Individuação é o termo que Jung usou para falar de uma destinação:
Individuação significa tornar-se um ser único, na medida em que por individualidade entendermos nossa singularidade mais íntima, última e incomparável, significando também que nos tornamos o nosso próprio si mesmo. Podemos, pois, traduzir individuação como tornar-se si mesmo (Verselbstung). ou o realizar-se do si mesmo (selbstverwirklichung). (JUNG, 1981c, Estudos Sobre Psicologia Analítica, §266) negritos meus
A narrativa sobre o caminho da individuação dá lugar a uma importante reflexão entre coletivo ou universal e particular ou singular pois, para JUNG individuação “significa precisamente a realização melhor e mais completa das qualidades coletivas do ser humano; é a consideração adequada e não o esquecimento das peculiaridades individuais.” (JUNG,1981c, §267) negritos meus. É a realização do coletivo, do universal e ao mesmo tempo das peculiaridades individuais. Entretanto, a singularidade deve ser entendida como “uma combinação única, ou como diferenciação gradual de funções e faculdades que em si mesmas são universais.” (JUNG, 1981c, §267) negritos meus. Ou seja, pode-se entender que o que há de mais singular em cada um é uma relação ou a combinação única dos universais e não uma substância com qualidades próprias, o que é muito coerente com uma perspectiva energética. A metáfora utilizada por Jung no texto “O Eu e o Inconsciente” é do rosto humano onde cada um é composto de fatores universais como nariz, olhos etc., mas cada fator universal é variável, o que possibilita as peculiaridades individuais.
Individuação é um “processo mediante o qual um homem se torna o ser único que de fato é.” (JUNG, 1981c, §267). Único parece ter aqui o sentido de singular e não de unidade matemática fixa, firme, determinada e equivalente a outras que pudesse estar sujeita a trocas e cálculos como objetos. Mas o que pode querer dizer tornar-se o que se é se este “é” deve abarcar o desconhecido e o inconsciente coletivo (com padrões arquetípicos universais, transpessoais, históricos)? Vir a ser algo, como uma coisa ou substância, não seria muito diferente de vir a ser uma combinação, uma relação singular de universais? Pode-se recuperar uma velha polêmica que acompanha a humanidade desde os gregos. A realidade ou o que “é” estaria sempre em mudança e em transformação e o que permanece seria ilusão (Heráclito) ou a realidade seria o que permanece e a mudança e transformação seria ilusão (Parmênides). A primeira alternativa (Heráclito) sustentaria a explicação que só se chega ao que se “é” quando pode-se perder-se do que parece que se “é” como determinação fixa. Tornar-se o que se “é” pode precisar de uma atitude empática com o “outro” para o “Eu” – outro que neste caso seria o si-mesmo em sua integralidade. Assim, tornar-se o que se “é” (si-mesmo) pode falar de sair do que parecia ser fixo e determinado abstratamente, sair do individualismo e fluir para além dos limites estreitos da consciência individual.
Jung problematiza a separação estrita entre o individual ou singular e universal ou coletivo; “(…) o indivíduo humano, como unidade viva, é composto de fatores puramente universais, é coletivo e de modo algum oposto à coletividade.” (JUNG, 1981c, §268) negritos meus. “A individuação, pelo contrário, tem por meta a cooperação viva de todos os fatores. Mas como os fatores universais sempre se apresentam em forma individual, (…)” (JUNG, 1981c, §268) negritos meus. Pode-se entender que o universal se realiza no particular e o particular apresenta uma forma do universal.
Jung afirma que o “eu” é “aquele fator complexo com o qual todos os conteúdos da consciência se relacionam.” (JUNG,1982, §1); que constitui o centro do campo da consciência “e, dado que este campo inclui também a personalidade empírica, o eu é o sujeito de todos os atos conscientes da pessoa.” (JUNG,1982, §1). Personalidade empírica pode ser entendida como personalidade consciente ou o estilo dominante na consciência? Seria esta a instância que se revoltaria contra as manifestações do inconsciente quando da paralisação de energia psíquica que vinha progredindo?
