulher (JOHNSON, 1992, p. 21).

Para Johnson, “Nenhum esforço exterior é possível se nossa capacidade interior está ferida” (JOHNSON, 1992, p. 25), destaca a necessidade de cura interna antes de qualquer empreendimento externo eficaz. Esta perspectiva ecoa a jornada de Parsifal, onde a busca por algo no interior, que corresponda à idade e mentalidade do momento da ferida, é essencial para a cura.

No mito de Persifal, Johnson destaca a necessidade de despertar o “Parsifal” no homem.

O despertar não apenas traz alegria à parte anteriormente incapaz de felicidade, mas também infunde vida. A dualidade presente no homem, representada pelo lado violento que precisa ser dominado, é uma jornada em direção à integração consciente.

O confronto com obstáculos externos é fundamental para consolidar a masculinidade, desafiando a vontade e identidade do homem. Isto porque desde a infância precisa aprender a dominar o instinto violento de sua natureza, que sem a conscientização pode vir a se tornar dominado por essa sombra.

Johnson também ressalta a importância do papel paterno na vida do adolescente, sugerindo que, nos dias de hoje, a intimidade entre pai e filho muitas vezes é perdida, tornando-se necessário um mentor, um guia masculino, para continuar o processo de treinamento.

Quando esse processo de desenvolvimento não acontece de forma satisfatório o homem pode cair no encantamento do dragão – que contém representação de uma variação da imago da mãe-, Johnson descreve a dinâmica psicológica não resolvida que os homens mantêm com o complexo materno desde a infância. Esse “dragão” é uma representação da relação complexa e ao permanecer não resolvida, tal figura acaba influenciando suas vidas.

Concluindo, Johnson destaca que o verdadeiro trabalho do homem na fase final da vida é o processo de trazer elementos do inconsciente e integrá-los ao consciente. Essa integração, segundo ele, é essencial para a totalidade e realização do indivíduo (cf JOHNSON, 1992, p. 82).

Aprofundando a Jornada Interior: Explorando as fases da Transformação Masculina

Ao nos aprofundarmos na jornada de transformação delineada por Jung e Johnson, é imperativo explorar as várias fases dessa busca interior. Ao sofrer, o homem muitas vezes procura soluções externas para aliviar seu desespero, manifestando-se em reclamações sobre vários aspectos de sua vida. Essa busca inconsciente por soluções fora de si mesmo destaca a necessidade premente de cura interna antes de qualquer empreendimento externo. A jornada de Parcifal nos mitos aponta para a necessidade de se realizar uma colaboração entre o mundo interno e externo (cf. Johnson).

A dualidade inerente ao homem, simbolizada pelo lado violento que requer domínio, revela-se como um caminho em direção à integração consciente.

A consolidação da masculinidade, requer o enfrentamento de obstáculos externos. Esse confronto desafia a vontade e a identidade do homem, sendo fundamental para seu desenvolvimento. O mito do dragão, que encanta as pessoas, assume uma nova dimensão ao ser interpretado como a dinâmica psicológica não resolvida que os homens mantêm com o complexo materno.

O acesso de mau humor, frequentemente manifestado como uma resposta inconsciente a essa dinâmica não resolvida, destaca a influência duradoura da figura materna nas vidas dos homens (cf. JOHNSON, 1992, p. 29).

Ao final da jornada, Johnson aponta que o verdadeiro trabalho do homem na fase final da vida é o processo de trazer elementos do inconsciente e integrá-los ao consciente. Essa integração é uma etapa essencial para alcançar a totalidade e a realização pessoal.

Considerações finais

À luz das reflexões proporcionadas por Jung e Johnson, a jornada do homem em direção à transformação é uma exploração multifacetada da psique.

A anima, como uma força primitiva, desafia as noções convencionais e exige uma compreensão profunda. A dualidade, representada nos mitos e nas obras de Johnson, é uma realidade que requer diferenciação e consciência para a busca efetiva da unicidade.

A busca por soluções externas em momentos de desespero ressalta a urgência da cura interna.

O mito de Parsifal, com seu chamado para despertar esta imagem interior, revela-se como um caminho em direção à integração consciente, exigindo a superação do lado violento inerente. A consolidação da masculinidade, através do confronto com obstáculos externos, destaca a importância do papel de um guia na jornada do homem. Tais dinâmicas não resolvidas com a imago materno, personificada pelo mito do dragão, continua a exercer uma influência significativa, moldando as respostas inconscientes dos homens.

No final, o processo de trazer elementos do inconsciente para o consciente, é vital para a busca contínua pela totalidade e realização pessoal. A transformação do homem através da anima é uma jornada que transcende o tempo, uma exploração constante das profundezas da psique masculina em busca de autenticidade e totalidade.

Segundo Jung, o confronto com a sombra é obra de amador diante do confronto com a anima, porém, enquanto a sombra não tiver sido integrada, a expressão da anima será absolutamente tingida por ela. Ao invés dela funcionar como um psicopompo que vai levar ele para relação com o si-mesmo que é a sua centelha divina ela o levará para as profundezas mais tenebrosas e assustadoras.

Daniel Gomes – Analista em formação pelo IJEP

Waldemar Magaldi – Analista Didata

Bibliografia:

JUNG, C. G. (2019). Aspectos do masculino. Petrópolis: Vozes.

JOHNSON, R. A. (2013). He: Compreendendo a Psicologia Masculina. São Paulo: Mercuryo

JOHNSON, R. A. (1994). Homem: A chave do entendimento dos três níveis da consciência masculina. São Paulo: Mercuryo

Imagem por por Pixabay

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