A paralisação da energia progressiva de fato tem aspectos desagradáveis. Ela aparece como coincidencia indesejável ou mesmo como catástrofe, que naturalemente se tenta evitar. Em geral a personalidade consciente se revolta contra a manifestação do inconsciente e combate suas reivindicações que, como se percebe nitidamente, não se dirige apenas aos pontos fracos do caráter masculino, mas ameaça também a “virtude principal” (a “função diferenciada” e o ideal). (JUNG, 2008, p.293) negritos meus
O inconsciente seria o fundamento do qual emerge a consciência – “coloco o inconsciente como elemento inicial, do qual brotaria a condição consciente.” (JUNG, 1983, §15). Por isso é um campo difícil de ser falado e afirma-se que negritos meus. Pois, “existem no inconsciente representações e atos volitivos, ou seja, algo parecido com os processos conscientes” (JUNG, 1984, A Natureza da Psique, §380). A diferença seria que na consciência poderiam ser corrigidos e perderiam seu “caráter automático” (JUNG, 1984, A Natureza da Psique, §384).
Jaffé ajuda ao apontar que “(…) o objetivo da individuação não é o homem perfeito, mas o homem completo com sua luz e sua escuridão. O mal, assim como o bem, é dado ao homem juntamente com o dom da vida.” (JAFFÉ,1983, p.96). A integralidade é mais do que a personalidade consciente (ou empírica) fortemente ligada ao complexo do Eu. Jung para trabalhar com uma psicologia do inconsciente precisou criar uma instância que abarcasse não só a psique consciente como o inconsciente- Si mesmo:
(…) o si-mesmo é uma instância que engloba o eu consciente. Abarca não só a psique consciente como a inconsciente, sendo portanto, por assim dizer, uma personalidade que também somos.” (JUNG, 1981c, §274) negritos meus.
Esta “personalidade” que engloba consciente e inconsciente é mais ampla e muito diversa da outra consciente. A definição determinada ou fechada de um tema como personalidade é refutada por ele. Afirma que “(…) é algo de grande e misterioso o que designamos por ‘personalidade. (…) tudo o que se possa dizer sobre ela será sempre singularmente insatisfatório e inadequado (…)” (JUNG, 2013a, O Desenvolvimento da Personalidade, §312). Entretanto, numa das aproximações da noção de personalidade Jung aponta que:
Personalidade é realização máxima da índole inata e específica de um ser vivo particular. (…) é a obra a que se chega pela máxima coragem de viver, pela afirmação absoluta do ser individual, e pela adaptação, a mais perfeita possível, a tudo que existe de universal, e tudo aliado a máxima liberdade de decisão própria. (JUNG,2013a, §289) negritos meus.
Quando Jung discute o tema de como tornar-se personalidade refere que passaria pela capacidade de dizer um “sim” consciente ao poder da “destinação interior” que se lhe apresenta (JUNG, 2013a, §308). Seria “a vida que procura realizar sua própria lei de modo individual, e por isso de modo absoluto e incondicionado (JUNG, 2013a, §310). Como o peso da humanidade e dos costumes eternos levam o vivente a preferir o caminho planejado em direção a metas conhecidas, seria preciso uma força maior que conduzisse alguém a um caminho estreito íngreme e que leva ao desconhecido. Por isso a personalidade eminente surgiria como uma aparição sobrenatural, uma força demoníaca ou um dom divino. Este fator irracional é denominado por Jung como “designação” – “O que cada personalidade tem de grande e de salvador reside no fato de ela, por livre decisão, sacrificar-se a sua designação (…).” (JUNG, 2013a, §308). Seria entregar-se a algo maior do que a consciência que em lendas se atribuem a um demônio pessoal, como uma voz interior que se dirige a pessoa.
Mas, a realização da personalidade deveria estar aliada a vivência da “máxima liberdade de decisão própria” (JUNG, 2013a, §289). É como se o Ego no processo de individuação precisasse ouvir outros, outras vozes, ao menos a voz interior que o leva a um caminho íngreme e desconhecido. O ego passa a ser servidor, a seguir, a ser conduzido por algo maior do que ele. Seria uma atitude voluntariamente assumida que não é conduzida pelo ego, embora o ego esteja presente e não resista, ao contrário, favoreça. Tornar-se personalidade, além de estar associado com a capacidade de dizer um “sim” consciente a designação, deveria estar associada à liberdade na ação pois “(…) somente pela ação é que se torna manifesto quem somos de verdade.” (JUNG, 2013a, §290). Há uma valoração significativa da ação em relação às intenções, desejos, sentimentos ou pensamentos.
A consciência e o ego seriam voluntariamente dirigidos pelo “Self” (Si-mesmo) em seus atos, o que conjugariam um duplo significado tanto pessoal como transcendente, ou seja, o universal e o singular, particular ou pessoal em relação colaboração e não de cisão embate ou oposição. Assim é fundamental a atitude na consciência e a posição do ego no processo de individuação embora este nunca será plenamente alcançado.
O objetivo da individuação, a realização do self, nunca é plenamente alcançado. Devido ao fato de transcender a consciência, o arquétipo do self jamais pode ser inteiramente apreendido, e, devido à sua vastidão, nunca pode ser completamente experimentado. (JAFFÉ,1983, p.84) negritos meus
O tema da liberdade como entrega pode ser visto também quando Jung comenta sobre a imaginação ativa. Refere que é uma forma de síntese que envolve uma atitude “voluntariamente assumida” “(…) uma síntese – sustentada por uma atitude voluntariamente assumida e de resto inteiramente natural – de material consciente passivo e de influências inconscientes, e, portanto, uma espécie de amplificação espontânea dos arquétipos.” (JUNG, 1984, §403. Portanto, embora a ação seja voluntária ela não é conduzida pelo eu e talvez por isso possa ser dito que “de resto inteiramente natural”.
Von Franz acrescenta apontando que o processo começa com uma lesão na personalidade consciente, o sofrimento e a resistência podem acontecer se não houver o reconhecimento do “apelo”:
O verdadeiro processo de individuação – isto é, a harmonização do consciente com o nosso próprio centro interior (o núcleo psíquico) ou self – em geral começa infligindo uma lesão à personalidade, acompanhada do consequente sofrimento. Este choque inicial é uma espécie de “apelo”, apesar de nem sempre ser reconhecido como tal. Ao contrário, o ego sente-se tolhido nas suas vontades ou desejos e geralmente projeta esta frustração sobre qualquer objeto exterior. Isto é, o ego passa a acusar Deus, ou a situação econômica, ou o chefe, ou o cônjuge como responsáveis por esta frustração. (JUNG, O Homem e Seus Símbolos 2008, p.219)
Jung indica que individuação não é “dar ênfase deliberada a supostas peculiaridades, em oposição a considerações e obrigações coletivas.” (JUNG, 1981c, §267) pois isto seria individualismo. Com a individuação não se torna “egoísta”, no sentido usual da palavra, mas procura-se realizar a peculiaridade do ser. Jung alerta que há modos de despojar-se do “si mesmo”, de sua realidade, em benefício de um papel exterior ou de um significado imaginário. Isto pode aparecer como preponderância do coletivo e busca por corresponder a um ideal social o que pode passar por dever social ou virtude, embora possa significar abuso egoísta. “O egoísta (“salbstisch”) nada tem a ver com o conceito de si-mesmo, tal como aqui o usamos.” (JUNG, 1981c, §267). O egoísmo e o individualismo poderiam estar mais próximos do que é descrito como inflação do Ego; uma desmedida deste complexo que “(…) em consequência da inflação, a hybrishumana escolhe o eu, em sua miserabilidade visível, para senhor do universo.” (JUNG, Psicologia e Religião, 1978a, p.92). Ou seja, o complexo do ego (Eu) passa a acreditar que para ter uma vida realizada e bem-sucedida teria que ter as qualidades dos deuses. – Virar Deus ou ser senhor do universo.
Assim, como reflete Magaldi, aquele que:
não aceita e se dirige, conscientemente, em busca do Self (si-mesmo), com o objetivo de integrar o consciente com o inconsciente, nada mais será do que produto cultural. Ele ficará impossibilitado de realizar a si-mesmo e integrar-se, permanecendo apenas como uma persona, que pode ser bem funcional, fruto da adaptação e construção coletiva, desconhecendo quem de fato é! (MAGALDI F, 2007)
Jung (1982, Aion, §125) reflete o quanto a experiência da integralidade pode ser vivida como insuportável (para o ego ou para o estilo dominante na consciência); por isso não haveria objeção à vivência de que a tarefa da individuação e do reconhecimento da totalidade seria algo que a natureza nos impôs de maneira obrigatória. Entretanto afirma que:
Se o indivíduo efetuar isto (processo de individuação) de maneira consciente e intencional, evitará todas as consequências desagradáveis que decorrem de uma individuação reprimida. Isto é se assumir de livre e espontânea vontade a inteireza, não será obrigado a sentir na carne que ela se realiza dentro dele contra a sua vontade, ou seja de forma negativa. (JUNG,1982, §125) negritos meus.
É, portanto, fundamental a atitude na consciência e a posição do ego na realização da personalidade e no processo de individuação que necessariamente envolve uma singular combinação de universais. E, se o Ego e a consciência estiverem, voluntariamente, servindo a realização da integralidade, do self (Si mesmo) estarão a serviço de uma obra que transcende a consciência e no caminho da individuação. Caso contrário ter-se-ia uma “individuação reprimida”.
Dr. Ajax Perez Salvador
Psiquiatra e Membro didáta do IJEP.
Bibliografia
JAFFÉ, Aniela. O Mito do Significado – na obra de C. G. Jung. São Paulo: Cultrix, 1983.
JUNG, Carl Gustav. A Natureza da Psique. Vols. VIII-2. Petrópolis: Vozes, 1984.
-.Ab-reação, análise dos sonhos , psicologia da transferência.Vol. 16/2 OC. Petrópolis: Vozes, 2012.
-.Aion – Estudo sobre o simbolismo do si-mesmo. Petropolis: Vozes, 1982.
-.Energia Psíquica. Vol. 8/1. Petrópolis: Vozes, 2013.
-.Estudos Sobre Psicologia Analítica – Psicologia do Inconsciente e O Eu e o Inconsciente. Petrópolis: Vozes, 1981 c.
-.Fundamentos de Psicologia Analítica. Vol. Vol. XVIII/1. Petrópolis: Vozes, 1983.
-.La psicologia de la transferencia. Buenos Aires: Editorial Paidos, 1978.
-.O Homem e Seus Símbolos. 2ª ed Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008
-.Os arquétipos e o inconsciente coletivo.Vol. IX/I OC.Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2000.
-.O Espírito na Arte e na Ciência. Petropólis: Vozes, v. XV, 1985.
-.O Eu e o Inconsciente. Petrópolis: Vozes, 2001.
-.O Desenvolvimento da Personalidade. 14ª. Vol. 17. Petrópolis: Vozes, 2013a.
-.Psicologia e Religião. Petropolis: Vozes, 1978 a.
-.Psicogênese das doenças mentais. Vol. III. Petrópolis: Vozes, 1999
-.Símbolos da transformação: análise dos prelúdios de uma esquizofrenia. Vol.5 OC Petrópolis: Vozes, 2008.
-.Tipos Psicológicos. Rio de Janeiro: Zahar, 1981a.
MAGALDI F., Waldemar, Apostila de aula – Processo de Individuação, Curso Psicologia Junguiana (IJEP/FACIS). São Paulo, 2007.
O Eu e o Inconsciente
“A ideia de energia não é de uma substância.” (JUNG, Energia Psíquica, 2013, §3) A energia é um conceito abstraído das relações de movimento – a sua base são as relações. As relações produzem efeitos e, portanto, seriam reais sem precisar de substâncias. Diferente do ponto de vista mecanicista “(…) é meramente causal, e compreende o fenômeno como sendo o efeito resultante de uma causa, no sentido que as substâncias imutáveis alteram as relações de umas para com as outras segundo leis fixas.” (JUNG, Energia Psíquica, 2013, §2)
Quando Jung fala do “problema das atitudes típicas na estética nos Tipos Psicológicos diz que (…) diante da quantidade impressionante e estonteante de objetos animados, o homem criaria para si uma abstração. “isto é, uma imagem abstrata universal em que limita as impressões numa forma fixa. Esta imagem tem o significado mágico de uma proteção contra a mudança caótica da vivência.” (JUNG, 1991b, Tipos Psicológicos, p.285). E, por fim, o homem mesmo pode tornar-se uma abstração. “Ohomem mergulha tão profundamente e nela (abstração) se perde que, ao final, coloca sua verdade abstrata acima da realidade da vida, e a vida, que poderia estorvar o gozo da beleza abstrata, é de todo reprimida. Ele mesmo se torna abstração, ele se identifica com o valor eterno de sua imagem e nela se fixa, porque se transformou para ele em fórmula redentora. Renuncia, desse modo, a si mesmo e transfere sua vida para sua abstração na qual, de certa forma, fica cristalizado.” (JUNG, 1991b, Tipos Psicológicos, p.285). A atitude empática tem sua base no significado e força mágicos do objeto e também cria. Sujeito se apoderara do objeto mediante uma identificação mística; a atitude empatizante ao trazer para dentro do objeto a atividade e vida do sujeito, ao se entregar ao objeto este se tornaria objeto; se identifica com o objeto e, portanto, sai de si mesmo. Ao empatizar a vontade de agir em um “outro” (objeto) se liberta do ser individual, abrindo a compulsão interna da experiência para um objeto externo pode-se sentir a individualidade “fluir para limites estreitos, em oposição à diferenciação ilimitada da consciência individual.” (JUNG, 1991b,Tipos Psicológicos, p.285).
O tema do “outro” surge quando “a aparente unidade da pessoa que declara com firmeza: “eu quero, eu penso etc., se racha e se dissolve como consequência do choque com o inconsciente” (JUNG, 1978, p.60). O Eu aparece como apenas um dos complexos e não o fundamento do que se é. A unidade que emerge não é o Eu anterior em sua ficção, senão que um outro que é designado por si-mesmo. Uma unidade que nunca perde o sentimento doloroso de sua natureza dual.
É interessante que ao se entregar ao “outro” (ao se tornar objeto), ao sair de si (ou do que a consciência vive subjetivamente como sendo eu) é que pode haver uma libertação do ser individual. Ao perder-se na autorenúncia é que se poderia ter uma forma de liberdade que não é fazer apenas o que o Ego deseja, mas de estar livre para não ter que ser dominado imperativamente só pelo complexo do Ego.
Nesta perspectiva os homens não seriam “naturalmente” egoístas, como faz pensar o filósofo Thomas Hobbes na celebre frase “O homem é o lobo do homem”, mas pode-se dizer que a consciência dominada por unilateralidades, pela força dos hábitos configurado nos complexos, pode tornar o homem “naturalmente” ou habitualmente, parcial e unilateralizado.
Valor da ação aparece em “Psicologia da Transferência” quando afirma que ohomem só apareceria como totalidade vivente e como unidade no ato! “O entusiasmo, a continuidade, e o executar dão origem à ação e é só nela que o homem aparece como totalidade vivente e como unidade.” (JUNG, 2012, §407) negritos meus. O ato como resultado de impulso, sucessão e realização e como o resultado de um evento que abarca a totalidade anímica.
“À primeira vista não se sabe como funciona este inconsciente, mas como se trata, supostamente, de um sistema psíquico, provavelmente contém todos os elementos que integram a consciência, tais como a percepção, a apercepção, a memória, a fantasia, a vontade, os afetos, os sentimentos, a reflexão, o julgamento, etc, mas tudo isto sob forma subliminar. NR citando Lewes Há muitas ações involuntárias de que temos consciência clara, e muitas outras ações voluntárias de que às vezes estamos apenas subconscientes ou inconscientes. Da mesma forma que o pensamento, que se processa ora de forma inconsciente, ora de forma consciente, é essencialmente o mesmo pensamento… assim também a ação que ora é voluntária ora involuntária, é essencialmente a mesma ação.” (JUNG,1984, §362)
O termo “Natural” pode significar fluxo sem inibição como é descrito na formação de um hábito onde no início o afeto sofre “grandes inibições e depois de várias repetições a reação se dá prontamente a partir de um pequeno impulso, devido à diminuição da inibição.” (JUNG, 1999, p.80). “Natural” pode ser também aquilo que trabalha sem esforço como quando Jung trata do pensamento fantasia; comparando as duas formas de pensar: “pensar dirigido ou lógico e o sonhar ou fantasiar.” (JUNG, 2008, p.15). Onde “O primeiro trabalha com a comunicação, com elementos linguísticos, é trabalhoso e cansativo; o segundo trabalha sem esforço, por assim dizer espontaneamente, com conteúdos encontrados prontos e é dirigido por motivos inconscientes.” (JUNG, 2008, p. 15)